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    Marcelo Diniz

    Vice-Presidente da Associação de Blogueiros de Pernambuco (ABlogPE), editor do Blog Marcelo Diniz. Diretor de Comunicação da União de Negras e Negros pela Igualdade em Pernambuco (UNEGRO-PE)

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    O bobo da corte de Trump

    Ao assumir o entreguismo e tomar para si as dores dos EUA, atacando países com quem antes dialogávamos, principalmente os europeus, Bolsonaro fez todas suas apostas em quem não tem nenhum interesse em fortalecer quem quer que seja, a não ser a si mesmo. Se Trump deseja ser o Rei do mundo, já sabemos quem é o candidato número um a bobo-da-corte!

    Bolsonaro passa 17 segundos com Trump em NY (Foto: Alan Santos/PR)

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    Uma das principais investidas da política externa do governo Bolsonaro veio abaixo hoje, quando o mundo tomou conhecimento de carta enviada pelo Secretário de Estado estadunidense, Mike Pompeo, endereçada ao Secretário Geral da Organização de Colaboração e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurria. No documento, Pompeo declara que o governo estadunidense apoia o ingresso de apenas dois países no clube dos mais ricos do mundo: Argentina e Romênia.

    Pela importância do Brasil, país que figura na nona posição no ranking econômico mundial quando levado em consideração o Produto Interno Bruto (valor de mercado de todos os bens e serviços produzidos em um determinado país no período de um ano), parece óbvia sua participação no organismo, que ganha importância num cenário em que as tentativas de construção do diálogo multipolar se vê enfraquecida pela política externa de governos conservadores e subservientes como o do próprio Bolsonaro no Brasil e o de Macri na Argentina. 

    Porém, como nem tudo na vida são números e a participação em organizações como a OCDE dependem da capacidade de articulação e de demonstrações de força, Bolsonaro transformou sua ida à Assembleia Geral da ONU em uma incursão do lobby brasileiro por uma vaga na OCDE e seu deu mal. Além das piadas prontas, como a declaração de amor ao Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, respondida com um seco “me too” (eu também) e do vergonhoso e mentiroso discurso que fez na abertura da Assembleia Geral, quebrando a tradição diplomática pacifista do Brasil no organismo, Bolsonaro também trouxe na mala a frustração de não conseguir emplacar a única vitória (de Pirro) que poderia exibir.

     O fato é que Bolsonaro, pelos compromissos ideológicos assumidos desde a campanha eleitoral, não pode assumir outra linha de atuação no cenário internacional que não a de lambe-botas dos EUA. Ao adotar a tática de estigmatizar qualquer forma de altivez econômica como “esquerdista”, preparou para si mesmo e para o Brasil uma armadilha que os EUA exploram com maestria: Não confiam o suficiente em Bolsonaro para dar-lhe uma carta de recomendação nos organismos internacionais, mas saboreiam o “Amor” declarado pelo Presidente, pedindo “favores” valiosos. Conseguiram ampliar seu domínio semicolonial sobre a América Latina, fazendo o Brasil abrir mão da presença na lista de países que recebem tratamento especial na Organização Mundial do Comércio, organização da qual os EUA não fazem parte. Para que se entenda o quão importante é a presença do Brasil na lista, o Brasil recorreu à OMC 33 vezes para proteger seus interesses comerciais, enquanto só precisou responder às reclamações de outros países durante 16 episódios. A OMC existe há apenas 24 anos. Além disso, num esforço para ganhar o apoio dos EUA à entrada do Brasil na OCDE, o Brasil isentou a entrada de cidadãos estadunidenses no país dos vistos de negócios e de turismo. 

    O que Bolsonaro não entendeu é que é preciso vislumbrar todos os interesses em jogo. Em Maio, ao afirmar publicamente o apoio dos EUA à inserção do Brasil na OCDE, Trump cegou-o quanto às disputas colocadas no cenário internacional, inclusive a disputa sobre o futuro da OCDE. Para Trump, o preço de apoiar a postulação brasileira poderia ser o de pôr fim aos planos de tomar de Gurria a Secretaria Geral da entidade. Explico: a entrada do Brasil na OCDE permitiria a mesma movimentação a outros países europeus, como Bulgária e Croácia, que apoiariam a reeleição de Gurria (a disputa se dará em 2020), contrariando os interesses dos EUA, que desejam diminuir a influência europeia no grupo e modificar a sua condução. Essa influência, que existe desde que a OCDE foi criada, com base na antiga Organização para a Cooperação Econômica Europeia (OCEE), é o grande impeditivo para que os EUA imponham seus interesses sobre a organização atual. 

    O drible de Trump em Bolsonaro é mais uma prova do equívoco geral que se tornou a política externa brasileira, que experimentou um fortalecimento sem igual nos anos anteriores, por força de uma tática arrojada, centrada na construção de alianças com países em desenvolvimento, no eixo sul-sul e no incentivo à discussão multipolar. Ao assumir o entreguismo e tomar para si as dores dos EUA, atacando países com quem antes dialogávamos, principalmente os europeus, Bolsonaro fez todas suas apostas em quem não tem nenhum interesse em fortalecer quem quer que seja, a não ser a si mesmo. Se Trump deseja ser o Rei do mundo, já sabemos quem é o candidato número um a bobo-da-corte! 

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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