O desespero do império na beira do colapso: a fábrica de guerras norte-americana continua de pé?
A aflição evidente do "deep state" estadunidense demonstra seu temor ao surgimento de um mundo multipolar
Desde o final do ano passado existe a construção de uma narrativa pelos Estados Unidos de que a Rússia estaria se preparando para invadir a Ucrânia e depois de várias tentativas de evitar qualquer conflito armado realizadas pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, a sanha desesperada do presidente norte americano Joe Biden por inflamar um conflito entre Rússia e Ucrânia terminou por levar a Rússia a uma intervenção militar na Ucrânia para resguardar seu território de uma ameaça militar crescente.
Mesmo com toda essa guerra midiática empreendida pelos EUA, a Rússia manteve-se firme na sua estratégia de evitar conflitos armados, tanto que chegou a enviar um documento diplomático aos Estados Unidos contendo propostas de garantias de segurança das partes envolvidas, com destaque para um alerta para que fosse evitada a entrada da Ucrânia na OTAN.
Os Estados Unidos passaram o mês de janeiro inteiro para responder as propostas da Rússia, e quando finalmente o fizeram, deram a resposta padrão de que "não fazem concessões", dando continuidade à crise fomentada por eles próprios.
Para nos situarmos na história da região, a Ucrânia fazia parte da União soviética, mas há algum tempo atrás vem se intensificando as tensões entre grupos locais pró Rússia e outros da parte mais à oeste da Ucrânia, que se sentem mais Europa do que Ásia, existindo entre estes, grupos neonazistas.
Em 2014 os grupos separatistas contra a Rússia conseguem aplicar um golpe de Estado com apoio dos Estados Unidos contra o presidente da Ucrânia, aliado da Rússia, de forma que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, considerado o golpe de Estado, reagiu imediatamente e interveio na Crimeia, importante região estratégica que dá acesso ao Mar Negro.
A grande verdade é que a guerra fria nunca terminou totalmente para os norte-americanos, sendo que a demonização da Rússia pelos Estados Unidos têm se intensificado nos últimos anos e quem acompanha geopolítica há algum tempo tem conhecimento de que os Estados Unidos se beneficiam de conflitos armados que eles fomentam direta ou indiretamente, levando toda a sua estrutura militar acompanhada de sua logística empresarial de ocupação para lucrar com a reconstrução dos países que eles próprios ajudaram a devastar.
O núcleo do império estadunidense, formado por um complexo industrial-militar, político, financeiro, com apoio de agências de inteligência, de "think tanks", da academia, da indústria cultural e da mídia jornalística, tem sido por décadas o principal fomentador de conflitos armados desde o final da segunda guerra mundial, agindo direta ou indiretamente em determinados territórios, onde provocam ou estimulam conflitos já existentes para poderem lucrar com os efeitos da guerra, sempre com a desculpa de estar ajudando a reestruturar a democracia.
Foi assim na invasão do Afeganistão, do Iraque, da grande quantidade de envio de tropas e bombardeios feitos por Obama em vários países, isso só pra falar do século XXI, pois o histórico gigantesco de intervenções da época da guerra fria fala por si só.
Não esquecendo também o apoio a ditaduras sangrentas por toda a América Latina nas décadas de 1960 e 1970, das quais nós no Brasil também fomos vítimas, tendo inclusive uma nova temporada de mudanças de regime realizadas pelos EUA na década passada, dessa vez em todo o mundo, inclusive no Brasil, com o golpe de Estado de 2016.
Dessa forma, o chamado "deep state" norte-americano exerce poder e influência ao redor do mundo desde o final da segunda guerra mundial, passando pela guerra fria e aumentando seu poder e influência no pós-guerra fria, sem ter outro polo de poder para rivalizar com ele em âmbito internacional.
Tudo ia bem com o império quando em 2008 ocorre uma crise financeira mundial, a crise do capital do século XXI, originada nos EUA, comparável à quebra da bolsa de 1929, na qual se destacou a China, pois teve impacto mínimo em relação ao mundo, sobretudo se comparado aos Estados Unidos, continuando seu crescimento econômico, de forma que em 2009 a mesma já ocupava o posto de maior exportador mundial e maior comerciante de produtos no mundo.
Sobre a Rússia, esta teve sua economia encolhida por causa da crise, mas se recuperou logo e parece ter aprendido a lidar com as sanções comerciais impostas pelo ocidente, principal arma dos Estados Unidos contra quem eles não conseguem submeter ao seu controle.
Desde então os Estados Unidos vêm promovendo uma espécie de reedição de intervenções antigas em outros países, conseguindo várias mudanças de regime ao redor do mundo, montando uma verdadeira cruzada contra China e Rússia, os atuais players geopolíticos que têm ameaçado a sua hegemonia político, militar, econômica e financeira ao redor do planeta.
Não podemos esquecer que recentemente, sem enxergar grandes avanços na estratégia de acirramento da Rússia contra a Ucrânia, os EUA promoveram no início de janeiro uma tentativa mal sucedida de rebelião colorida no Cazaquistão, país muito próximo da Rússia e também da China, o que pode representar a tentativa de construir um aliado próximo às fronteiras russas para instalar seus mísseis apontados para Moscou, que é justamente o que Putin tenta evitar ao denunciar o avanço da OTAN no leste europeu e reivindicar a não entrada da Ucrânia na organização.
Um fato interessante de se destacar é que ainda este ano, no início dos Jogos Olímpicos de Inverno na China, ocorreu a mais importante declaração da geopolítica do século XXI, o anúncio oficial da parceria estratégica Rússia-China, que representa o divisor de águas no caminho da geopolítica rumo a um mundo multipolar.
A aflição evidente do "deep state" estadunidense demonstra seu temor ao surgimento de um mundo multipolar, no qual as estratégias de dominação que tem feito uso desde o início de sua história (melhoradas no pós-segunda guerra), tornam-se inócuas, motivando o império norte-americano a buscar desesperadamente a destruição ou cancelamento internacional da Rússia.
Recentemente, Putin anunciou a retirada de tropas da fronteira com a Ucrânia, mas os Estados Unidos dobraram a aposta e passaram a afirmar que o anúncio da retirada das tropas da Rússia seria inverídico.
Ainda nesta semana foi assinado pelo presidente Putin um decreto que reconheceu a independência de dois territórios separatistas na Ucrânia, as repúblicas de Donetsk e Luhansk, ordenando em seguida o envio de forças de paz para as regiões, que sofriam a alguns anos com ataques das forças da Ucrânia e o reconheciemento da Rússia permitiu ajuda militar às mesmas.
Ontem a Rússia iniciou uma série de operações militares na Ucrânia, atendendo a um pedido dos chefes das recém reconhecidas repúblicas do Donbass, com o intuito de proteger os habitantes da região, que há oito anos são alvo de abusos e violência constantes pela Ucrânica comandada pelo regime nazifascista inaugurado em 2014.
Agora o mundo aguarda o resultado do conflito: se a Ucrânia tentará negociações com Moscou, se continuará insistindo na manutenção do regime atual, ou se haverá outra solução para a celeuma instaurada há anos e inflamada recentemente.
Por enquanto os Estados Unidos, a União Europeia e seus aliados mantêm-se nas tradicionais sanções comerciais, que já deviam estar previamente redigidas, mostrando disposição para mover suas tropas apenas para proteger os territórios de países membros da OTAN, parecendo que tudo não passou de uma simples estratégia de uso e descarte da Ucrânia, abandonando-a logo depois de atingirem seus objetivos de deter a construção do Nord Stream 2 e o consequente enfraquecimento do comércio de gás da Rússia na Europa, o que reforça a impressão de um império norte-americano ainda robusto e de pé. Até quando, com a chegada próxima de um mundo multipolar?
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