Lula morto, sonho de consumo da Faria Lima
"O verdadeiro risco, para os especuladores, é político, enfrentar a expectativa de ter pela frente Lula vivo", escreve César Fonseca
O mercado vibra com a enfermidade do presidente Lula.
Há até especuladores radicais que recomendam aos médicos que o assistem que completem o serviço: liquidem-no, fisicamente.
O risco, para Faria Lima, não é técnico, o que, aparentemente, chama de desajuste fiscal, a gastança primária - receitas menos despesas, exclusive juros.
Não.
O verdadeiro risco, para os especuladores, é político, enfrentar a expectativa de ter pela frente Lula vivo.
Lula morto seria o ideal para os pescadores em águas turvas.
As declarações deles não deixam dúvidas: com o presidente petista imobilizado no hospital pelo maior tempo possível, se preferível para sempre, ocorre o que mais desejam, isto é, a permanente e segura valorização dos ativos, os aumentos crescentes dos lucros especulativos.
Lula morto é lucro certo para o mercado.
Já o contrário, Lula vivo, o que a Faria Lima enxerga com ampla nitidez e receio é a incerteza para seus lucros especulativos, instabilidade perigosa.
Lula vivo representa o que não querem: crescimento econômico, redução da taxa de desemprego, valorização dos salários, aumento do consumo e dos investimentos, avanço da arrecadação e maiores gastos sociais, responsáveis pelo crescimento da demanda global.
A valorização dos salários é sinônimo de Lula vivo, maior expectativa de vida para os pobres e aposentados, perto de 50 milhões de pessoas comendo e bebendo, feliz, socialmente incluídas, elevando a renda média nacional.
O mercado vê essa realidade se materializando, fruto da melhor distribuição da renda nacional, como ameaça aos lucros exorbitantes que está auferindo, enquanto persiste o juro elevado, razão principal da desigualdade social.
Os economistas neoliberais, tipo o megaespeculador Armínio Fraga, vê tal situação como ameaça, porque sinaliza combate à desigualdade por meio da redução da lucratividade proporcionada pelos juros extorsivos.
Juros extorsivos, que matam os mais pobres de fome, é a estabilidade permanente que faz a felicidade da Faria Lima.
Mercado teme democracia
Sobretudo, Lula vivo e saudável no comando do governo aponta para democratização e aumento de oportunidades para realização de reformas sociais e políticas capazes de mudar o panorama neoliberal que leva o Brasil ao impasse histórico, ao perigo de golpes políticos, como o organizado pelo general Braga Neto e cia ltda.
Significa, enfim, rompimento da democracia, anarquia econômica e crise social.
É esse o ambiente anárquico que deseja a direita de modo que possa bater às portas dos quartéis, a fim de concretizar seus planos sinistros.
Lula vivo é perigo de resistência contra os ataques à democracia que a política recessiva pró-especulacão proporciona.
O mercado, portanto, conseguiu, como diz o Brazil Journal, porta-voz da Faria Lima, furar a bolha do pessimismo, matando, simbolicamente, o presidente Lula.
Alcançou, dessa forma, seu nirvana: valorização especulativa dos ativos, sem medo de ser feliz.
Foi o momento em que o BC neoliberal, sob comando do bolsonarista fascista Campos Neto, aproveitou para dar sua tacada mais certeira, o da enfermidade do presidente, para garantir a Selic mais alta possível, com unanimidade dos integrantes do Copom, sob aplauso dos abutres da Faria Lima.
O problema, porém, é que a especulação monetária ganha autonomia, como monstro que saiu da garrafa, assustando os próprios banqueiros, temerosos de perder controle da situação.
A estratégia dos especuladores, agora, é secar as reservas cambiais nacionais, intervindo reiteradamente no mercado, para deixar o governo de muletas.
Fazendo isso, não lhe resta alternativa senão acelerar privatizações na bacia das almas, entregando o resto de ativos que sobrarão.
Com Lula morto, essa tarefa ficaria bem mais fácil.
Seria mamão com açúcar.
Mas, o carcará, para desgosto dos abutres, mostra-se vivo e forte.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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