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    Luis Cosme Pinto

    Luis Cosme Pinto é carioca de Vila Isabel e vive em São Paulo. Tem 63 anos de idade e 37 de jornalismo. As crônicas que assina nascem em botecos e esquinas onde perambula em busca de histórias do dia a dia.

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    Hora do voto

    Em muitas cidades brasileiras será impossível eleger uma prefeita

    Urna eletrônica (Foto: Agência Brasil)

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    A mais rica e mais populosa de nossas cidades vai ser governada por um homem por mais quatro anos. É tão certo como a praça da Sé estar no centro de São Paulo. Os quatro favoritos ao gabinete do viaduto do Chá são do sexo masculino. 

    Não é só aqui. 

    No Rio de Janeiro, três marmanjos estão na frente. 

    Em Belo Horizonte, entre os oito primeiros só há uma mulher.

    Preste atenção, essas três capitais são de estados comandados por homens. Se um dos três governadores for preso ou ficar doente, será substituído - adivinha - por outro homem, porque os vices também são machos. Assim como o presidente da república e seu vice. E também o presidente do senado e o da câmara federal. 

    Na política, como na vida, nada é tão ruim que não possa piorar. 

    Em João Pessoa e Fortaleza, simplesmente não há candidatas às prefeituras, assim como em Guarulhos, a segunda cidade mais populosa de São Paulo. Só homens estão na disputa.

    Fiquei envergonhado, como eleitor e cidadão, ao ver o placar das candidaturas em outras capitais. 

    Florianópolis, 9 homens x 0 mulher. Rio Branco, 4 x 0. Cuiabá, 4 x 0. Boa Vista, 4 x 1. Salvador, 6 x 1. Belém, 7 x 2. 

    Manaus, com seus 2 milhões de habitantes, nunca teve uma prefeita e continuará sem. Os 7 candidatos são homens.

    Qual a explicação pra isso? 

    Uma amiga me alertou: o nome é “machismo eleitoral”. Homens, em geral brancos, ricos e preconceituosos, comandam a maioria dos partidos e suas verbas bilionárias. Não admitem mudança.  

    Outra eleitora chama de “estupro político”. Assustado, fiz as contas e mais assombrado fiquei. Por enquanto, nas seis capitais em que não há mulheres na disputa pela prefeitura, os pretendentes somados são 39. 39 homens e ZERO mulheres!

    Como aceitar uma discriminação dessas em um país em que as mulheres são mais da metade da população?

    Para os cargos parlamentares há exigência de cota mínima, Os partidos são obrigados a inscrever uma certa quantidade de candidatas. Mas várias fraudes comprovam como a combinação de machismo e corrupção burlou a lei e indicou candidatas fantasmas.

    Para nossa sorte existe um outro Brasil. Um país real, este sim, governado por mulheres. São elas que fazem e acontecem. Em casa e nos escritórios; também nas empresas, nas escolas, nos hospitais, nas cozinhas. As mulheres são maioria, exceto na política e em alguns outros postos privilegiados. 

    A Economia, a Educação, a Saúde, não as dos gabinetes, mas as dos nossos lares estão com elas. As mulheres cuidam do futuro do Brasil e também do presente. Assumem a família, às vezes até a do vizinho, cuidam dos maridos e também dos parentes mais velhos. Trabalham mais, ganham menos.

    Mulheres são mais pacíficas, cometem menos crimes, são menos corruptas. Costumam ler mais, são maioria nas sessões de cinema, teatro, nas exposições. Isso quer dizer que, em média, têm mais vontade de aprender. São mais curiosas.

    Porém, nada é simples na política, em especial na brasileira. Eleger mais mulheres não significa, necessariamente, que o país vai melhorar, porque existem prefeitas, senadoras e deputadas oportunistas, assim como existem as bem preparadas e dispostas a fazer o melhor. Escolher certo é o desafio para melhorar a representatividade e a qualidade da política. 

    Ter mais mulheres no poder é indispensável e vai transformar o Brasil. Questão de justiça. 

    Aliás, o STF, o tribunal maior, tem 11 cadeiras. 10 são dos excelentíssimos magistrados, sobra uma para a ministra Cármen Lúcia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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