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    Mario Vitor Santos

    Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

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    Mudanças no Datafolha em ano eleitoral suscitam indagações

    "O Grupo Folha demitiu o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, que estava havia 35 anos no instituto", informa Mario Vitor Santos

    Mauro Paulino (Foto: Reprodução)

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    Por Mario Vitor Santos

    A divulgação de nova rodada de pesquisas do Datafolha, feita nesta quinta-feira, chama atenção pelos resultados obtidos. Como noticiado, houve recuo das intenções de voto em Lula e uma equivalente ascensão de Bolsonaro. 

    Apesar de o instituto alertar para o fato de que não se podem fazer comparações desta pesquisa com levantamentos anteriores, por alterações na lista de candidatos, a própria Folha e o Uol, ao divulgar a pesquisa, estamparam em manchetes, como depois toda a mídia, a versão de que houve um “recuo”, uma “perda de fôlego” de Lula.

    Nessa linha, houve também o registro da “diminuição” da rejeição ao presidente em exercício e a “elevação” de intenção de voto nele em diversos segmentos da amostra pesquisada. Essa melhora ocorreria mesmo numa conjuntura de estagnação econômica e alta dos preços.

    A pesquisa do Datafolha, realizada sempre de maneira presencial e com uma amostra numerosa, foi precedida pela Genial/Quaest, presencial, com resultados que vão na mesma direção. Ambas foram seguidas logo pela divulgação na sexta-feira de uma nova pesquisa Ipespe, telefônica, que flagrou o oposto. 

    Nesta, Lula voltou a crescer e Bolsonaro caiu ou “oscilou para baixo”. Pelo Ipespe, o cientista político Antonio Lavareda viu na pesquisa sinais de interrupção da recuperação da retomada que Bolsonaro vinha apresentando, por causa do “medo da inflação”. A diferença entre ele e Lula subiu de 11 para 15 pontos percentuais em quinze dias. 

    Das pesquisas, uma das que goza de maior credibilidade é a do Datafolha, instituto de renome que sofreu há apenas dez dias talvez o maior abalo de sua história, ocorrido sem que a mídia corporativa lhe tenha dado a devida divulgação.

    O Grupo Folha demitiu o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, que estava havia 35 anos no instituto. Ele era uma espécie de “cara” do Datafolha nas análises escritas, entrevistas e mesas redondas.

    De maneira igualmente inesperada foi desligado na mesma ocasião também o número dois do instituto, o diretor de Pesquisas Alessandro Janoni, com 27 anos de experiência no Datafolha e substituto natural de Paulino. 

    O Grupo Folha procede então a uma mudança inédita no comando de seu instituto de pesquisas nas vésperas da eleição que se aproxima e o tema foi objeto apenas de uma nota lacônica publicada na própria Folha sem maiores aprofundamentos. Para o público, ele foi abafado. Isso não quer dizer que o assunto não tenha sido comentado nos públicos internos da empresa, dos institutos de pesquisa e dos clientes.

    De pronto, mudanças do tipo podem gerar dúvidas sobre as motivações de tal operação neste momento. Paulino e Janoni eram os principais executores e fiscais do rigor técnico e da isenção ético-política das pesquisas eleitorais do Datafolha. Eram também conceituados analistas de pesquisas e consultores dos clientes do Datafolha. Por que foram sacados? 

    Não deveria o Grupo Folha e o Datafolha prestar satisfações públicas, dada a importância e implicações eleitorais do trabalho do instituto, a respeito de bruscas mudanças em momentos sensíveis? Havia algo no trabalho de Paulino e Janoni que já não estava agradando? O que exatamente? Essas mudanças abalam o rigor técnico das pesquisas do Datafolha? 

    As demissões foram por razões de cortes de custos, renovação ou questões administrativas? Sobre a hipótese impensável, ou seja, uma maracutaia com as pesquisas, não há até agora qualquer indício consistente que justifique a hipótese de uma ruptura do ponto de honra do instituto, que é a fidelidade aos números que apura.

    É impossível saber a que ponto pode ter sido afetado o trabalho do Datafolha. Com o solavanco, paira uma interrogação técnica sobre o Datafolha. A própria Justiça Eleitoral, que obriga o registro de pesquisas de intenção de voto, deveria observar esses movimentos com atenção dado o potencial de impactos indesejáveis que dúvidas circunstanciais podem criar sobre o rigor do processo eleitoral. Procurados, os diretores demitidos do Datafolha, direcionaram qualquer pronunciamento ao Grupo Folha.

    Em tempo: em janeiro passado, Antonio Manuel Teixeira Mendes, que, tendo idealizado e o Datafolha há 36 anos, galgou posições no Grupo Folha até a superintendência-geral da empresa, também foi desligado. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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