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    André Barroso

    Artista plástico da escola de Belas Artes da UFRJ com curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB. Trabalhou nos jornais O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo e Correio Braziliense. 18h50 pronto

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    O conto da Aia tupiniquim

    O Estado é laico, porém existe, cada vez mais, um comportamento de aproximação entre políticos e os evangélicos

    Evangelicos (Foto: Pixabay)

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    O Brasil é um país com várias tradições religiosas, com predominância a católica, porém vemos o avanço das igrejas pentecostais com seu projeto de crescimento de influência nas entranhas do poder. Aprendemos desde cedo nas escolas que o Estado é laico, porém existe, cada vez mais, um comportamento de aproximação entre políticos e os evangélicos. Essa aproximação se torna perigosa, no momento em que existe uma moeda de troca corrente, um toma lá dá cá, algo que a instituição troca seu rebanho com capacidade de voto para pautas religiosas.

    Desde 1982 para cá, os parlamentares evangélicos passaram de 12 para 90. Uma ascensão mostrando uma tendência no Congresso e que nas pequenas prefeituras são quase 100%, tendo inclusive sessões religiosas nas casas legislativas. Temos o mandatário maior da igreja, Edir Macedo, que publicou o livro “Plano de Poder”, mostra Deus como um estadista. O crescimento exagerado entre os mais pobres, que diante dos problemas da vida, e dos transtornos causados pela crise e o empobrecimento social avassalador, leva ao amparo dessas igrejas, que estão em cada canto no Brasil, a esse sofrimento.

    Recentemente, o Instituto IPSOS, empresa de pesquisa e consultoria de mercado com sede em Paris, fundada por Didier Truchot, publicou uma pesquisa afirmando que 33% dos brasileiros acham positivo um governo de leis religiosas. Ou seja, um terço da população, 71 milhões de pessoas, acha que devemos estar sob as leis de uma religião. Não é apenas estar sob as leis da Bíblia, mas de suas interpretações ou de quem interpreta. Devemos lembrar que o grupo fundamentalista Talibã chegou ao poder com ajuda dos Estados Unidos, pois eram um grupo de resistência Mujahadin contra os soviéticos. Com a derrota e ascensão ao poder, o grupo impôs a Lei Islâmica, conhecida como Sharia. Interpretação do grupo dita de forma violenta e ultra conservadora de tudo até comportamento social.

    Já assistimos pela TV cultos antes das sessões, ou até discursos citando a bíblia para justificar algum interesse de um pequeno grupo. Talvez vejamos deputados federais praticando fanerose no meio do discurso, caindo ao chão numa manifestação da presença do Espírito Santo. Ou talvez, fazer uma sessão de Corrente da Libertação antes de uma CPI. Quem sabe veremos também um senador pedindo para falar ao púlpito um demônio para ao final serem amarrados em nome de Jesus.

    Sempre me lembra O conto da Aia, onde a distopia toma conta do poder. Uma facção católica toma o poder, porém ao invés da paz, colocam o caos com a desculpa da igreja como a Lei a ser seguida. Foulcaut sempre colocou que existem duas categorias no mundo. Os seres viventes e os dispositivos, as leis. E enquanto estivermos sob o domínio de leis ditadas por interesses, que sempre categorizam aqueles que são bons, passam pelo sacrifício, estaremos retrocedendo a Inquisição.

    O modelo de cidadão do bem, segundo a igreja evangélica, seria a Flordelis. Como resumiu um camarada, o marido de Flordelis era filho adotivo dela, ele também foi genro pois namorou a filha biológica dela, que no caso era sua irmã após o casamento ele passou a ser padrasto da irmã e ex-namorado virou marido de sua mãe e padrasto de si e ex-genro da mesma. Na casa de swing se reunia, a flor, a filha, o ex-genro de flor, o ex da filha, atual da flor, atual da filha e genro da flor. Tudo se resume a eu posso, mas você não. O modelo de comportamento para você seguir, para você votar, para você empenhar seu dinheiro, para você viver em oração e não lembrar que existe roubalheira generalizada. Todos que se auto intitulam paladinos dos bons costumes, caem em contradição. Basta ver Edgar Hoover, chefe do FBI, ia a festas vestindo um tutu de bailarina. No futuro poderemos descobrir se Atila, o flagelo de Deus, se reunia às quintas com ex-colegas de escola para fazer festas do pijama.

    O fato é que é preocupante demais esse crescimento alarmante de pessoas que acreditam nas deturpações apresentadas por uma religião interessadas no poder. Nenhuma religião, mesmo aquelas mais abnegadas a doação, devem estar acima do Estado. Afinal, Jesus não falou de templos, nem de conventos, nem organizou uma religião como a que temos. Jesus não quis ter poder político. Ele se recusou a aceitar a oferta de Satanás, o Diabo, de ser o governante de “todos os reinos do mundo”. (Mateus 4:8-10).

    Etc, etc, etc...

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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