Mudanças climáticas e novo urbanismo
"Precisamos de união nacional em torno de um urgente e imprescindível novo modelo de desenvolvimento", escreve Odair Cunha
A catástrofe socioambiental no Rio Grande do Sul nos leva a refletir sobre novas e desafiantes alternativas urbanísticas, considerando o aquecimento global e as mudanças climáticas. É um debate urgente, inclusive para o estado de Minas Gerais, com inúmeras áreas suscetíveis a tragédias em decorrência tanto da errada ocupação do solo como da intervenção humana levada a cabo ao longo de décadas, sem considerar que a natureza pode se vingar de quem a vê com viés antropocêntrico, imediatista e como mera fonte de lucros.
Enchentes e deslizamentos destroem a infraestrutura de cidades, deixando-as sem serviços e água, energia e esgoto. No caso do Rio Grande do Sul, algumas cidades simplesmente desapareceram do mapa, como já ocorreu em outras partes do planeta, em função de tragédias provocadas pelos fenômenos climáticos potencializados pelo ser humano.
Especialistas alertam que nos próximos anos cerca de 50 milhões de brasileiros correm risco de passar por um desastre hidrológico, como inundação, enchente ou alagamento. O Sudeste é considerado a região com a maior parcela e proporção de municípios que correm esse tipo de risco, mas é no Sul onde proporcionalmente mais localidades precisam se adaptar às mudanças do clima, dada a aceleração da ocorrência de eventos extremos com potencial calamitoso.
Antes mesmo que as águas baixem, é inevitável colocar no radar a criação de novos paradigmas para a reconstrução do Rio Grande do Sul. Na situação atual, pode haver medidas mitigatórias e preventivas. Mas, centralmente, precisamos de um novo urbanismo climático, que seja replicado em todas as unidades da Federação. Em pleno século 21, não podemos ter infraestrutura e urbanismo calcados em modelos do século passado. A permeabilização do solo, por exemplo, com concreto e asfalto, impede a penetração da água no solo. O desmatamento e o desrespeito à natureza acentuam o problema.
Na verdade, a discussão vai além: precisamos de união nacional em torno de um urgente e imprescindível novo modelo de desenvolvimento, que seja sustentável e diminua drasticamente a emissão de carbono. Nesse aspecto, o Brasil gradualmente se torna referência mundial, num momento em que o aquecimento global e as mudanças climáticas se tornam ameaças à vida no planeta, pelo menos do modo que a conhecemos.
Já somos protagonistas do debate da mudança climática, com programas voltados à transição e à transformação energética em novos parâmetros, a chamada economia verde. É justamente nesse cenário que desponta a tarefa crucial de instituir o novo urbanismo climático. Cidades mais funcionais, interconectadas e sustentáveis, seguras, com mais qualidade de vida. Um futurismo que é para já: a reinvenção do jeito de projetarmos e viver no meio urbano.
As mudanças no Brasil devem ocorrer em sintonia com a adoção de medidas de impacto global em negociação no âmbito da ONU para enfrentar o aquecimento global. Em nossas cidades, temos que garantir um planejamento apurado, com tecnologias inovadoras e espaços urbanos refratários à especulação, em que a vida das pessoas seja a prioridade número um.
O Brasil, hoje, voltou a atuar no cenário global com grande protagonismo ambiental. Terá a responsabilidade de sediar no ano que vem, em Belém, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – a COP30 - , para debater a sustentabilidade, a preservação das florestas, a transição energética e outros temas em defesa da vida no planeta. Nesse contexto, o novo urbanismo é pauta para todas as nações. O povo brasileiro, solidário com os gaúchos, percebe a gravidade da situação climática no planeta.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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