Mulheres vencendo o medo
Susllem não estava e não está sozinha. Seu gesto influenciará de forma positiva para que todas se sintam capazes denunciar violências de gênero, tanto nos locais de trabalho, quanto nos meios de transportes, nas escolas e universidades e em todos os lugares do convívio humano
Merece reconhecimento a corajosa reação das mulheres ao assédio sexual vivido na última semana pela figurinista Susllem Tonani, da TV Globo.
O destemor demonstrado por ela ao revelar comportamento infame e vexatório de um renomado ator daquela emissora logo ganhou a solidariedade de atrizes e colegas de trabalho, que no dia seguinte vestiram camisetas com os dizeres: "Mexeu com uma, mexeu com todas", acompanhadas da hashtag #chegadeassedio.
A manifestação rapidamente alcançou grupos de mulheres em todo o Brasil. Parlamentares no Plenário do Senado e também da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a ONU Mulheres, o Instituto Patrícia Galvão, a União Brasileira de Mulheres e inúmeros grupos feministas somaram-se a milhares de postagens nas mídias sociais com a resposta clara de que não tem volta o caminho construído pelo fim da opressão e da violência de gênero.
A veracidade dos fatos resultou em retratação da empresa e carta de desculpas do ator. Mas para além do pedido circunstancial de penitência, atitudes como essa retiram do âmbito privado a dor da humilhação e ousam tornar público o quanto a supremacia do poder masculino é valor deletério para toda a sociedade.
Silenciar frente a abusos faz parte de um passado de triste memória para as brasileiras, quando muitas de nossas mães e avós eram subjugadas sem amparo legal.
Pergunto como pode um ser humano ter seu corpo, seus sentimentos e sua estrutura psíquica violada repetidas vezes por um superior hierárquico no trabalho e isso ser aceito como natural e acobertado por seus pares?
Dar visibilidade a atitudes de coragem como a da figurinista representa retirar a mulher do lugar da subserviência e da subalternidade que o senso comum e o machismo insistiram historicamente em colocá-la.
Louca, insana, mentirosa e desestruturada mental são os adjetivos de defesa dos agressores, com ou sem foro privilegiado, irmanados pela soberba aconchegante da misoginia e do patriarcado.
De acordo com pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 52% das mulheres economicamente ativas no Brasil já sofreram assédio sexual no trabalho. Portanto, Susllem não estava e não está sozinha. Seu gesto influenciará de forma positiva para que todas se sintam capazes denunciar violências de gênero, tanto nos locais de trabalho, quanto nos meios de transportes, nas escolas e universidades e em todos os lugares do convívio humano.
As mulheres ocuparam e continuarão ocupando ruas e praças desse país e quando necessário saberão com altivez tornar pública uma violência privada, somando vozes, gestos e sentimentos em defesa de uma gritante verdade nesse momento: a dignidade de uma é a dignidade de todas. Estamos juntas!
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