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    Rogério Puerta

    Engenheiro agrônomo, atuou por doze anos na Amazônia brasileira em projetos socioambientais. Atuou em assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal por dez anos e atualmente vive em São Paulo imerso em paixões inadiáveis: música e literatura. Escreveu diversos livros

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    Nazismo exagerado

    Manifestação ultranacionalista na Ucrânia (Foto: Reuters)

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    Nazismo hoje não há, historiadores dizem, atualmente o neonazismo, o neofascismo. O mais próximo de um verdadeiro nazismo talvez a situação de agrupamentos extremistas na Ucrânia, que de fato carregam bagagem histórica de apoio a Hitler desde antes da Segunda Guerra Mundial.

    O ainda presidente neofascista brasileiro. Suponha-se ele um avesso ao neonazismo, pouco importa, poderá ele jurar de pés juntos que repudia a cultura ariana, que não é um antissemita, pouco importa. O mesmo sujeito ameaçou uma mulher de estupro, tripudiou pessoas morrendo sufocadas, se revoltou com o dito baixo número de mortos durante a ditadura militar brasileira, homenageou em sessão plena oficial do Estado brasileiro um torturador internacionalmente assim reconhecido, ridicularizou etnias minoritárias nacionais.

    De fato, pouco importa, o atual presidente neofascista nem precisa admitir ou não se gosta ou desgosta das teorias neonazifascistas, os pretéritos regimes de Hitler e Mussolini.

    Mein Kampf é de leitura recomendável a todos/as livres-pensadores. Em suas páginas um contexto geopolítico temporal que nos foge, leitura algo entediante, personalidades e países de época. Algo tal qual nós brasileiros discorrermos sobre detalhes de nossa política doméstica do ano de 1800 a um cidadão comum australiano agora no ano de 2022. No livro rancoroso e desequilibrado de Hitler há ideias enviesadas, a eugenia, uma raça ariana geneticamente superior, também o já desgastado preconceito histórico desde séculos atrás, o antissemitismo.

    Proibir o livro somente aumenta a tentação e a curiosidade, em geral assim ocorre com tudo o que se torna de difícil acesso. Vários argumentos outros por uma não proibição. Bem se conhece a importância história em aprender a linguagem dos inimigos.

    Disponibilizar o livro não é o mesmo do que permitir uma estátua em louvor, ou um logradouro em homenagem, a Vila Mussolini em São Bernardo do Campo, SP, explicitamente laudatória ao fascista italiano inspirador de seu colega contemporâneo alemão.

    Mein Kampf não é livro em louvor, é uma peça de museu, uma peça para tentarmos entender o conceito cru de desumanidade, o instinto reptiliano embutido fundo ao cérebro de todos nós, homens e mulheres, queiramos, gostemos, admitamos ou não.

    Cruz suástica muito anterior ao nazismo, outros símbolos, inúmeros deles, os impactantes martelos cruzados marchando da obra-prima The Wall, da banda britânica Pink Floyd. Tantas simbologias, o número 88 em camisetas pretas, o heil Hitler, H oitava letra do alfabeto. Coturnos militares negros com cadarços brancos, os brancos acima dos negros, e por aí vai.

    Infinitos simbolismos, até parece jocoso, infantil, basta usar de criatividade. Outros contextos inclusos. Religiosos um tanto lunáticos conseguem enxergar o número da besta 666 em um bocado de objetos cotidianos, em lugares, pessoas, o que for. Basta um retrato de alguém com barba ou cabelo enrolado, bastam três conchas marítimas, uma nuvem no céu que seja, então aparece um satânico número 666, e isto quando não surge a própria face asquerosa e flamejante do capiroto Exu coisa ruim em pessoa. Soa ingênuo e pueril.

    Brasil, meados dos anos 80, cidade de São Paulo, mas não somente lá, Belo Horizonte em Minas Gerais também e ainda em alguns outros lugares Brasil afora. O movimento punk forte, o movimento headbanger começando após o Rock in Rio I, apareciam ao público televisivo aqueles jovens cabeludos apelidados pela Rede Globo de metaleiros fãs de heavy metal.

    Naquela época, neste contexto underground, suástica nazista grassava tal qual mato. Se a cruz invertida do heavy metal para chocar os católicos era exibida aos quatro cantos, o que não dizer de uma simples suástica nazista que nem se sabia ao certo o significado?

    O que os jovens queriam naquela época era confrontar a sociedade careta conservadora, bater de frente com o máximo de ímpeto possível permitido por seus fortes hormônios juvenis em ebulição. O que viesse neste sentido era utilizado como armamento, seria válido, e seria uma prova de fidelidade aos ideais dos contestadores e rebeldes movimentos punk e headbanger.

    Suponha você mal-intencionado a ofender ao máximo possível alguém ao qual guarde muita raiva. Alguém que mereça por você todo um acúmulo de repúdio e intenso asco. Imagine nós, uma comunidade de progressistas, fica até mais fácil. Bolsonaristas nos odeiam, então dá-lhe xingamentos, comunistas, cubanos, petralha, stalinista, assassino de fetos, usuário de maconha, de crack, estuprador de menininhas recatadas de dez anos de idade. E dá-lhe o que vier para de fato nos tocar a fundo, incomodar, e mexer com a nossa possível serenidade e equilíbrio interior.

    Ainda não pensaram os bolsonaristas em nos tachar ou nos pregar ao braço uma suástica nazista, talvez ainda não, mas, para ofender ao máximo, alguém ainda vai ter alguma ideia assim, vai arrumar um lado lunático da história, ou teoria, ou conspiração, e vai achar um jeito de tachar os progressistas brasileiros contemporâneos tais quais os novos nazistas. Inversão de valores.

    Então meter-nos uma suástica no braço, na testa, no roteiro conspiratório global. O adrenocromo insuflado nos EUA por irracionais trumpistas, nada menos do que uma teoria conspiratória em que políticos pedófilos satanistas globais agem hoje mesmo em conluio com seres reptilianos malévolos da galáxia distante XYZ. Vem bem a calhar.

    Tabus sempre são problemáticos. Não fale! Que não se fale, jamais, não ouse, sequer pronuncie o nome expressamente proibido que trará maldições e maus presságios. Dogmas também, as verdades inquestionáveis, jamais duvidá-las, pois verdades pétreas e aceitas sempre serão. Fernando Henrique Cardoso somente se admitiu assertivamente ateu depois de seus mandatos presidenciais. Apostas na mesa, nove em dez, se admitisse antes não se elegeria.

    Abaixo os tabus, quebrem-se os paradigmas, que se falem aos jovens de hoje um pouco de tudo sobre o que no mundo há, pois cedo ou tarde inexoravelmente de tudo ouvirão, e ouvirão sob ruídos de comunicação, por meio de uma via enviesada e bem menos acurada.

    Sexo, drogas, sadismo, misantropias, o que existir em nossa sociedade imperfeita e falível, pois desde sempre existiram tais comportamentos, desde quando habitávamos úmidas cavernas. Sim, entorpecentes naturais desde a pré-história inclusos em nossa bagagem comportamental.

    Em uma das últimas eleições com voto em papel, bem me lembro, ao anular o voto, metaleiro que era então, ocorreu a ideia de que somente anular o voto seria pouco, seria suave demais. Por óbvio, a um metaleiro supostamente rebelde, meio que sem causa, se fez mais do que necessária uma atitude, o esculhambar de uma vez por todas, com ímpeto e fúria total.

    Infeliz o sujeito em cargo público eleitoral que foi conferir depois os papeizinhos, um a um, cada voto, os votos impressos. Muita gente, pra esculhambar de vez e anular o voto, mandou ver desenhado no papelzinho do voto um bocado de porcarias, neste caso citado, inúmeros pintões, pênis para os pudicos, pintos horríveis gotejantes de esperma, gigantescos, cheios de veias pulsantes, os mais feiosos possíveis, pintões anti-higiênicos ocupando todo o espaço disponível do papelzinho do voto impresso. Poderiam ser suásticas nazistas, tanto faz, a ideia era chocar, tão simplesmente isto.

    Nazismo e seu forte componente esotérico, a simpatia de Hitler pela Sociedade Thule, também o precursor fascismo de Mussolini, ele idem, seus vínculos dogmáticos com o Vaticano católico-apostólico-romano.

    Hoje no Brasil há de volta o lema Deus acima de todos. Ingrato tal mote, admitir alguém superior no comando de tudo e de todos, este ser sacralíssimo, um ente onisciente e onipresente, meio estressado e atribulado frente a tantos inúmeros botões de uma gigantesca mesa de comando, alavancas, pedais, manivelas, visores de monitoramento em tempo real. É muito trabalho para o velhinho barbudo irado e frustrado lá de cima.

    Havendo Deus acima de todos, ateus e agnósticos passam imediatamente a uma casta impura intocável, semi-humana, abominável e a ser eliminada sem dó ou piedade. Casta ignóbil a ser metralhada, perseguida, afinal raça não reconhecida por Deus sapientíssimo aleluia amém. Pobre de você, minha cara colega ateia do bairro, meu colega de trabalho, agnóstico de grande estima.

    Pensar o neonazifascismo faz-se atual e necessário, não diminuí-lo, não exacerbá-lo. Tal qual toda energia explosiva, corrosiva ou insalubre, requer máxima cautela e compreensão. Periclitante, bela palavra de interessante sonoridade adorada por juristas.

    Toda e qualquer atenção, monitoramento, é mais do que coerente, mostra-se imprescindível. O ovo da serpente está aí, incubado e viável, e nem oculto está, enxergamos tal ovo fértil e apto a eclodir, contemporâneo, em escala global. A se lamentar e a se preocupar, acá e além-mar.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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