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    André Barroso

    Artista plástico da escola de Belas Artes da UFRJ com curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB. Trabalhou nos jornais O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo e Correio Braziliense. 18h50 pronto

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    Marçal e a cadeira da discórdia

    Capitalizar o fato da cadeirada, foi a maneira que Marçal encontrou de tentar mexer com o publico

    Datena dá cadeirada em Pablo Marçal (Foto: Reprodução)

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    Por alguma razão, o Brasil fica nervoso a cada eleição e enlouquece as redes sociais a cada sinal de cortes diferenciados. E de fato, os vários fundamentalismos que hoje atraem as pessoas seriam manifestações desta síndrome irracional. Não se fala em outra coisa, senão a cadeirada dada pelo candidato Luiz Datena em Pablo Marçal.  Se antes nos preocupávamos com Bolsonaro, hoje o perigo obteve uma dimensão turbinada com Marçal e o episodio da agressão com a cadeira. Se a extrema direita conseguiu seu espaço no contexto do bolsonarismo, agora com a entrada de Marçal, o perigo se torna maior devido as baixarias, ataques pessoais, domínio do discurso e culto ao ódio, com grosseria, mal educada e incapaz de articular informações, porém com domínio das redes sociais . Se tínhamos antes o espaço do debate, como pedra fundamental da divulgação de plataformas de atuação em áreas sensíveis da maior cidade da América do Sul, agora temos o espaço para o teatro.

    A deterioração do espaço de debates foi acelerando, a medida que temos candidatos sem nenhum preparo, mas com estratégias de atuação diante das câmeras. A que ponto chegamos? A disputa entre as direitas brasileiras, para ver quem ocupa o espaço conquistado por Bolsonaro leva a essa elevação do tom, rebaixamento do campo do debate, importando mais quem realmente consegue lacrar e levar seguidores ao delírio. Mas como se tornou difícil conversar com a extrema direita? William Reich, em 1933, analisando o crescimento do nazismo, vislumbrou que esse sentimento fascista não é um sentimento racional. Ele é emocional. A todo momento, você vê sempre um ataque mirando sempre problemas como imigração, kit gay, comunismo. Ou seja, existe uma captura, da perspectiva fascista, de que ele está indignado com o sistema, e através da libido, quer restaurar tudo que foi perdido, da sociedade que ele idealiza e foi perdida. Foucault, Deleuze e Guatarri  também sustentam essa sexualidade desacerbada.

    O episódio da cadeira é a ponta mais triste de onde estamos quanto sociedade. Marçal que diz levantar defuntos do caixão e consegue derrotar tubarão branco e onça, vai para o hospital com uma cadeirada de um senhor de idade. Sai desmoralizado, porém capitaliza como pode a situação tentando emocionar as pessoas mostrando que é injustiçado pelo sistema. Estratégia usada por Hitler com o tiro que levou no pé e Bolsonaro com a facada. Ambos levaram a eleição, com a população emocionada. Mas essa desmedida elevação do ódio, não tem perspectiva de terminar bem nunca. Marçal cria com todos os adversários pontos de humilhação pessoal, ao invés de discutir argumentos de interesse público. 

    A cidade de São Paulo, que tem seu PIB maior que muitos países latinos, tem candidatos com um nível tão baixo de debate, mas tem um nível alto no pugilato. Marçal consegue a proeza de ser pior que o candidato do Bolsonaro e Datena. Daí você compreende porque o ódio tão grande  pela intelectualidade, pelo debate, pelos livros. Bücherverbrennung é o termo em alemão usado para designar a queima de livros feita na Alemanha nazista em 1933, com a chegada de Hitler ao poder. Foram queimados por volta de mais de vinte mil livros e inaugurando um tempo de censura politica e controle cultural no país.  Por pouco, o secretario de cultura de Bolsonaro, Roberto Alvim, que imitou Goebbels em seu discurso a nação, não teve reações extremas. 

    Capitalizar o fato da cadeirada, foi a maneira que Marçal encontrou de tentar mexer com o publico. Resolveram levar ele as pressas ao hospital, mesmo ele dizendo que iria continuar o debate. A todo momento sua equipe tenta filmar o teatro para alavancar suas redes sociais. Já na ambulância, tinham cinco pessoas presentes, usando uma não  reinalante sem monitoração. Quando Marçal chega ao hospital, recebeu a pulseira verde, que indicava pouco urgente. Mas sempre seus cortes são praticados para se apropriar de algum fato e tentar viralizar diante dele.   No final das contas, qualquer aproveitamento, mesmo indevido de imagem, são usados para conseguir ser eleito a todo custo. 

    Felizmente, pertenço a uma minoria que foi educado pela ciência e a razão.  O jogo de tarot não me desmente. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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