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    Emerson Barros de Aguiar

    Escritor, bioeticista e professor universitário

    12 artigos

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    Milifantoches: nascidos para votar

    Uma torrente de fake news intercalada por posts de veneração à personalidade do candidato e depoimentos de desprezo e de aversão a minorias, grupos étnicos e oponentes políticos, cria uma permanente atmosfera de horror e de ódio que intoxica a mente de todos

    Milifantoches: nascidos para votar

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    Em Provérbios 4:23, a Bíblia nos ensina que, sobretudo o que devemos guardar, guardemos o nosso coração, porque dele procedem as fontes da vida. O sentido da palavra "coração" no versículo se refere à sede dos sentimentos e dos desejos e nos adverte que se não preservarmos o nosso coração, correremos o risco de ter as nossas emoções sequestradas por interesses alheios aos nossos ou de ficarmos reféns da vontade dos outros.

    Trata-se, portanto, de uma advertência antiga contra o que hoje chamamos de "técnicas de manipulação psicológica".

    A maior e mais perceptível assimetria pró-Bolsonaro, nesta eleição, deve-se à massiva campanha de manipulação, utilizando robôs da internet nas mídias sociais para a disseminação de informações falsas ou fragmentadas, que induzem o usuário a uma conclusão retórica, a partir da análise prévia do seu perfil.

    O objetivo é fazê-lo crer que aquele conteúdo foi produzido por ele mesmo, que, a partir dali, procura se unir a outros que sofreram o mesmo processo para formar uma célula militante e cumprir com o propósito para o qual toda estratégia foi cuidadosamente planejada.

    O usuário da rede social é somente uma pedra lançada por um estilingue, mas é levado a crer que é ele quem empunha o estilingue.

    Ele encontrou peças de um quebra-cabeças e o montou, passando a ter a sensação de que a imagem formada a partir das peças é sua ideia original. Tendo "mordido a isca", converte-se espontaneamente no ativista motivado por um profundo sentimento messiânico.

    Um eleitor dissidente revelou que, nos grupos/células que foram criados para apoiar a candidatura do capitão reformado do exército, o clima de ódio domina.

    Uma torrente de fake news intercalada por posts de veneração à personalidade do candidato e depoimentos de desprezo e de aversão a minorias, grupos étnicos e oponentes políticos, cria uma permanente atmosfera de horror e de ódio que intoxica a mente de todos.

    Em seu relato, este ex-eleitor do "mito" diz que só despertou da sua terrível cegueira quando viu o assassinato de Môa do Catendê, cometido por um bolsonarista fanático, ser minimizado por todos os outros componentes do grupo. Isso fez disparar um alarme em sua consciência.

    A maioria, contudo, não terá essa chance, pois o seu senso crítico foi completamente subjugado e a sua mente foi reduzida a uma marionete regida por cordas.

    O seguidor ordinário teve o seu pensamento colonizado por imagens e textos planejados em laboratório e plantados em sua cabeça para que se tornasse um soldado do ódio.

    Neste estado de profundo torpor moral e espiritual, ele está disposto a agredir qualquer um que ouse lhe demover das "convicções" que julga sinceramente ter adquirido por si mesmo.

    Conduzido a esta condição, torna-se a arma política perfeita: o militante cego, obstinado e sempre pronto para ser acionado a qualquer momento por aqueles que domesticaram a sua mente. Este é precisamente o efeito que as operações psicológicas provocam nos seus alvos.

    A manipulação é feita a partir de técnicas PsiOPs desenvolvidas por inteligências militares e utilizadas para desestabilização de governos através das mídias sociais e que, inclusive, já foram aplicadas recentemente no Brasil para produzir as manifestações que levaram à crise política.

    Estas tecnologias hoje são acessíveis através de consultorias especializadas e estão disponíveis para quem for interessante vender e puder pagar.

    A Coca-cola lançou a Fanta em plena Alemanha nazista e a IBM também não viu problema algum em numerar os prisioneiros dos campos de concentração. "Pagando bem, que mal tem?" sempre foi a filosofia das grandes corporações. Foi desse modo que Steve Bannon, um ex-banqueiro e ex-editor do principal site de extrema-direita dos Estados Unidos, o Breitbart News, teve acesso aos 50 milhões de perfis do Facebook de cidadãos norte-americanos através da empresa inglesa Cambridge Analytica, o que lhe permitiu construir um cenário favorável à eleição de Trump, através de estratégias desenvolvidas a partir da análises dos perfis desses usuários, definindo, a partir daí, a sua tática de influência social, baseada na difusão da paranoia, do ódio e do medo através das redes sociais.

    O diretor-gerente da Cambridge Analytica, Mark Turnbul, admitiu que a empresa também foi contatada por políticos brasileiros para atuar na eleição presidencial brasileira de 2018.

    A estratégia para promover a simpatia a favor de candidatos de extrema-direita é a mesma: radicalizar os usuários com perfil de direita, fazendo-os adotar posições fascistas. O sujeito que era pouco afeito à intervenção do Estado na economia, de repente, converte-se no anarco-fascista que quer ver o circo pegar fogo.

    O pior é que a esta radicalização extrapola a esfera eleitoral e depois continua a sua escalada de violência por conta própria. Por causa disso, os grupos ou células nos quais os militantes fantoches se reúnem poderão evoluir, em pouco tempo, para as milícias armadas dispostas a converter o seu discurso de ódio numa prática efetiva e mortal.

    Neste sentido, é triste constatar que o exercício democrático foi transformado numa experiência de manipulação dos sentimentos e da percepção da realidade à maneira daquilo que observamos em filmes como "Nascido para matar", de Stanley Kubrick.

    Por não guardar o seu "coração", o eleitor se deixou contaminar por mensagens subliminares de ódio e de controle, abrindo mão do seu protagonismo político para se tornar uma máquina de votar e de matar.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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