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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Governo entre bets e grau de investimento: contradição entre capital e trabalho

O governo prepara-se para, nos próximos dias, regularizar os jogos de azar

Divulgação

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No cenário da luta de classe, no Brasil, acirrada pela financeirização econômica especulativa, que polariza, violentamente, capital e trabalho, o governo prepara-se para, nos próximos dias, regularizar os jogos de azar, que estão levando a população à loucura e à dependência psicológica total, envolvendo, até, crianças.

Os especialistas em jogatina estimam que ela está gastando R$ 10 bilhões por mês em apostas e jogos de azar.

O Banco Central já fala em R$ 20 bilhões.

Ou seja, trata-se de gastos anuais da ordem de R$ 100 bilhões a R$ 120 bilhões.

É dinheiro que deixa de ir para o consumo, que gira a economia, emprego, renda, arrecadação e investimento – o silogismo capitalista – para ser jogado no ralo.

Quem fatura é a banca do governo que usa esse dinheiro para pagar a sua maior despesa, isto é, cerca de R$ 800 bilhões em juros e amortizações da dívida pública, rodada à taxa de juro Selic de 10,75% ao ano, uma das maiores do mundo, sem nenhum ganho para a população.

Em síntese, a jogatina de azar e a despesa financeira pública consomem R$ 900 bilhões/ano, inviabilizando crescimento econômico sustentável, como reconhece o presidente Lula, mais incomodado com esse processo social desagregador.

É nesse contexto que o governo acaba de conquistar grau de investimento, conforme agência Moody 's de investimento de risco, que favorece, teoricamente, os interessados em expandir seus investimentos na economia, cujo PIB, segundo cálculos oficiais, pode crescer em torno de 3% em 2024.

No geral, tal cenário guarda ou não contradições explosivas, em face do crescimento da desigualdade social, marcada pela prática de juro bem acima do crescimento da inflação e do PIB?

JOGATINA REDUZ DÉFICIT PRIMÁRIO

Gasto com Bets vai se revelando como redução de déficit primário (receita menos despesa, exclusive serviço financeiro), que combate a inflação, mas sufoca, contraditoriamente, economia por falta de consumo, que afeta arrecadação e pagamento de juros e amortização da dívida.

Portanto, quanto mais o povo aposta, mais perde para a banca, não privada, mas a do governo, em forma de arrecadação, que repassa, por sua vez, aos seus credores da dívida, pagando juros e amortizações.

No fundo, é uma sangria que, ao reduzir consumo e diminuir atividade produtiva, transfere renda para os especuladores.

De redução em redução do déficit primário, que contribui para diminuir a inflação, acelera-se a fragilidade das empresas que ficam sem consumidores.

A reação delas, nesse cenário, é a de tentar garantir sobrevivência: diminuem a oferta, para elevar preço e sustentar taxa de lucro constante, enquanto tentam obter subvenções fiscais por meio de lobbies poderosos no Congresso.

A redução da oferta frente à demanda, afetada pela jogatina, produz, por sua vez, inflação, inflação, dessa vez, não de demanda sobre a oferta, mas da oferta sobre a demanda.

Há uma crescente combinação perversa de insuficiência de demanda-consumo, de um lado, por conta da redução da renda disponível, e, de outro, de oferta, decorrente da redução da produção, na tentativa de se produzir escassez para manter constante taxa de lucro.

Caem, simultaneamente, demanda e oferta, que, ao combater a inflação, jogam a economia no seu oposto, a deflação – “o erro eterno”, segundo John Maynards Keynes, em “Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro: Inflação e Deflação”.

VITÓRIA DE PIRRO

Quem, nesse cenário, consegue preservar seu emprego, vê seu salário aumentar mais que inflação.

Porém, trata-se de vitória de Pirro – não dura muito tempo.

Quem vai garantir salário crescendo acima da inflação cadente, materializando-se em perigo de deflação, se com a combinação de aumento da insuficiência, tanto da demanda, como da oferta, perde-se o que é essencial no capitalismo, isto é, a formação do lucro do investidor?

O diagnóstico econômico fundamental se caracterizaria, aos olhos dos investidores, em insuficiência de consumo ou de investimento?

Frente a esse contexto, agências de risco consideram equivocadamente a economia em estado ótimo para investir ou desinvestir, se o poder de compra – para quem está empregado – se encontra em seu nível ascendente frente ao perigo de deflação, cuja estabilidade é temporária?

As reformas neoliberais, pelas quais a economia tem passado, desde o golpe neoliberal de 2016, produzem o resultado positivo para os empresários do ponto de vista da redução dos custos de produção, com destaque, para os gastos com salários.

Porém, do ponto de vista do todo, a economia em sua macro dinâmica essencial, deixa de sustentar taxa de lucro satisfatória, capaz de levar o empresário ao investimento.

A propensão dos capitalistas, portanto, passa a ser a de reduzir a produção, para elevar a escassez relativa da oferta, de modo a elevar lucro frente à demanda cadente, enquanto se descola da produção para a bolsa, a fim de ganhar na especulação.

MASSA SALARIAL SOBE, PODER DE COMPRA DESCE

As reformas neoliberais elevam a massa salarial, sem dúvida, diante da redução do custo de contratação de mão de obra, mas, em contrapartida, desvalorizam o poder de compra, em termos totais.

Do ponto de vista individual, do empresário, ele ganha mais com redução do custo operacional.

Já do ponto de vista do todo da economia, haverá redução de renda disponível para o consumo, configurando contradição dialética entre a parte e o todo.

As agências de risco, frente a esse fenômeno capitalista contraditório, consideram o risco cadente expresso em inflação declinante e em deflação ascendente, no cenário de juro alto, como arma contra alta de preços.

Tendem a conceder, como acontece agora, grau de investimento às economias que cumprem as regras neoliberais.

Mas, os investimentos se realizarão diante da insuficiência contraditoriamente combinada de consumo e de oferta, se o poder de compra da população cai, embora a massa salarial suba?

R$ 900 BI VÃO PARA O RALO

A proliferação das Bets, que levam a população viciada à jogatina irrefreável para encher as burras dos especuladores, gastando cerca de R$120 bilhões, que jamais retornarão à economia em forma de consumo, contribuem ou prejudicam a economia?

Levará ou não ao desenvolvimento sustentável?

Produzirá ou não popularidade ao governo, para se sustentar democraticamente?

Acrescente-se a esse desperdício de R$ 100 bilhões, outros R$ 800 bilhões em gastos em juros e amortizações da dívida – outra jogatina muito mais prejudicial à economia – que o arcabouço neoliberal está produzindo, anualmente, para se indagar:

1 - a “conquista” do grau de investimento, assim, como a valorização equivocada do poder de compra dos felizardos trabalhadores que conseguem ficar empregados em tempo de inflação cadente frente aos juros altos, pode ou não ser o resultado capaz de garantir sucesso ao governo frente à população crescentemente empobrecida?

2 - fortalece ou não a expectativa de vitória eleitoral em 2026?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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