TV 247 logo
Davis Sena Filho avatar

Davis Sena Filho

Davis Sena Filho é editor do blog Palavra Livre

678 artigos

HOME > blog

Lava Jato: conspiração e política rasteira

A democracia brasileira está a confundir liberdade com libertinagem, e foi o que aconteceu nos episódios relativos ao juiz Sérgio Moro e os delegados da PF, que se partidarizam e passaram a fazer política em favor do candidato Aécio Neves

A democracia brasileira está a confundir liberdade com libertinagem, e foi o que aconteceu nos episódios relativos ao juiz Sérgio Moro e os delegados da PF, que se partidarizam e passaram a fazer política em favor do candidato Aécio Neves (Foto: Davis Sena Filho)

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Então é assim que a banda toca entre policiais, juiz e políticos no Paraná, quando se trata da Operação Lava Jato: o juiz federal, Sérgio Moro, vaza os depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a duas semanas das eleições presidenciais e se torna o eleitor tucano mais influente do Brasil naquele momento, pois não é compreensível e muito menos prudente e aceitável que um funcionário público, com responsabilidades republicanas tente influenciar em uma eleição, de forma que o peso da balança penda para o lado do PSDB. E foi o que aconteceu, sem sombra de dúvida.

Além disso, juntamente com o juiz, servidores públicos da Polícia Federal do Paraná, que ocupam cargos-chave na instituição se deram ao direito de fazer campanha política em prol do candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves, da forma mais desrespeitosa possível, sem discernimento das realidades do País e de seu povo, a surpreender a alienação política desses policiais, bem como a virulência e o deboche de suas publicações, que não condizem com tais empregados do público, que deveriam, no mínimo, resguardar suas posições e cargos, além de guardar suas opiniões, que não interessam à sociedade brasileira, para a hora das urnas ou em momentos privados de suas vidas.

O delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado; a delegada Erika Malik, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Desvios de Recursos Públicos; o delegado Márcio Anselmo, que coordenou a operação que prendeu o doleiro Youssef, além de mais três, que "trabalham" no mesmo "ramo", bem como o delegado Maurício Grillo, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Organizados. Todos são subordinados ao superintende da PF do Paraná, delegado Rosalvo Franco.

Como todo mundo sabe, até os recém-nascidos, o Estado do Paraná é uma unidade da Federação politicamente conservadora, onde há muitos anos o senador Álvaro Dias e o governador Beto Richa têm vencido eleições. Os dois políticos são partes importantes do PSDB e fazem uma oposição cerrada e sistemática aos governos trabalhistas, que em outubro derrotaram pela quarta vez os tucanos em eleições presidenciais.

Álvaro Dias, o senador, transformou-se em porta-voz e replicador da imprensa de mercado, sendo que após as reportagens de fim de semana veiculadas pela Veja, Época, IstoÉ, Jornal Nacional e Fantástico, da Rede Globo, tal político de direita passa, no decorrer da semana, a repercutir as matérias dos jornalões, a exemplo de O Globo, Estadão, Folha, Correio Braziliense e Zero Hora, dentre outros menos abrangentes em termos nacionais.

A Superintendência da PF do Paraná e o juiz federal, Sérgio Moro, dão a impressão que estão ligados, umbilicalmente, ao PSDB paranaense e resolveram dar uma "mãozinha" à candidatura de Aécio Neves. E por que a crítica a essa ação? Porque não é plausível e sensato "virilizar" na internet e nas mídias comerciais e privadas depoimentos em segredo de justiça conseguidos por intermédio da delação premiada, que, evidentemente, trata-se de acordos entre criminosos e a Justiça, de forma que a pessoa que delatou vai receber do Judiciário benefícios para serem diminuídas suas penas.

A ruptura do segredo de justiça e da delação premiada são fatos ilegais e se tornam ainda mais visíveis quando esse processo daninho aos interesses do Brasil é efetivado em plena campanha eleitoral, a mais acirrada da história republicana deste País, em tempos de democracia, pois prejudicou a candidatura da petista Dilma Rousseff, que, além de ter de enfrentar o PSDB e a imprensa de negócios privados, ainda se tornou alvo de servidores públicos pagos pelo contribuinte. Policiais e juiz que usaram seus cargos influentes para atacar o líder petista, Luiz Inácio Lula da Silva, bem como tentaram desmoralizar e desqualificar a presidenta do Brasil.

E como esse processo draconiano foi realizado? Respondo: Por intermédio de facebook "privado" chamado de "grupo fechado", como tantos outros que existem nessa rede social, cujos integrantes são delegados e agentes da PF do Paraná e também de outros estados, além de, evidentemente, como já foi dito, por meio do vazamento dos depoimentos de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa concedidos ao juiz Sérgio Moro, autoridade responsável pela Operação Lava Jato.

Sempre afirmei que o Ministério da Justiça deveria ser a instituição republicana mais importante da Nação — do País. Mais importante do que o Ministério da Fazenda, e abaixo da Presidência da República. O ministro da Justiça, juntamente com o da Casa Civil, deveria ser o responsável por fazer a interface política e pragmática do Governo Federal com o Congresso, com a sociedade e com todos os poderes constituídos, governamentais ou não, sejam quais forem os governantes, seus partidos e ideologias.

Acontece que a democracia brasileira está a confundir liberdade com libertinagem, e foi o que aconteceu nos episódios relativos ao juiz Sérgio Moro e os delegados da Polícia Federal do Paraná, que se partidarizam e passaram a fazer política em favor do candidato Aécio Neves, como bem retrata o facebook "fechado" desses policiais, que se aventuraram além de suas influências e poderes, bem como trataram com escárnio o processo político e democrático brasileiro, porque, nas condições de servidores públicos, atacaram a presidenta da República, Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e desqualificaram o ex-presidente Lula através da desconstrução de sua imagem.

Logo os dois presidentes que mais realizaram operações da Polícia Federal, os que mais combateram a corrupção, os que mais afastaram e demitiram servidores corruptos, os que mais prenderam malfeitores nos setores públicos e privados, os que mais realizaram concursos públicos para a PF, os que mais instrumentalizaram e deram estrutura para que os policiais pudessem agir para realizar seus trabalhos e os que aumentaram o efetivo e melhoraram os salários desses servidores tão importantes para a segurança do Brasil, conforme os índices, os números e os dados do Ministério da Justiça e da própria PF. Quem duvida, que vá pesquisar nos sites dessas instituições.

As críticas deste articulista aos policiais e ao juiz federal não são referentes ao trabalho deles no que diz respeito à investigação, repressão e prisão de criminosos. Critico, sobretudo, a utilização das ações dos policiais e do juiz no que tange a politizar e partidarizar o combate ao crime para favorecer, sim, a candidatura tucana de Aécio Neves, com o conhecimento de políticos influentes do Paraná, que, por coincidência, são do PSDB.

Os ataques de policias com postos de mando, em facebook "fechado", cujos participantes são homens e mulheres que têm acesso a documentos, provas materiais e depoimentos do caso Lava Jato é um acinte, um deboche à sociedade brasileira, bem como se trata de uma ilegalidade que remonta aos tempos da ditadura, quando agentes do Estado faziam o que bem entendiam, pois agiam fora da lei, como tivessem o direito de delinquir porque passou em um concurso público ou porque conseguiu ascender a cargo de poder dentro de suas instituições.

O que aconteceu é o fim da picada. O ministro da Justiça, José Cardozo Alves, tem de tomar uma atitude republicana, afastar esses policiais federais da Lava Jato e nomear outros para seus lugares, bem como o juiz Sérgio Moro deveria, no mínimo, ser questionado e investigado pela Corregedoria da Justiça Federal. Servidor público, ainda mais quando se trata de graduado, não pode fazer proselitismo político enquanto trata de questões sérias, a exemplo da Lava Jato, em plena campanha eleitoral. Realmente, tais servidores deveriam passar por um processo de ajuizamento e, quiçá, de discernimento, além de responderem, obviamente, pelos seus (maus) atos. A Lava Jato não pode se transformar em conspiração e política rasteira. É isso aí.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: