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    Rafael Cedro

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    O começo de Dilma 2: um erro de avaliação

    O que explica uma queda tão acentuada da avaliação feita pela população em relação à presidenta: a quebra de confiança

    O que explica uma queda tão acentuada da avaliação feita pela população em relação à presidenta: a quebra de confiança (Foto: Rafael Cedro)

    A queda brusca de popularidade da presidenta Dilma, conforme apontada pela última pesquisa Datafolha recém divulgada, para além do noticiário sempre tendencioso da mídia tradicional e do agravamento da crise de corrupção na Petrobras, é resultado de um erro político de prioridades.

    Dilma começou o seu 2º mandato tentando governar para a minoria que não a elegeu e que quer o seu impeachment.

    Esse foi um erro de avaliação política que parece que os estrategistas do governo não calcularam bem. Ou seja, o que explica uma queda tão acentuada da avaliação feita pela população em relação à presidenta: a quebra de confiança.

    Por um lado, os eleitores de Aécio e Marina (ainda em dificuldade de assimilar que a vitória foi de Dilma), é claro, vão ficar é apenas mais irritados com o fato de Dilma agora estar defendendo abertamente e colocando em prática um "ajuste fiscal" que agora é tido como "necessário", uma condição sine qua non para se poder voltar a crescer e preservar as conquistas sociais. Ou seja, todo o discurso que Dilma construiu durante a campanha e durante seu 1º governo foi frontalmente contraditado. Ela começou o seu 2º governo fazendo (em parte, é de se reconhecer, na política macro) aquilo que ela atacava e alegava que os seus adversários iriam fazer.

    Este é um lado da história. Se, com as sinalizações pró-mercado financeiro, os estrategistas do governo acharam que iam conquistar o apoio de parte dos Aecistas e Marinistas, o que se viu foi que esse tiro saiu pela culatra. Pois, ao invés de passarem a aderir em apoio ao governo Dilma, esses eleitores se sentiram foi é passados para trás, pois a campanha de Dilma e a própria presidenta promoveram uma exorcização justamente daquilo que agora diz que é bom e importante fazer.

    Sem falar que, de fato, é muito questionável a necessidade de um ajuste econômico tal como colocado, como sendo a única solução para viabilizar o desenvolvimento do país. Os exemplos na história e na teoria estão aí - vide a Grécia, por exemplo, ou o Brasil da década de 1990 - e muitos deles foram destacados pela própria presidenta ao longo destes últimos anos. Isso nos traz ao outro lado da história.

    A eleição presidencial de 2014 foi a mais apertada das últimas décadas, ou seja, de todo o período pós-redemocratização. A presidenta Dilma conseguiu o apoio necessário para se reeleger justamente pela mobilização que se levantou na sociedade em favor da continuidade e avanço de um modelo de desenvolvimento progressista. Em relação a estes que aqui se mobilizaram, o atual erro de avaliação política dos estrategistas do governo talvez tenha sido o maior. Dilma começou o mandato nomeando a líder ruralista Katia Abreu para o Ministério da Agricultura e o ortodoxo Joaquim Levy (ex-FMI e conhecido como o "Mãos de Tesoura") para o Ministério da Fazenda. O que se pode observar agora, com apenas pouco mais de um mês de novo mandato iniciado, é que, ao fazer isso, o governo Dilma nem conseguiu arregimentar para si apoiadores no campo do "adversário" e ainda ameaça agora a perder o apoio dos segmentos progressistas que deram nas eleições mais um voto de confiança no governo da presidente Dilma para que pudesse atravessar a atual tormenta política e o cenário adverso.

    Atravessar não pela via de seguir a pauta do "inimigo", mas promovendo a continuidade das reformas progressistas no campo econômico-social, aliando isso a um combate mais efetivo à corrupção e à forma patrimonialista de se fazer política que virou praxe no Brasil contemporâneo.

    Os eleitores de Dilma votaram na Dilma da faxina de 2011. Na presidente valente que peitou a banca financeira pela queda dos juros em 2012. E que defendia de forma clara uma estratégia de desenvolvimento econômico progressista.

    Não na presidente do ajuste fiscal. Não na presidente da "recessão necessária". Não para tocar a pauta daqueles que não venceram nas urnas e que agora pedem o seu impeachment.

    Como será que a presidenta vai se posicionar para contrapor isso? Até quando o erro de avaliação política vai continuar? Ou será que a presidenta Dilma vai esperar se esvaecer o apoio daqueles que foram às ruas para garantir-lhe os votos do segundo mandato?

    É interessante observar o alto percentual de "falsa" e "mentirosa" captado pela mais recente pesquisa do Datafolha (percepção do eleitorado sobre Dilma) e o de avaliação "ruim" ou "péssima" das ações da presidenta no início do 2º mandato. Pois, de quem não votou em Dilma, isso já era esperado.

    Os percentuais verificados, portanto, revelam a desconexão das ações iniciais da presidenta no segundo mandato com a base social que a elegeu. Com estes segmentos é que o governo Dilma deveria se preocupar mais, pois são estes quem em última instância podem defender a continuidade do governo democraticamente eleito diante das ameaças golpistas da oposição e de segmentos conservadores da sociedade e da mídia tradicional.

    Do contrário, é tudo mais do mesmo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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