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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Lady Tempestade

Lady Tempestade é quase um espetáculo didático, uma aula de História sobre o que vivemos e que não podemos mais permitir que se repita, escreve Miguel Paiva

Andrea Beltrão (Foto: Divulgação)

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Que a Andréa Beltrão é uma atriz de primeira eu já sei há muito tempo. Fizemos juntos o Radical Chic, programa da Globo que antes do tempo inovou trazendo os esquetes da personagem e o game-show com Maria Paula. Andréa me emocionou a primeira vez que a vi personificando a radical. Era perfeita. Os gestos, a expressão, o olhar e o humor. Foi uma maravilha. Depois a acompanhei em quase todos os papéis na TV, no teatro e no cinema. Semana passada fui ver Lady Tempestade que ela estava encenando no Teatro Poeira no Rio de Janeiro e que deve voltar depois da novela que ela vai fazer na Globo. 

A experiência de ver Andréa fazendo Lady Tempestade foi inesquecível. Andreia vai conquistando a plateia lentamente, de modo natural, quase como um bate papo na sala de casa. Mas esse clima é logo substituído pela história de Mércia Albuquerque, a personagem principal da peça. Mércia foi a advogada mais atuante de presos políticos no Nordeste. Mãe, dona de casa, mas convicta de suas ideias, exerceu uma luta quase que de vida pela dignidade, civilidade e soltura dos presos pela ditadura militar. Mércia deixou um diário que Andréa transformou em espetáculo.

O que Andréa faz com a história de Mércia é maravilhoso. Ela contou com o auxilio luxuoso de Silvia Gomez na dramaturgia e de Yara de Novaes na direção. Juntas elas criaram um espetáculo comovente, seco, emocional e revelador. Primeiro pela história dessa mulher incrível que morreu em 2006 e batalhou pela vida dos presos políticos no período da ditadura e depois pelo espetáculo moderno e contundente. O público é levado a entrar neste universo de modo brusco na primeira intervenção sonora da invasão policial à casa de Mércia e depois, pelos relatos sobre os presos, torturados e mortos que queremos que nunca mais volte. 

A peça acaba funcionando também como um recado, uma mensagem sobretudo ao público, que não podemos mais aturar esse tipo de vida. Temos que preservar nosso direito à felicidade defendendo a democracia e nos colocando contra o sofrimento e crueldade que já existiram historicamente há um certo tempo, mas que ainda sobrevive, e nos ameaçou mais recentemente.

Lady Tempestade acaba funcionando como uma mensagem forte e decidida sobre o futuro. Revendo o passado, temos como evitar novos sofrimentos no futuro e que os arautos da liberdade que se manifestam livremente na democracia que querem destruir devem ser neutralizados para que possamos viver felizes e em paz. Lady Tempestade é quase um espetáculo didático, uma aula de História sobre o que vivemos e que não podemos mais permitir que se repita.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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