Novaes vai sair do BB, mas ameaça de privatização permanece
Por dois anos ele manteve a ideia fixa de privatização, biombo utilizado para justificar a incapacidade para liderar e enfrentar dos desafios do banco
A saída do presidente do BB, Rubem Novaes, poderia se dar pelo fraco desempenho, pela gestão sem lustro, pela falta de ideias e de projeto estratégico. Por dois anos ele manteve a ideia fixa de privatização, biombo utilizado para justificar a incapacidade para liderar e enfrentar dos desafios do banco.
Novaes atuou para atender aos desejos de seu chefe, o ministro da Fazenda, preferindo debater a ideia de privatização da empresa. E para isso priorizou medidas consideradas palatáveis e “geradoras de valor” para interessados na sua aquisição. Para entender como são as ações de desmonte das empresas antes de sua venda, basta lembrar as privatizações dos bancos estaduais no final dos anos 1990. Naquela época, a receita era reduzir número de agências, vender subsidiárias e demitir funcionários. Nos dois anos que passou no BB, Novaes trabalhou para diminuí-lo. O exemplo mais candente é a exclusão do banco nas ações de governo durante a pandemia. É perceptível que a ideia dos estrategistas do governo é deixar o Banco do Brasil fora das ações governamentais para depois justificar os ataques à empresa.
No posicionamento de mercado, é evidente a ação para diminuir a importância da empresa. Os dados mostram isso. No crédito agrícola, o banco reduziu a participação no mercado de 60% para 55%. O Pronaf Famílias caiu de 1 milhão de contratos para 700 mil. As agências foram reduzidas de 4.700 para 4.200. Os funcionários eram 100 mil e agora sao 93 mil. A iniciativa de diminuir sua atuação se completa com anúncios de que pretende alienar ativos como BB-DTVM, BB Leasing, BB Seguridade e outras. Discurso contraditório e sem ressonância nos concorrentes privados, que não abrem mão de atuarem em todos os segmentos do mercado.
A venda dos ativos de uma carteira de créditos de liquidação duvidosa para o BTG Pactual por R$ 371 milhões é mais um indicativo. Nesse caso, uma carteira com valor contábil de R$ 2,9 bilhões foi alienada por 12,8% do valor. Negócio sem transparência e sem concorrência pública, para saber se havia apetite de eventuais competidores. Venda que várias entidades da sociedade civil ameaçam questionar nas esferas judiciais e reguladoras.
O presidente do BB será trocado, mas é um erro pensar que a ideia fixa do Ministério da Fazenda de privatização vai mudar. Como dizem abertamente, trabalharão para liquidar o banco ou deixá-lo pronto para venda em eventual segundo governo. Não é à toa que usam adjetivos impublicáveis para qualificar a empresa.
A defesa de uma empresa como o BB, necessariamente, deve ser discutida a partir de sua importância como instrumento essencial para a execução das políticas de governo para o país. Mesmo governos que insistem em negar esse papel, como o atual, quando é preciso se contradizem e o usam como banco de governo. Recentemente o BB foi incumbido de socorrer empresas por meio do Pronampe - missão que cumpriu disponibilizando os recursos em tempo recorde. Enquanto isso, o setor privado, mesmo com 85% de risco governo, não liberou crédito para socorrer empresas em crise, preferindo empoçar dinheiro a correr risco sobre a fatia de 15% do crédito requerida pelo governo.
A maioria da população compreende a importância do papel social do Banco do Brasil. Mas é preciso ampliar a rede de apoiadores do BB, a partir de ações que mostrem para as pessoas e para as comunidades como ele pode e deve ser fomentador de desenvolvimento. É preciso, ainda, um plano de ação envolvendo lideranças e profissionais para propor desde ações de comunicação até proposta de atuação do BB como empresa pública.
Ou seja, é preciso juntar todos os segmentos da sociedade numa frente com força para denunciar o que representaria o fim de um banco público como Banco do Brasil.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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