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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Lula: o país não é meu. Eu é que sou do país

    "Lula tem demonstrado sua disposição de conversar, mesmo com aqueles que num passado recente estiveram entre os que trabalharam para a derrubada do seu partido, o PT, do governo", avalia a jornalista Denise Assis

    Ex-presidente Lula (Foto: Reprodução)

    Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem caminhado pelas regiões do país, fazendo encontros com movimentos sociais e lideranças políticas. Suas conversas e tecituras, embora acompanhadas de sucessivas pesquisas de opinião que o colocam como o candidato que, no cenário atual, aparece como preferido nas pesquisas, não têm tido a característica de comícios, carreatas ou eventos de candidato. Têm, isto sim, demonstrado sua disposição de conversar, mesmo com aqueles que num passado recente estiveram entre os que trabalharam para a derrubada do seu partido, o PT, do governo.  

    Nesta primeira etapa da caminhada, está em Brasília, onde concedeu uma entrevista coletiva, onde pontuaram todas as perguntas pertinentes à pauta do momento. O que se viu, foi um discurso afinado com as questões atuais, um Lula moderado, afável e com disposição para dar novos rumos ao país. Lamentou as 600 mil mortes, a que chegamos hoje, devido à pandemia.

    Para os que gostam de dividir o quadro político em dois e dizer que temos uma polarização, o ex-presidente mostrou que sim, há dois extremos: entre o maluco beleza, e alguém que tem se preparado sobre os principais problemas do país, incluindo o meio ambiente, a pauta da vez. Neste particular, modernizou e ampliou o seu discurso, se colocando como alguém que patrocinou o “Fundo Amazônia”, em seu governo, com o apoio da Alemanha e da Noruega, mas que agora vai além. Quer pensar a Amazônia como um patrimônio do Brasil, porém, de utilidade e equilíbrio para todo o mundo. Deixando claro que não permitirá, nem mesmo ao presidente da França, Emmanuel Macron, com quem tem boas relações, falar em “internacionalização” da Amazônia. “Ela é nossa”, frisou, mas se dizendo aberto para discutir com os demais países a maneira como fará a exploração da sua biodiversidade, dentro dos padrões sustentáveis.

    Saltou aos olhos de quem o questionou ou assistiu, a leveza de sua expressão, seu gestual e as falas amenas com relação até mesmo a quem o vem criticando e espicaçando há algum tempo. “É do jogo político”, reagiu. E ele sabe bem disto. “Só não é vaiado quem não sobe em palanque. Eu já fui muito vaiado”, disse, sem demonstrar nenhum ressentimento com as pedradas já disparadas em sua direção. A quem o abordou diretamente sobre as vaias e ataques sofridos por Ciro Gomes, no último ato no dia 2 de outubro na Avenida Paulista, devolveu, emendando com uma pergunta: “Você já me ouviu falar mal do Ciro Gomes? Não falo”. Mas não sem ter o cuidado de comentar que quem quer ser candidato a presidente tem mesmo que criticar os adversários.  

    Lula conhece como ninguém os meandros desse jogo. Inclusive os da economia. Enquanto Bolsonaro delega desde o primeiro momento o seu governo, como bem pontuou o ex-presidente, ao dizer que “quem está governando o país, é o Congresso”, ele fala com tranquilidade quais são os pontos que precisam ser atacados caso o PT volte a ser governo. É não ter medo de se endividar e agir como um estado forte para dar dignidade à população, ou quando ao buscar recursos fora, o fizer para estimular algum setor que gere riquezas. O Brasil precisa crescer, destacou.

    E, por fim, sem refutar nenhuma das perguntas a ele dirigida, deixou claro que se faltou aos atos de “Fora Bolsonaro”, coisa que lhe cobraram em uma das perguntas, foi porque tem consciência de que um candidato que tem mais de 40% das intenções de voto, ao subir num palanque, o faz como um líder político e dele não pode mais descer. Além das razões sanitárias (tem consciência de que aos 75 anos isto é um risco), disse que ainda não é candidato e esta definição só fará em janeiro. Mas alertou que no dia em que subir num caminhão de som e discursar, será deixou subentendido, na condição de candidato. Até lá, vai continuar sua costura política e, em breve, estará em várias capitais do exterior, em encontros com lideranças sindicais e de governo. Quer recuperar a imagem do país lá fora. Depois de tantos vexames, é tudo que o Brasil espera.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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