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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Naturalizamos o mal e tudo está no seu lugar. Graças a Deus

    A jornalista Denise Assis destaca que o "novo normal" no Brasil não se trata do pós pandemia, mas da velha política de Jair Bolsonaro. "Na verdade, não estamos falando de nada que devesse ser normal e tampouco pudesse ser chamado de “novo”. Trata-se de Jair Bolsonaro, que não é normal e nem sequer novo. Aliás, nada mais velho do que Bolsonaro", enfatiza

    Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

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    Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

    Estamos vivendo o novo normal. Não, não estamos falando de pós pandemia. Na verdade, não estamos falando de nada que devesse ser normal e tampouco pudesse ser chamado de “novo”. Trata-se de Jair Bolsonaro, que não é normal e nem sequer novo. Aliás, nada mais velho do que Bolsonaro.

    O que aconteceu foi que nos cinco meses de confinamento, opção que ele atribuiu ser “apenas para os fracos”, fomos naturalizando a sua persona, os seus arroubos, os seus desatinos e as suas consequências. Trancafiados, fomos vendo o país pelas telas. E isto nunca é bom. Há ali um filtro, uma pasteurização, a nos distanciar da realidade. Há no “lá fora” uma visão de que não é com a gente, que é melhor deixar como está, para ver como fica. E, distanciados que estamos, não vemos ou vemos e não reagimos, deixando que o pior, degrade o país.

    Naturalizamos o Paulo Guedes, que é humilhado em público, propõe programas para os quais não há dinheiro, dá a ribalta para que Bolsonaro faça as suas mesuras do “tudo pelo social”, mas não sai de cena. E não sairá. Não há substituto para alguém que desmontou a infraestrutura da economia, da relação homem/capital/trabalho, almeja privatizar as principais empresas do país e detém a chave do cofre e informações que o beócio que ocupa a presidência não possui.

    Paulo Guedes deu um nó no Brasil, colocou uma granada no bolso dos funcionários públicos e pretendia dar um “mata-leão” nos aposentados, sem perceber que mataria a galinha dos ovos de ouro. Com o desemprego na casa dos 14%, são eles, os aposentados, a sustentar famílias inteiras país a fora, como verdadeiros “respiradores” de um sistema onde sobram endividados e faltam consumidores. Paulo Guedes não entende nada de gente, da dinâmica da vida comum. Ele diz entender de matemática. Há controvérsias.

    Naturalizamos as atividades obscuras de Carlos Bolsonaro, à frente de um esquema que começa em uma rede de computadores e termina, sabe-se lá como, nos gabinetes de ministros prestigiados pelo papai, como o  da super articulada ministra Damares Alves, que por sua vez tece sua teia na camada social desguarnecida de qualquer proteção, mas bem fornida de “desinformações” úteis para quem quer embaralhar as regras do jogo. Damares segue como ninguém o princípio Chacriniano: “eu não vim aqui para explicar. Eu vim para confundir”.

    Naturalizamos as articulações de Eduardo com o universo dos fabricantes de armas, os planos para ampliar esse mercado, de onde só podem sair estatísticas dramáticas. Não há vida ou tampouco segurança onde há multiplicação de armas. Eduardo estende os seus tentáculos para além fronteiras, e não é em busca de novos e alvissareiros mercados para a comercialização de produtos do Brasil.

    Naturalizamos Hamilton Mourão, o senhor da selva. É ele quem permite a circulação de contingentes que não sabemos bem onde estão e o que fazem. Impedem a propagação do fogo na floresta? Artigo publicado no Jornal da USP, do mês de agosto, de autoria de Herton Escobar e Moisés Dorado, dá conta de que os dados de monitoramento por satélite divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) “mostram que a taxa de desmatamento na Amazônia aumentou 34% nos últimos 12 meses, em comparação com o mesmo período do ano anterior. É a segunda alta consecutiva nos primeiros dois anos de gestão do presidente Jair Bolsonaro.

    A comparação refere-se ao período de agosto de 2019 a julho de 2020, que é o calendário oficial de monitoramento da Amazônia, usado pelo Inpe para calcular as taxas anuais de desmatamento. Mais de 9,2 mil quilômetros quadrados (km2) de floresta foram derrubados nesses 12 meses (uma área equivalente a seis vezes o tamanho do município de São Paulo), comparado a 6,8 mil km2 no período de agosto de 2018 a julho de 2019, que já trouxe um aumento de 50% em relação ao ano anterior.” E, sim, perdemos 20% do Pantanal, ainda em chamas.

    Naturalizamos Dias Toffoli, que não conseguiu – durante o tempo à frente do Supremo Tribunal Federal (STF) – ver nenhum crime cometido por Bolsonaro. Resta saber se quem mirava o Planalto era realmente ele, ou o seu assessor militar, aquele que tem nome de sabão: o general da reserva Ajax Porto Pinheiro.

    Naturalizamos o trança-trança de Rodrigo Maia, entre o Planalto e a Câmara dos Deputados, instituição que preside em nome do povo. Este mesmo, a quem não dá ouvidos. Tal como Bolsonaro, ele está preocupado apenas com a reeleição. A dele.

    Naturalizamos todas as manobras jurídicas, braço de apoio às conveniências político-empresariais cometidas em nome da “placidez”, da “calmaria”. E nesse universo cabem Flávio, Queiroz, Wassef, Moro e até o ministro André Mendonça, quando comete trapalhadas para as quais não tem explicações.

    Por fim, naturalizamos as quase 140 mil mortes, que Bolsonaro está pronto para colocar no colo desse mesmo STF que ora estica, ora afrouxa a corda com que pode acabar se enforcando. Naturalizamos o mal e tudo está no seu lugar. Graças a Deus.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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