Meu amigo de bermudas
jamais ouvimos Kakay, por exemplo, asseverar, em qualquer tom: ‘Aha, Uhu, o fachin é nosso’, ou ‘meu ministro favorito é o Barroso’, ou ‘in Fux whe trust’...
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, que o país conhece pelo apelido carinhoso de Kakay, foi mencionado indiretamente pelo procurador evangélico Dallagnol, de forma pejorativa.
Deltan, o bem vestido, sugeriu que os procuradores não teriam o mesmo acesso que advogados aos ministros de nossas Cortes Superiores e, para justificar sua ‘tese’, lembrou uma ocasião em que Kakay teria ido entregar (fora do expediente e também da liturgia procedimental) um documento, na Corte Suprema, de bermuda...
Noves fora a alquimia e o desvelo que Deltan sempre revelou no manejo da prova, o fato de um advogado se sentir à vontade para, fora do expediente, levar um documento a qualquer Tribunal, jamais poderia ter o alcance que a fala do procurador buscou (re)significar...
Kakay, de quem gosto muito e por quem tenho extraordinária admiração, construiu toda a sua história de advogado no espaço que a dogmática e o processo lhe propiciaram, dentro de postulados éticos e conformes de toda uma geração de grandes profissionais. Não por acaso patrocina os mais conhecidos e discutidos feitos criminais do país e, por isso mesmo, causa um ciúme exacerbado – de colegas à procuradores...
Isso pontuado, vamos ao óbvio que a fala do procurador conversador obnubila: jamais ouvimos Kakay, por exemplo, asseverar, em qualquer tom: ‘Aha, Uhu, o fachin é nosso’, ou ‘meu ministro favorito é o Barroso’, ou ‘in Fux whe trust’...
Tanto quanto não se tem notícia dele, Kakay, combinando movimentos procedimentais com juízes, desembargadores e ministros em favor de interesses que patrocina...
Sabe procurador, vocês lavajatistas assaltaram o devido processo. Roubaram e corromperam o estado democrático de direito nos contornos dos diálogos apresentados pelo The Intercept e recentemente juntados pela defesa do Lula, por autorização do Ministro Ricardo Lewandowiski. Esse grau de podridão e de comprometimento do tecido institucional somente se perfez pelo consórcio ilícito estabelecido com o então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Simples assim, fácil assim, nojento assim...
Nesta medida quem revelou intimidade além da conta na Corte Suprema foram vossas conversas no aplicativo Telegram (‘Aha, Uhu, o fachin é nosso’; ‘meu ministro favorito é o Barroso’; ‘in Fux whe trust’). Quem usou deste expediente ao longo da operação foram vocês, não o Advogado...
Não há volta, procurador. A história já registrou um pouco (são tantos terabites...) da promiscuidade de vocês no trato do devido processo e, essa derrocada ilustra o fim de uma era: a dos super-heróis criados pela empresa familiar brasileira...
Moro saiu da 13ª Vara Criminal Federal em Curitiba para compor o governo que ele ajudou eleger, ao casar suas decisões nos processos (que piada!) contra Lula com o momento político do país.
Quem pariu o governo atual foram vocês. São vocês os pais e mães do momento negacionista que vivemos. São vocês os grandes responsáveis pela recepção dos discursos de ódio que massacra as minorias. São vocês os padrinhos da situação econômica terrível que vivemos.
Deixe de hipocrisia procurador. Ir de bermuda, fora do expediente e na informalidade, ao Supremo para entregar um documento a funcionário da Corte não torna quem veste a bermuda íntimo de ninguém – ainda que tornasse, não seria a intimidade um índice de corrupção per si.
O que caracterizaria a corrupção seria a interação prévia, tirada fora dos autos e protegia por criptografia de ponta a ponta, entre os procuradores e o estado juiz, com fincas em estabelecer condutas que favoreçam a acusação.
A corrupção, que negou vigência ao devido processo e enlameou o estado democrático de direito, está espelhada na nojenta tratativa extra autos que vocês e o então juiz Moro se permitiram.
De nossa parte, sigamos todos de bermuda. A vestimenta informal não pressupõe nada de quem dela faz uso. De vossa parte talvez seguir confiando na criptografia de ponta a ponta não seja prudente...
A lava jato foi/é o que de pior sucedeu a nosso combalido estado de direito, na medida em que desde o seu nascedouro desconheceu o espectro democrático que o albergava, negou a dogmática e assaltou o ‘due process’. Tristes trópicos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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