Ninguém mata por causa de um livro
Constroem-se estádios, fecham-se livrarias
Quando o filho nasce, quando é filho, sobretudo, o primeiro presente que ganha do pai é a camisa do seu time. Ou uma bola.
Jamais um livro.
Mais crescidinho, pressionam o menino para escolher um time, o pai praticamente o obriga (até com chantagem emocional) a torcer pelo seu e o momento especial é o dia em que leva o filho pela primeira vez a um estádio.
Não - a uma biblioteca ou livraria.
Ele ganha um dinheirinho do pai para comprar na banca figurinhas de jogadores de futebol.
Não - um livrinho infantil.
Sabe de cor os nomes dos jogadores do seu time e até do exterior.
Mas não os nomes de escritores.
Todos os meios de comunicação, sobretudo a televisão, os patrocinadores e os próprios times, martelam na cabeça do torcedor que ele tem que dar a vida por seu time. E muitos dão.
Ninguém morre ou mata por causa de um livro.
As pessoas pagam uma grana para desfilar com a camisa do seu time com a marca do patrocinador estampada.
Ninguém anda com camisa de uma capa de livro.
Sobram patrocinadores para o futebol, mas minguam para os livros.
Há dezenas de mesas redondas na TV discutindo quem joga melhor; nenhuma para debater quem escreve melhor.
Constroem-se enormes estádios; fecham-se livrarias.
Pagar 200 reais para ver futebol é barato; 60, por um livro, é caro.
Jogadores de futebol ganham fortunas; escritores ganham migalhas.
Quando eu cheguei ao Brasil, em 1958, o povo cantava e dançava nas ruas:
“A taça do mundo é nossa/ com brasileiro, não há quem possa”.
Aqui era o país do futebol.
E continua sendo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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