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    Ricardo Bruno

    Jornalista político, apresentador do programa Jogo do Poder (Rio) e ex-secretário de comunicação do Estado do Rio

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    Lula fez surgir novamente a esperança

    "O ex-presidente construiu um protagonismo espontâneo, assumindo novamente o posto de líder da oposição", diz o jornalista Ricardo Bruno sobre a fala de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos. "Mostrou-se o anti-bolsonaro"

    Lula com o povo brasileiro (Foto: Ricardo Stuckert)

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    A fala do ex-presidente Lula, no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, observou cuidados de conteúdo próprios de um pronunciamento de estadista. Foi clara e incisiva em questões de princípio sem resvalar para o radicalismo estéril, desagregador. Foi também precisa na demarcação do seu espaço como líder natural da oposição. Trouxe luz, racionalidade e bom-senso ao debate sobre a pandemia, opondo-se, assim, de modo incontrastável às parlapatices de Jair Bolsonaro. 

    No curso da apresentação, o ex-presidente construiu um protagonismo espontâneo, assumindo novamente o posto de líder da oposição. O fez em questões concretas, facilmente decodificadas por todos os brasileiros, apontando, por exemplo, os erros imperdoáveis de Bolsonaro na pandemia. Usou as armas da ciência – defesa da vacina, do uso de máscara e do distanciamento social – para se opor naturalmente ao negacionismo. Por contraste, mostrou-se o anti-bolsonaro.

    Exatamente quando o país atinge o trágico recorde de 2 mil mortes por dia, Lula se fez novamente líder diante de todos os brasileiros, apontando saídas fundadas na experiência e na razão. Neste momento, semeou esperança, trouxe a possibilidade de um outro país, de um outro caminho – menos atribulado, menos obtuso, menos conflituoso; mais feliz. 

    Tragado pela pandemia e pelo desatino governamental, o Brasil embruteceu em meio ao redemoinho de crises insanas infladas em boa medida pelo espírito malsão de Jair Bolsonaro. Nos últimos anos, produziram-se enormes carências, sobretudo, de esperança. Com maestria, Lula se mostrou capaz de refazer os destinos da Nação por outros caminhos, com respeito aos contrários e civilidade. Não é pouco.

    Para além da litigância processual, a decisão do STF de anular as condenações maquinadas por Sérgio Moro fez Lula readquirir serenidade. Diferentemente de outros momentos, o ex-presidente não foi instado a se defender, tampouco foi confrontado com provocações absurdas, urdidas criminosamente para desestabilizá-lo. O Supremo Tribunal Federal ocupou-se da tarefa de redimi-lo – ainda que tardiamente. Não mais no banco dos réus, Lula era em São Bernardo apenas o ex-presidente que fez o Brasil experimentar a sua maior bonança. Ou talvez, o provável candidato a fazê-lo repetir o feito. Não havia revolta tampouco mágoa a embotar o raciocínio. As ideias estavam claras, brotavam na medida e no tom correto. 

    Semblante sereno, não apresentou arroubos à esquerda. Coerente, reafirmou sua visão de desenvolvimento a partir de ações do Estado, mas com ponderação e exemplos práticos.  Não incorporou um radicalismo de sinais ideológicos trocados exclusivamente. Ao negacionismo, trouxe ciência; à retórica raivosa, opôs moderação. 

    Quando enveredou pela análise política talvez tenha traído o projeto de se candidatar novamente. Houve preocupação cirúrgica com menções e lembranças que remetem à moderação. Exibiu espírito de conciliação e desejo de compor alianças ao centro. Não por acaso, fez questão de elogiar o seu ex-vice, o empresário José Alencar, resumindo a parceria como uma aliança entre o capital e o trabalho. Defendeu ainda uma frente ampla para derrotar o atual governo, mas “não uma frente ampla só de esquerda”. Foram mensagens com visível cálculo político.

    De tudo o que disse, o mais importante talvez tenha ficado nas entrelinhas. Por entre palavras e frases, Lula fez novamente inspirar esperança. Mostrou que é, de fato, a liderança mais preparada para garantir a retomada do desenvolvimento e do bem estar social – destroçados pela associação criminosa da direita insana com o liberalismo cínico dos amantes do mercado.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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