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    Armínio Westermann

    Analista político

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    Hoje, Mantega errou e Ciro acertou

    Guido Mantega (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

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    Guido Mantega -- e, por extensão, quem aprovou o texto -- falhou hoje na primeira exposição "oficial" do programa econômico da candidatura Lula.

    Em artigo na Folha, ao apresentar um cenário de catástrofe referindo-se ao governo Bolsonaro -- repetindo, desastradamente, o lugar-comum, ainda que válido, da "herança maldita" -- o ex-ministro da fazenda não fez mais do que chover no molhado.

    Se o diagnóstico da situação atual servisse de preambulo para propostas concretas, não haveria problema. Mas após uma longa sequência de entradas, o leitor descobre que o prato principal não será servido. 

    Quando já se antevia a chegada do filé, Mantega começa a recolher os talheres e, tirando da cartola um coelho surrado, pede às "forças democráticas" que elaborem um "programa de desenvolvimento econômico e social para a reconstrução do país".

    Mais adiante, tentando ao menos apresentar as supostas linhas mestras desse hipotético plano, fala em gerar "muitos empregos", em "aumentar a produtividade" e em "simplificar" o sistema tributário, sem descuidar da inflação e "sem esquecer" -- esse é talvez o ponto mais baixo do texto -- questões climáticas e ambientais.

    Ciro Gomes foi preciso ao descrever o texto como um arremedo de "carta ao povo brasileiro" (a referência ao controle da inflação) e "nacional-desenvolvimentismo de araque" (basicamente, a referência à "retomada de políticas industriais e as de investimento tecnológico").

    O texto de Mantega, a despeito das qualidades inegáveis do autor, é uma compilação mal acabada de lugares-comuns, que está longe de representar a riqueza teórica e prática da experiência petista no governo.

    Ademais, o texto não apresenta qualquer indício de "auto-crítica" no sentido positivo da palavra, isto é, não diz de que forma o terceiro governo Lula será melhor dos que os governos petistas anteriores.

    Como disse Ciro Gomes, novamente com acerto, Mantega não oferece "mais do mesmo", mas "menos do mesmo".

    Isso -- sobretudo como ponta pé inicial da campanha de Lula à presidência -- é inaceitável. O PT dispõe de quadros capazes de formular de forma muito mais incisiva e apurada o que é necessário fazer a partir de 2023.

    A exibição improvisada de Mantega deve servir de alerta. O PT é hoje o principal agente do processo civilizatório no Brasil. Se o partido falhar, não há outra instituição capaz de levar adiante o longo processo -- já vão dois séculos -- de "descolonização" e de eliminação da herança do escravismo -- como modelo de organização das relações de trabalho, muito mais do que das relações raciais -- no Brasil.

    Tanto mais num cenário de explícita censura a Lula por parte da "grande" imprensa, cabe ao PT aproveitar todas as oportunidades que surgirem para mostrar ào grande público, de forma competente, seu "projeto de país".

    Se o objetivo é ganhar no primeiro turno, é preciso vencer praticamente todas as partidas. O PT está sendo observado de lupa e simplesmente não pode errar.

    Hoje, na crítica apurada a Mantega, Ciro fez lembrar porque já foi considerado um quadro importante no campo progressista.

    Dito isso, mais vale uma boa crítica vinda "de fora" do que um elogio complacente vindo de dentro.

    Quiçá seja esse o início de um efetivo diálogo entre as "forças democráticas" em prol da reconstrução do Brasil. Se é possível agregar Alckmin, deve ser ainda possível ao menos conversar com Ciro. 

    Lula tem dado inúmeras provas de grandeza histórica. Alckmin flerta com a grandeza. O que fará Ciro? Em momentos críticos, o destino bate à porta de todos.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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