Lula, o abalo do governo militar e a restauração democrática
"Esta é a conjuntura menos desfavorável para a resistência democrática e popular nos últimos 6 anos – pelo menos desde 2015 – e abre efetivamente, pela primeira vez, a possibilidade de se alterar o atual período defensivo e de derrota histórica para iniciar a restauração democrática e a reconstrução nacional", escreve Jeferson Miola
A entrada do Lula na cena política depois da anulação das condenações ilegais da Lava Jato (10/3) acelerou enormemente a conjuntura.
Com o reconhecimento da suspeição do Moro (23/3), Lula ficou politicamente ainda mais forte. Ele enfim venceu a guerra narrativa sobre a verdade dos acontecimentos que geraram a catástrofe que o Brasil hoje vive.
Esta é a conjuntura menos desfavorável para a resistência democrática e popular nos últimos 6 anos – pelo menos desde 2015 – e abre efetivamente, pela primeira vez, a possibilidade de se alterar o atual período defensivo e de derrota histórica para iniciar a restauração democrática e a reconstrução nacional.
Começam surgir trincas na base oligárquica de sustentação do Bolsonaro. Quase 300 mil mortes depois e devido à inexistência de UTI’s que também privam “os seus” de socorro, banqueiros, tecnocratas e financistas deram um basta a Bolsonaro em carta pública (21/3).
Com 15 meses de atraso e no contexto do descontrole da hecatombe que alcança a média próxima de 3 mil homicídios diários por COVID, o governo anunciou medidas que têm tudo para serem natimortas, a considerar os bastidores do encontro com chefes de Poderes e governadores.
É bastante limitada, para não dizer inexistente, a margem de manobra para o governo conseguir reverter a confluência de catástrofes em curso – sanitária, humanitária e econômica.
Os erros, irresponsabilidades e condutas criminosas na gestão do Estado, tanto na economia como na pandemia e em outras áreas, queimaram os instrumentos públicos que poderiam favorecer a reversão desta tendência.
Para o governo dos generais, o longo ano de 2021 não terminará, e a colheita da semeadura destes 2 anos será bastante amarga: o país não terá vacinas e auxílio emergencial na dimensão requerida; e haverá recorde de mortes, estouro do desemprego, estagflação etc.
O tabuleiro eleitoral para 2022 se modificou drasticamente. Para pânico dos generais e da oligarquia dominante, Lula se consolida como candidato com chances reais de vencer a eleição, e já no 1º turno.
A viabilidade eleitoral do campo de amplo espectro que abarca do PDT e PSB à direita tradicional e à extrema-direita moro-lavajatista depende da evolução da impopularidade do governo dos generais que é nominalmente liderado pelo fantoche Jair Bolsonaro.
A eventual candidatura deste campo poderá ter, além disso, o ônus de se ver obrigado a integrar nas suas fileiras algum representante “civilizado” do desmoralizado Partido Militar que promove esta terrível devastação do país.
Mesmo assim, se o conservadorismo direitista que eufemisticamente se autodenomina “3ª via” se credenciar na disputa com algum invento antipetista, isso não será nenhuma garantia de competitividade para enfrentar Lula.
Bolsonaro sabe que seu prazo de validade está vencendo; seu descarte entrou no radar como em nenhuma circunstância desde 1º de janeiro de 2019. Os generais guardam no banco de reservas um “bombeiro moderado e racional” para ejetar o incendiário inconveniente e, assim, continuarem seu projeto de poder até o final de 2022.
O problema, contudo, é que com a “solução descarte” o Partido Militar fica sem o Cavalo de Tróia eleitoral que viabilizou a “volta democrática” deles ao poder na eleição ilegítima de 2018.
É pública a ojeriza do Partido Militar ao PT, a Lula e à esquerda, e eles fazem questão de demonstrar este sentimento ostensivamente, como no livro-confissão do general Villas Bôas. Os militares que prefeririam Lula ou inelegível, ou morto, serão obrigados a se curvar à democracia e ao Estado de Direito.
A volta do Lula tirou o Brasil da catatonia paralisante e abriu caminho para a salvação do país em diálogo com a comunidade internacional, que reconhece no ex-presidente a liderança experiente e o estadista capaz de conter a ameaça planetária representada pelo governo dos militares conduzido por Bolsonaro.
A crise de legitimidade vivida pelo regime, pelos limites já comentados, é de difícil reversão. Com a recuperação da capacidade de iniciativa política do Lula e da esquerda, uma vigorosa dinâmica política poderá impor o fim do fascismo e dar início à restauração da democracia para a reconstrução do país.
O Brasil voltará a respirar!
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