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    Clóvis Girardi

    Bacharel em Ciências e Humanidades e Planejador Territorial

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    O Brasil do golpe está parado

    A população sofre com o desabastecimento (e sabemos qual a parcela da população mais prejudicada com isso: obviamente, os mais pobres) enquanto o governo não consegue chegar a um acordo minimamente razoável para a retomada das atividades. O "dream team" econômico liberal é completamente ineficiente

    Greve nacional de caminhoneiros 21/05/2018 REUTERS/Rodolfo Buhrer (Foto: Clóvis Girardi)

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    O povo brasileiro assiste à mais importante manifestação popular contra a política do governo Temer. Caminhoneiros entraram em greve com uma série de reivindicações, mas, principalmente, por conta do aumento diário no preço do óleo diesel, uma nova política de preços da Petrobrás, liderada por Pedro Parente, indicação do PSDB.

    Muito se falou, durante a semana, que a manifestação era, na verdade, um locaute (que, a grosso modo, é quando os patrões organizam a paralisação dos empregados em prol de aumentar seus lucros). Na quinta (24), o governo Temer negociou com algumas entidades o fim temporário da paralisação e atendeu a algumas demandas (sobretudo as que beneficiam empresários), comprometendo mais de 5 bilhões do orçamento da União (e sabemos de onde vai sair esse dinheiro, né? De áreas importantes) para subsidiar o combustível. A ideia de locaute não se sustenta porque hoje, 25, as estradas continuam travadas.

    É importante que se diga: os caminhoneiros, em sua maioria, são autônomos. Ou seja, dependem de uma demanda por fretes em um país cuja economia está em frangalhos. Como se isso não bastasse, o governo aumenta diariamente o preço do combustível e, consequentemente, o custo do trabalhador. A manifestação dos caminhoneiros é totalmente legítima. Estradas esburacadas com péssima sinalização, falta de segurança, alto custo dos pedágios, enfim, são muitas condições adversas. Obviamente, não estou falando das grandes empresas de logística, mas, sim, daquele senhor que comprou o caminhão financiado e que precisa passar 20 dias longe de casa sob todas essas condições para garantir o arroz e feijão de sua família.

    Outra questão que talvez não esteja sendo muito discutida é a dependência do transporte rodoviário. 5 dias de paralisação das estradas e o país beira o colapso. Falta de alimentos, medicamentos, combustíveis, enfim, falta de abastecimento. Um país de dimensão continental está parado porque a distribuição dos insumos da economia é feita majoritariamente por caminhões. Não há um sistema interligado de ferrovias e muito menos de hidrovias - alternativas bem mais vantajosas economicamente e até mesmo ambientalmente. Isso demonstra uma grande falha do nosso processo de desenvolvimento.

    Segundo dados da pesquisa Custos Logísticos no Brasil, da Fundação Dom Cabral, cerca de 75% do escoamento da produção é feito por rodovias. Esse número é alarmante e se torna ainda pior quando olhamos para o governo: não há pretensão de mudar esse quadro. Não há um projeto de desenvolvimento de modais alternativos. Não há uma questão estrutural em pauta. O que há é uma tentativa de "sangrar menos" do ponto de vista político com o episódio. E nem isso está sendo bem feito. A população sofre com o desabastecimento (e sabemos qual a parcela da população mais prejudicada com isso: obviamente, os mais pobres) enquanto o governo não consegue chegar a um acordo minimamente razoável para a retomada das atividades. O "dream team" econômico liberal é completamente ineficiente.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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