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    Carlos Alberto Mattos

    Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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    O Golpista do Tinder e a sociedade do espetáculo

    Tanto o filme quanto seu assunto integram a sociedade do espetáculo que define principalmente as elites do nosso tempo

    O Golpista do Tinder (Foto: Divulgação)

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    Estou aqui tentando analisar as sensações que tive enquanto via O Golpista do Tinder (The Tinder Swindler), o hit do mês na Netflix. Era um permanente desconforto com a forma como a história estava sendo contada. O tom de entretenimento na edição das reconstituições, das falas e das "reproduções" de comunicações virtuais, a recorrente introdução com imagens aéreas atraentes das cidades por onde Simon Leviev e suas enganadas passavam, a fluência ininterrupta com que as três mulheres narravam suas aventuras e desventuras com o golpista, tudo me instigava a desconfiança. Imaginava até um teleprompter na frente delas para reinterpretarem a si mesmas, sucessivamente, como deslumbradas, depois desconfiadas, perplexas, consternadas e por fim furiosas.

    Não quero propriamente dizer que o filme é um falso documentário, mas sua superprodução e seu interesse desesperado em entreter é parte de um fenômeno que abrange os próprios golpes de Simon/Shimon. Tanto o filme quanto seu assunto integram a sociedade do espetáculo que define principalmente as elites do nosso tempo. As redes sociais e as existências paralelas virtuais só estimularam essa síndrome. 

    A escolha de Simon por suas vítimas era guiada por um interesse romântico que incluía o espetáculo da dolce vita, dos príncipes encantados de grife com seu luxo e riqueza cuja origem se perde na fumaça do capitalismo. Simon era a personificação disso tudo, com o charme de um certo perigo a rondar sua vida. Para quê investigar a fundo aquele homem se ele oferecia a espetacularização da vida em viagens, gastos astronômicos e promessas de amor eterno? As aparências contentam, uma vez que o espetáculo só se sustenta como tal enquanto não enxergamos seus bastidores.

    Simon, por sua vez, não parecia dar os golpes com algum objetivo profissional. Era mesmo um amador, no sentido de que usava o dinheiro das mulheres para conquistar outras, numa espécie de pirâmide. E para se divertir em alto estilo. Era, no fundo, um artista construindo o espetáculo de si mesmo para si mesmo.   

    A reportagem do jornal norueguês que denunciou o caso – cuja preparação é mostrada no filme como mais um espetáculo, este de investigação jornalística – abriu outras portas de exposição para todos os envolvidos. Daí veio um filme da Netflix, uma vaquinha para as três moças pagarem suas dívidas e uma nova etapa para o sucesso do próprio golpista. Nas últimas cenas, vemos que ele estava livre e montado na grana uma vez mais. Agora já tem agente e investe em outros ramos. 

    O sucesso do filme, se por um lado amplia o conhecimento de seus crimes, também o cacifa para uma carreira de celebridade. Pois assim funciona a sociedade do espetáculo. 

    O trailer:

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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