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Ivan Rios

Sindicalista, historiador, crítico de cinema, escritor, membro do Comitê Baiano de Solidariedade ao Povo da Palestina, graduando em Direito, militante dos Movimentos de Promoção, Inclusão e Difusão Cultural no Estado da Bahia

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Ninguém sai vivo daqui

O filme "Ninguém Sai Vivo Daqui", dirigido por André Ristum é inspirado no livro "Holocausto Brasileiro"

Trecho do trailer de "Ninguém Sai Vivo Daqui" (Foto: Reprodução)

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O filme "Ninguém Sai Vivo Daqui", dirigido por André Ristum, é uma obra cinematográfica que nos transporta para o início dos anos 70. Inspirado no livro "Holocausto Brasileiro", escrito pela jornalista Daniela Arbex, o longa-metragem narra a história de Elisa, uma jovem grávida internada à força pelo pai no Hospital Colônia. A vulnerabilidade e angústia de Elisa, interpretada por Fernanda Marques, são palpáveis, mergulhando o público nas profundezas emocionais dessas vidas negligenciadas.

A década de 70 no Brasil, cenário do filme, foi marcada por profundas transformações sociais, políticas e culturais. Durante esse período, o país vivia sob o regime militar, que impôs censura, repressão e violações dos direitos humanos. Nesse contexto, o Hospital Psiquiátrico Colônia, localizado em Barbacena (MG), tornou-se um símbolo sombrio dessa época.

O Hospital Colônia, fundado em 1903, já existia antes do regime militar, mas foi durante esse período que suas práticas desumanas atingiram o auge. Originalmente destinada ao tratamento de pacientes com transtornos mentais, a instituição transformou-se em um depósito para pessoas consideradas "indesejáveis" pela sociedade. A atmosfera do filme é perturbadora, carregada de suspense e opressão, com o diretor André Ristum conduzindo o público pelos corredores sombrios do hospital. A escolha de filmar em preto e branco é significativa, refletindo a desolação e a falta de esperança que permeiam aquele ambiente, em muitos momentos remontando a obras como “A Lista de Schindler” e a “Zona de Interesse”, entretanto, a perspectiva do suspense e o teor dramático aqui apresentado assume um caráter extraordinário e único.

Comparando com a série "Colônia", também baseada no mesmo livro, percebemos diferenças sutis. Enquanto a série explora gradualmente o sofrimento dos pacientes, o filme concentra-se nos momentos mais contundentes da narrativa. Ambos oferecem experiências complementares, enriquecendo nossa compreensão desse período sombrio da história brasileira.

A relevância do tema persiste até os dias atuais. Mesmo após a reforma psiquiátrica de 2001, ainda enfrentamos desafios na área da saúde mental. "Ninguém Sai Vivo Daqui" nos convida a refletir sobre a humanidade, a empatia e a necessidade contínua de debater questões sociais em suas mais diversas camadas.

Inegavelmente, o Hospital Psiquiátrico Colônia representa uma das páginas mais sombrias da história brasileira, revelando como a sociedade pode permitir atrocidades quando se omite ou legitima práticas desumanas. O filme nos alerta para a importância de nunca esquecermos esses episódios e de continuarmos debatendo e lutando por uma sociedade mais justa e compassiva.

O desfecho do filme reserva uma surpresa dramática, reforçando a mensagem cabal de que, a ação de desumanizar conduz inevitavelmente à barbárie. Óbvio, mais precisa ser dito, nesse caso, apresentado de forma cruel e voraz. Prepare-se para ser impactado ao assistir a essa obra imperdível. Uma vez mais, salve o cinema nacional!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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