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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    O encontro deveria ser de Lula com militares, mas virou encontro de militares com Lula

    "É preciso não expor presidente a uma condição inferior, inserindo-o numa fila de 'agendados' para almoçar com comandantes da Forças Armadas", diz Denise Assis

    Militares e Lula (Foto: ABr | Reprodução/Youtube)

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    Por Denise Assis, para o 247

    São boas as novidades e providências que vêm sendo tomadas pelo presidente Lula no sentido de se blindar do ponto de vista da segurança pessoal, do seu entorno e, principalmente, do Palácio da Alvorada, a residência oficial, onde, por óbvio, ele precisa contar com uma equipe de extrema confiança. Servido por militares ou não, ele não pode ser surpreendido por alguma cilada ou atentado contra a sua vida. São essas as pessoas que lhe servem a comida, por exemplo. Daí ser boa a notícia de que foram exonerados 56 militares colocados ali pelo governo anterior, para dar expediente.

    Sua fala durante café da manhã com os jornalistas, na semana passada, foi forte e tonificada pela indignação de quem chegou de viagem e precisou processar uma tentativa de golpe de Estado, um cenário de guerra e violência, e a experiência concreta de sua segurança ameaçada por uma equipe palaciana que tem como função militar guardar a sede do poder. Em vez disso, permitiu - propositalmente ou não -, a entrada dos bárbaros, agentes do terror, em todas as dependências do palácio, com exceção da sua sala, que é blindada. Não fosse essa providência e eles teriam conspurcado a cadeira presidencial. Alguém abriu a porta para os terroristas, suspeitou Lula, eivado de razão.

    Está no foco das investigações o comportamento das Forças Armadas que desde então fecharam-se em eloquente silêncio, e o do comando do Exército, descumpridor da ordem de desocupação do entorno do QG, o que deveria ter sido feito de motu próprio, desde o dia seguinte às eleições, quando surgiram os primeiros grupos em suas dependências. Não o fez, não deu explicações à sociedade e, em off, choraminga pela mídia, como se os ofendidos fossem eles e não o poder constituído pelo povo brasileiro, nas urnas.

    Eis que, nesse cenário, o interlocutor designado pelo presidente Lula, para aparar arestas e manter em consonância com a Constituição - como lembrou o presidente, no mesmo café com a imprensa -, o comportamento das tropas, o ministro da Defesa, José Múcio, inicia uma agenda de almoços entre os comandos e os ministros do núcleo palaciano. Muito bem. Bela iniciativa. O surpreendente, no entanto, foi ler que nessa “agenda” foi incluído para a próxima sexta-feira, ninguém menos que o presidente da República: Luiz Inácio Lula da Silva.

    Como é que é? A julgar que queremos colocar ordem nessa relação, aqui deveria haver um apito agudo e rápido, interrompendo o andamento das coisas, como num jogo de futebol. Trata-se de uma total inversão do bom andamento dessa relação. O ministro Múcio, com toda a boa vontade em acertar, construiu essa pauta de almoços entre ministros e o Comando silente.  

    Alguém não levou em conta que Lula é hierarquicamente superior a José Múcio. E se há uma vontade de abrir diálogo entre o presidente e os Comandos - coniventes? Silentes? Cúmplices? – o ideal é que isto viesse de cima para baixo.  

    É isto mesmo, senhores. Os militares, que têm tanto apreço pela hierarquia, deveriam ser comunicados de que o presidente Lula gostaria de ter um encontro com eles. Talvez fosse o caso de convocá-los ao palácio. Mas, vamos lá. Para não ficar muito ostensivo, que seja ele a se deslocar até um dos Comandos. Mas, certamente, em nome dessa tal hierarquia que lhes é tão cara, jamais esse encontro, marco da primeira aproximação Palácio + Comando (vejam que eu não escrevi Palácio X Comando), deveria ser negociada de Presidência da República para Comandos.  

    Mal dá para acreditar que um dos jornalões tenha escrito: “Diante da iminência de crise, o ministro da Defesa - o jornal errou e grafou Justiça -, José Múcio tenta marcar uma reunião entre o petista (grifo meu: ele não é um petista. É o presidente da República, fosse de que partido fosse) e os comandantes do Exército, da Marinha e Aeronáutica, o que deve ocorrer até o final de semana”. Ora, ora, ora! Nem certo está. É uma tentativa ...

    Deixar que o presidente da República entre na fila dos “agendados” para ir a um almoço com os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica (ainda que seja para levar boas notícias) é reduzir a autoridade de Lula e conceder à relação um início já com a fiação cruzada. Pode dar curto-circuito.  

    Vamos que amanhã o comandante entenda que pode “bater um fio” para a presidência, convocando Lula para um encontro. Francamente. É preciso considerar a liturgia do cargo e, num momento de extrema delicadeza, não expor o presidente a uma condição inferior (para os zelosos hierarcas), inserindo-o numa fila de “agendados” para almoçar com os comandantes da Forças Armadas.  

    A aproximação é bem-vinda, para que Lula fale diretamente aos comandantes que doravante eles comandam a ordem unida e ponto. É um primeiro passo para uma relação respeitosa e cordial, mas num encontro de comandante-em-chefe para comandados. Nunca, porém, na dependência de que o seu ministro da Defesa consiga colocá-lo na fila de “almoços”.  

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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