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Marcela Canéro

Jornalista formada pela FACHA, com Especialização em Movimentos Sociais pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da UFRJ. Áreas de atuação: Cultura, Políticas Públicas e Direitos Humanos.

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Luisa, Chico e a comunicação afetiva

Toda comunicação, para ter bom resultado, precisa criar vínculo afetivo com o público. A humanização é parte fundamental da construção de uma imagem

Cantora Luísa Sonza (Foto: Reprodução/TV Globo )

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De anteontem para hoje, o romance entre Luisa Sonza e Chico Moedas virou pauta central nas redes sociais e na imprensa. O casal, que havia recém-começado um romance com direito a trilha sonora própria, passou por uma reviravolta envolvendo traição, bares, banheiros e afins. Eu mesma estava cantando “Chico” há semanas e, de alguma forma, me envolvi afetivamente com a situação. E como não? Analisar o caso sob a perspectiva da comunicação me trouxe até este texto aqui. E vamos lá. 

Não vou entrar no mérito das teorias que questionam se a “história de Luísa e Chico” não passa de uma grande jogada de marketing, mas sim, de como a comunicação afetiva é estratégica e assertiva. Minha intenção é avaliar friamente os movimentos no que tange o campo das mídias. A começar, Sonza lançou seu novo álbum recentemente, que inclui a romântica música “Chico”. A letra ganhou imensa repercussão após a viralização do vídeo em que ela canta do palco, olhando para ele, e Chico reage de forma “fofa”, retribuindo o carinho. A internet caiu, todos queriam Chico e Luísa, a música ficou entre as mais tocadas no Brasil; nas redes sociais, uma avalanche de reproduções. Ali, todo mundo amou o amor. 

A discussão se a letra era Bossa Nova ou não, se os solteiros sobreviveriam a tanta demonstração de afeto, entre outras, geraram entretenimento e conteúdos diversos nas mídias. Ressalto o quanto Luísa foi assertiva no método: a canção entra em um estilo em que até então ela não atuava, cita e demarca territórios, como o Bar da Cachaça, a Lapa, historicamente reduto de boêmios, artistas e formadores de opinião. Além disso, a música, em seu potencial comunicativo, entrega outro grande ouro: a insegurança dos sentimentos. Essa insegurança deixa Luisa (enquanto protagonista da letra) vulnerável, comum, gente como a gente. Humaniza a artista por trás do microfone. Por que, afinal: e se Chico não quisesse? Sofreríamos todos nós que sorrimos ao assistir o vídeo que “lançou” a música? 

Essa é uma trama muito envolvente, principalmente se analisarmos o fato de que o maior desafio de todos que estão nessa “sociedade do espetáculo” é ter um bom alcance midiático, sem parecer produzido, artificial, engessado. A expectativa, a melancolia, a decepção, as lágrimas e o domínio da narrativa da crise, por parte de Luísa, são uma aula de comunicação para qualquer estrategista da área. A forma como a história do casal está sendo conduzida, sob o controle total de Luísa, é uma lição de gerenciamento de crise. Luisa pega os fatos e conduz com a versão que quer (enquanto figura pública, certíssima).

Em resumo, o que quero dizer disso tudo - para que esse artigo não vire uma tese - é que: toda comunicação, para ter bom resultado, precisa criar vínculo afetivo com o público. A humanização é parte fundamental da construção de uma imagem. A letra homônima só chegou ao topo quando o vídeo dos dois, entre olhares apaixonados, foi ao ar. As cerca de 500 mil publicações/menções nas redes sociais só aconteceram depois que Luisa foi ao vivo e, aos prantos, contou sua história em um programa na TV aberta. Se isso foi pensado, premeditado, articulado, planejado, talvez nunca saibamos. Fato é que toda a comoção gerada (e engajamento e lucros) veio de um único método: a comunicação afetiva.  

Muito debatida na academia e muito usada por políticos há tempos, por exemplo, a técnica de comunicar por meio de uma enxurrada de meios destinados a despertar emoções segue firme nas teorias da comunicação, como mostra o caso “Luísa e Chico”. E isso não significa que eu esteja dizendo que foi proposital; apenas analisando a maneira como está ocorrendo. O misto de sentimentos que despertou na população ganhou uma projeção imensa, se pararmos para pensar que é apenas mais um relacionamento que não deu certo, como tantos outros. Há quatro meses nem sabíamos quem era Chico. Então, observar os elementos que compõem toda essa narrativa me leva a  uma única conclusão: a comunicação efetiva é a dama do jogo. 

Ainda aguardando as cenas dos próximos capítulos, já adianto a quem possa interessar: se você quer comunicar algo bem, esse combo é infalível: comoção, envolvimento afetivo, despertar emoções (boas ou más), humanização e domínio da narrativa. Entre muitos corações partidos ao longo da história da música brasileira, o legado das artes - para além de letras, canções, poemas, filmes, etc - sempre está no seu potencial de mexer com os sentimentos, de fazer sorrir e chorar, esperançar ou desistir, amar ou esquecer, viver e desmorrer. As artes têm esse poder e os artistas também. A junção da potência da arte com a estratégia de comunicação afetiva sempre gera resultados para quem pensa em como, onde e quando executar as táticas. 

Em tempo: o banheiro do Sat 's não é sujo. E sempre tem papel. 

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