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    Mauro Santayanna

    Jornalista, tendo ocupado cargos de destaque nos principais órgãos de imprensa brasileiros

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    O dólar vermelho

    Enquanto muita gente acha que Pequim está louca de emprestar dinheiro a países como a Argentina e a Venezuela, os chineses avançam, inexoravelmente, ampliando seu poder na região, aproveitando-se da perda de influência dos EUA

    Enquanto muita gente acha que Pequim está louca de emprestar dinheiro a países como a Argentina e a Venezuela, os chineses avançam, inexoravelmente, ampliando seu poder na região, aproveitando-se da perda de influência dos EUA (Foto: Mauro Santayanna)

    A imprensa internacional destaca o crescimento da economia norte-americana, o que está sendo negado por observadores como o ex-secretário do Tesouro dos EUA John Craig Roberts, que afirma que os números são falsos, fruto de manipulação de dados de financiamento do sistema de saúde.

    Enquanto isso, cresce o protagonismo diplomático, econômico e geopolítico da China, segunda economia do mundo, dona das maiores reservas monetárias do planeta e principal credora dos Estados Unidos, que substitui Washington e a Europa como fonte de liquidez cambial, empréstimos internacionais Estado a Estado e financiamento para infraestrutura.

    A ofensiva financeira de Pequim ocorre, também, em regiões em que há forte influência brasileira, e que já foram consideradas, no passado, como um “quintal” exclusivo dos norte-americanos, o que faz com que o “establishment” dos Estados Unidos esteja, há anos, preocupado com o tema.

    Já em 2012, um relatório do “Diálogo Interamericano”, produzido pelos economistas Kevin P. Gallagher, Amos Irwin e Katherine Koleski, intitulado “The New Bank in Town” (“Um novo banco na cidade”), abordando o financiamento chinês na América Latina, mostrava que, em 2010, bancos estatais chineses emprestaram a países da região mais do que o Banco Mundial, o Banco Interamericano e o Eximbank juntos, alcançando, de 2005 a 2012, mais de 75 bilhões de dólares.

    Em 2013, essa quantia já chegava, no caso venezuelano, a 50 bilhões de dólares, na Argentina, a 14 bilhões de dólares, no Brasil, a 13 bilhões de dólares (10 bilhões a serem pagos em petróleo pela Petrobras), no Equador, a mais de 9 bilhões, e a outros países, a quantias menores de 5 bilhões de dólares, porém significativas para o porte de sua economia.

    Desse montante, 54 bilhões de dólares foram aplicados em infraestrutura, 26 bilhões de dólares em energia e o restante em outras áreas, como a mineração.

    Na primeira semana de 2015 ocorreu em Pequim a reunião ministerial do Fórum China–Celac, com a presença de aproximadamente 20 países.

    Na ocasião o presidente Xi Jinping afirmou que a China pretende investir 250 bilhões de dólares na América Latina nos próximos dez anos, quantia que poderia chegar a 500 bilhões de dólares com o dinheiro de fundos e investidores privados.

    Há obras tocadas e planejadas por empresas chinesas em toda a América Latina e Caribe, da futura ferrovia transoceânica Brasil–Peru à remodelação do Porto de Santiago, em Cuba, onde a China pretende seguir o Brasil, na intenção de instalar empresas voltadas para a venda de produtos aos EUA, quando acabar o bloqueio.

    Enquanto muita gente acha que Pequim está louca de emprestar dinheiro a países como a Argentina e a Venezuela, os chineses avançam, inexoravelmente, ampliando seu poder na região, aproveitando-se da perda de influência dos EUA e da retirada do Brasil, que, devido a "razões de política interna" (pressão contra o BNDES) recua.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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