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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    O Gato e o Galo

    Colunista Moisés Mendes ressalta o fato de que os antifascistas que tocaram fogo na estátua de Borba Gato não são estudantes, mas “ex-estudantes que pararam de estudar para se virar sobre motos e bikes”. Para ele, “parte das esquerdas reage com a cabeça do século 20” ao criticar o ato

    Paulo Galo (Foto: Reprodução)

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    Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

    Não, os militantes antifascistas do pós-golpe de 2016 não são, como alguns esperavam, os estudantes dos institutos federais que desfrutam dos acessos multiplicados ao ensino superior pelos governos de Lula e Dilma.

    Os militantes antifascistas que põem fogo no Borba Gato são os motoboys de aplicativos, a expressão do trabalho precarizado por exploradores que não pagam salários, nem férias, nem FGTS, não pagam nada além dos centavos por quilômetros rodados.

    Os antifascistas são ex-estudantes que pararam de estudar para se virar sobre motos e bikes. Poderiam estar praticando apenas a militância trabalhista, em nome da categoria.

    Poderiam estar lutando por direitos que talvez nunca venham a ter, mas se meteram com questões políticas profundas, mesmo que apenas teóricas, simbólicas e, para alguns, até irrelevantes.

    Ao ser preso nesta quarta-feira, Paulo Roberto da Silva Lima, o Paulo Galo, líder dos motoboys, admitiu ter participado do ataque à estátua.

    Foi, disse ele, “para abrir o debate” de outra forma, porque a tentativa de retirada da estátua não vinha funcionando pelas vias ditas democráticas.

    Temos de novo os trabalhadores propondo ações e reflexões que estudantes já não conseguem fazer. Mas não o clássico trabalhador assalariado, que enfrentava as fábricas e os bancos, nesse meio que produziu Lula e todo o lastro de construção orgânica do PT.

    O motoboy dos aplicativos é o suburbano talvez nem tão suburbano e o pobre que também é da nova classe média empurrada para as ruas pelo fim dos empregos. Quantos sonharam em virar empreendedores.

    A turma de Borba Gato vai se entender com esse contingente que ascendeu socialmente de 2003 a 2016 e vem sendo pisoteado pela direita no poder.

    Está feita por eles a escolha para que a militância ganhe visibilidade. A gurizada da Revolução Periférica convoca inclusive as esquerdas para a provocação e tira muita gente boa da sesta.

    E parte das esquerdas reage com a cabeça do século 20, que debate métodos e circunstâncias à moda antiga e acha que os incendiários de estátuas comprometem a luta política.

    Os críticos são incapazes de pelo menos acolher e tentar entender o ativismo de quem viu brancos, instituições, classe média e militantes de partidos se encolherem desde agosto de 2016 que derrubou Dilma.

    A esquerda preocupada com os esquerdismos da periferia ficou chocada com o atrevimento dos motoboys que decidiram provocar o debate com uma ação de alto risco.

    São esses loucos, diz essa esquerda assustada, que podem pôr a perder as marchas pacíficas contra Bolsonaro. Tem gente batendo muito mais nos que enfrentaram Borba Gato do que no próprio Borba Gato e nos patrões de estátuas.

    E os estudantes da universidade pública? Os estudantes estão estudando, porque alguém precisa estudar, enquanto os motoboys trabalham 12 horas por dia e ainda têm que enfrentar um bandeirante bandido e seus protetores.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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