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    Jeferson Miola

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    Lições da Frente de Todos da Argentina que devem ser aprendidas

    "Cristina reatou a relação política com Alberto Fernández e importantes setores peronistas, de quem havia se afastado anos antes; promoveu um amplo diálogo com os setores políticos e sociais progressistas e da esquerda argentina; construiu uma ampla unidade programática anti-neoliberal do peronismo", constata o colunista Jeferson Miola

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    A eleição de Alberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner [CFK] para a presidência da Argentina foi tecida bem antes da vitória consagradora prenunciada nas primárias partidárias [PASO] em 11 de agosto e confirmada nas urnas em 27 de outubro.

    É indiscutível que Alberto Fernández, com seus inegáveis méritos e atributos políticos e pessoais, foi decisivo para a vitória da Frente de Todos. Mas é preciso destacar, entretanto, o papel desempenhado por Cristina Kirchner – em tempo e forma – na pavimentação do caminho que propiciou a vitória social, política e eleitoral da Frente de Todos.

    Com inteligência estratégica e sensibilidade política, Cristina renunciou ao protagonismo principal – e legítimo – que seria esperável dela. Mesmo tendo a primazia de postular sua candidatura presidencial, CFK abdicou desta prerrogativa e concebeu a fórmula eleitoral que, ao fim, se tornou vitoriosa.

    Ainda em fevereiro de 2018 Cristina soube decifrar como poucos, e com apreciável antecedência, o dilema fundamental da eleição na Argentina que ocorreria mais de ano e meio depois: se “Con Cristina no alcanza, sin ella no se puede”.

    Os desdobramentos são conhecidos: Cristina reatou a relação política com Alberto Fernández e importantes setores peronistas, de quem havia se afastado anos antes; promoveu um amplo diálogo com os setores políticos e sociais progressistas e da esquerda argentina; construiu uma ampla unidade programática anti-neoliberal do peronismo para interromper o maior saqueio e roubo das finanças da história do vizinho país [aqui e aqui] e, golpe de mestre, ofereceu-se para ser vice – e não a cabeça da chapa – de Alberto Fernández.

    O resultado desse movimento magnânimo de CFK foi uma unidade inaudita de praticamente todos setores anti-neoliberais e progressistas do país numa frente eleitoral comum, inclusive com lista parlamentar única para a eleição ao Congresso Nacional. Uma unidade que emprestou o sentido de vitória popular para impedir a restauração neoliberal na sua etapa mais sanguinária.

    A Frente de Todos congregou todas famílias peronistas, reuniu as mais relevantes organizações e movimentos populares e todas centrais sindicais. Uniu o progressismo, a intelectualidade, artistas argentinos e os segmentos de esquerda de vários matizes.

    O setor da esquerda [sectária] que optou sair com candidatura própria, provou o gosto amargo de não compreender o momento histórico: viu sua votação diminuir 30% em relação à obtida na eleição presidencial anterior [2015], em que Nicolás Caño, do PST, fez 3,08% dos votos. Em 2019, a votação dele desabou para 2,1%.

    A esquerda de Porto Alegre precisa apreender a lição da Frente de Todos da Argentina – tanto em relação aos tempos políticos para fazer as escolhas estratégicas nos tempos adequados, como também em relação à forma e ao conteúdo político a ser apresentado ao povo porto-alegrense.

    A definição da candidatura comum e unitária da esquerda e do progressismo em Porto Alegre é urgente; deve ser viabilizada imediatamente, sem artificialismos ou particularismos.

    Uma tendência nunca antes vista no PT da cidade, que é o maior partido da esquerda do Brasil e que governou exitosamente por 4 vezes Porto Alegre e 2 vezes o Estado do Rio Grande do Sul, parece não estar sendo bem apreciada pelos parceiros preferenciais e potenciais aliados do PT como o PCdoB, o PSOL e o PDT que, juntos, se opõem aos governos bolsonaristas de Bolsonaro, Leite e Marchezan Júnior.

    Apesar da prerrogativa legítima de apresentar candidatura própria em Porto Alegre – que, aliás, tem sido vivamente reivindicada por Lula –, o PT municipal entende, apesar disso, que sua melhor contribuição para interromper o projeto ultraliberal e fascista do tucano Marchezan Júnior na Prefeitura é compor como vice da Manuela.

    Um nome aventado é o do Miguel Rossetto, um dos quadros políticos mais qualificados e experimentados do partido e que fez 23% dos votos na cidade na eleição de 2018, quando disputou como candidato ao governo do Estado.

    Se, parafraseando CFK, só com o PT a vitória da esquerda e do progressismo é difícil, embora não impossível, é ainda mais evidente que sem o PT as chances da esquerda e do progressismo se esfumaçam totalmente.

    As eleições de 2016 para a Prefeitura, e de 2018 para o governo estadual, mostraram que a esquerda pode se apresentar com várias candidaturas viçosas e empáticas entre si no 1º turno, porém nenhuma delas consegue chegar ao 2º turno. A política se torna, assim, a arena da disputa inter-oligárquica, conservadora.

    A esquerda e o progressismo de Porto Alegre nunca estiveram tão perto de construir uma Frente de Todos Porto-alegrenses contra o fascismo e contra o ultra-liberalismo como neste momento.

    É hora da estratégia e da razão política superior prevalecer.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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