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Ricardo Nêggo Tom

Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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Nicolás Maduro e a Ciranda da Esquerda Brasileira

O líder bolivariano deixou os imperialistas mais sem ação do que eunuco em casa de tolerância

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, celebra resultado da eleição, em Caracas 29/07/2024 (Foto: REUTERS/Fausto Torrealba)

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O imperialismo está mais angustiado que barata de barriga para cima, com a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela. Quando eu digo vitória, significa que, assim como o Conselho Eleitoral da Venezuela, eu reconheço que o atual presidente recebeu a maioria dos votos por parte da população venezuelana. E quem discordar, que me apresente as provas de que as eleições foram fraudadas, que eu mudarei o meu posicionamento. Até porque, Edmundo González Urrutia, o candidato genérico da extrema-direita e principal adversário de Maduro no pleito, não compareceu à audiência no Conselho Eleitoral. Teria se acovardado? Aliás, se Maria Corina, a candidata de fato, tivesse escolhido a porta de seu closet para representá-la nas urnas, a expressividade da candidatura seria a mesma. Mais parado do que olhar de santo católico, Urrutia não foi um fantoche suficientemente convincente para o projeto político entreguista da golpista.

Há quem consiga afirmar ser impossível Maduro ter vencido as eleições em seu país, e os motivos são os mais diversos e facilmente refutáveis. Um deles é o número de pessoas que a oposição está conseguindo aglutinar nas ruas em protesto contra o presidente reeleito. Ora, cara pálida! Me permita lembrá-los que a nossa vitória na última eleição presidencial foi mais apertada do que pum em calça legging, num cenário mais feio que briga de foice no escuro. O bolsonarismo também conseguiu reunir milhares de pessoas nas ruas descontentes com a vitória de Lula e afirmando que Bolsonaro venceu a disputa, mas foi roubado. Um descontentamento que nos rendeu os atos antidemocráticos do 08/01, como uma tentativa de golpe de Estado, e que chegou aos olhos de outros países como uma revolta legítima de um povo indignado com uma possível fraude eleitoral. O fato é que tais manifestações fazem parte de uma estratégia que a extrema-direita organizada sob o fascismo publicitário e o marketing terrorista de Steve Bannon, passou a adotar sem o menor pudor para não aceitar as derrotas impostas sobre o seu projeto político. Mas que projeto?

Eu poderia ficar discorrendo aqui sobre as questões políticas da Venezuela, as sanções e os embargos impostos sobre o país, o que dificulta o crescimento da sua economia, o olho grande que os USA têm sobre a sua reserva de petróleo, que é a maior do mundo, mas isso outros analistas mais gabaritados e preparados do que eu já o fizeram. Como eu gosto de propor reflexões, sugiro que reflitamos sobre a naturalização da interferência norte-americana na soberania de outros países. Melhor dizendo, na soberania de países que não são lacaios do imperialismo e não lambem as botas do tio Sam. EUA esses que estiveram por trás do golpe militar de 1964, que engendraram a queda da presidenta Dilma e que espionaram Lula por 50 anos. Como ficar contra Nicolás Maduro na sua luta contra um adversário tão prepotente, arrogante, autoritário e com mania de dono do mundo? Ainda que Maduro seja um sujeito meio xucro do ponto de vista diplomático, mais grosso do que dedo destroncado, e com certo viés autoritário, chega a ser constrangedor para o campo progressista questionar a lisura das eleições venezuelanas, com base na choradeira de uma oposição sem o menor escrúpulos.

O pior é quando nos damos conta de que o Brasil pode estar sendo usado pelos USA para manter o território sul-americano em ordem. O que foi acordado no telefonema entre Biden e Lula beneficia apenas a um dos interlocutores. Ao mesmo tempo em que o governo dos EUA recebe a garantia de que pode se manter focado nas eleições presidenciais, onde Kamala Harris, o Edmundo González de Joe Biden, terá uma árdua disputa contra o intragável Donald Trump, Lula se coloca como apaziguador dos ânimos politicamente exaltados no país vizinho, se comprometendo a passar credibilidade ao império e a não abalar as relações com o seu antigo aliado. Uma tarefa mais difícil do que varrer escada acima. Sobretudo, quando o secretário de governo norte-americano, Antony Blinken, optou por reconhecer Gonzalez como vencedor, engrossando o coro da suposta fraude nas eleições, e se unindo a irresponsabilidade diplomática de Javier Milei, que chegou a incentivar um cerco à embaixada da Venezuela na Argentina. Desatino que Maduro respondeu com a expulsão do embaixador argentino de seu país.

Nesse momento, o governo brasileiro está mais enrolado do que namoro de cobra, principalmente, quando Nicolás Maduro sinaliza o desejo de falar com Lula e recebe um agora não posso, pois estou conversando com seu inimigo. Depois te ligo. E Maduro do outro pensando que foi o primeiro a parabenizar Lula pela sua eleição em 2022, em meio a acusações de fraude dos abutres bolsonaristas, e também o primeiro a defender Lula quando Israel o considerou persona non grata e o seu Chanceler dispara ofensas contra o chefe do estado brasileiro pelas redes sociais. Talvez, Lula pudesse ter evitado essa problemática, mas vamos confiar na sua inegável veia estrategista e diplomática. Ela pode ter uma saída para o imbróglio, que nós ainda não conseguimos descobrir. Enquanto isso, a esquerda segue mais perdida que cebola na salada de frutas, e mais dividida que os cinco pães que Jesus ofereceu a mais de mil pessoas no milagre da multiplicação. Algo bem contraproducente às vésperas de eleições municipais importantíssimas, nas quais o campo progressista precisa recuperar as cadeiras perdidas e impedir que a extrema direita a deixe em pé e do lado de fora esperando por mais quatro anos.

O PT reconheceu a vitória de Maduro, antes de Lula se pronunciar. O líder do governo no Senado, que também é filiado ao partido, assim como outros parlamentares da legenda, não reconheceram e ainda questionaram a idoneidade do pleito. Um verdadeiro samba do partido doido difícil de acompanhar o ritmo, que acaba justificando a alcunha de "esquerdista cirandeiro" que alguns recebem dentro do segmento. Uma coisa é certa, mais certa que regra de freira: Maduro alugou um "triplex" na cabeça dos imperialistas gulosos pelo petróleo venezuelano. E eles poderão apelar, até mesmo, para um atentado contra a sua vida. Só espero que esse "tríplex" também não seja jogado na conta de Lula, e ele caia de maduro na cilada imperialista. 

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