O homem público e a educação pública...
As eleições são cíclicas e as representações eletivas tem data de validade. Bom para nós todos que não precisamos conviver por mais tempo com qualquer parlamentar que vota contra o ensino público...
Pode um deputado votar contra uma proposta de lei que beneficia a educação pública em um pais como o nosso? A resposta encontra resistência em sete cidadãos que assim o fizeram ao votar contra o FUNDEB...
Não vamos mencioná-los (algo nos diz que a história irá cobrar a posição contra a educação de cada um deles) não por qualquer motivo outro, mas por conta de uma querença nascida em um estouro de boiada...
Boiadeiro entes de Advogado, tangemos de zebuínos à indianos, passando por europeus. Sempre por precisão da boiada, cujo vaqueiro não fomos nós. Boiadeiro muito tempo, muito gado muita gente, nessa vida cavalgamos...
Mas não acreditávamos viver o dia em que um homem púbico, eleito por voto popular, votasse contra a educação pública. O grande Milton Leite diria: Que fase...
Nós outros questionamos: Quem é gado aqui? Quem tange quem e o que se tange?
Deplorável mundo novo que só faz repristinar anseios mortos de uma época em que boi e gente eram um só gado a ser tangido na ponta do esporão...
O século XXI, em sua segunda década, guarda tanto atraso civilizatório em américa latina que nos perdemos entremeio as flores e os canhões, ainda que o atraso não venha de nós, mas para nós e enquanto fruto de nossas opções políticas, colmatadas na ausência do enfrentamento que adiamos e adiamos e adiamos...
Nossa amada Londrina contabiliza um voto contra a educação pública. Logo a Londrina do Perobal, onde a noite nos sorriu e o teatro nos apresentou a vida e os botecos descolados que abriam a Skol mais gostosa do Brasil (tínhamos uma fábrica lá, em um bairro inteligentemente chamado Cervejaria). O bairro persiste, a fábrica é morta.
Londrina, todavia, sempre nos fez pensar mais do que caminhar...
Quantas lembranças vivas, quanta tolice esquecida. Crescemos em um ambiente onde cores, sons, gestos e a Skol eram naturais e pavimentavam o caminho que então se anunciava: O pecado não era vermelho, pois vermelho eram nossos pés...
Recém-chegados do interior paulista, ainda em 1982, aprendemos depressa que no Perobal a terra, além de mais vermelha, era mais tudo. Incisa, pujante; mais quase tudo...
A muiteza da vida pululava no Perobal e lá, entremeio a redemocratização e a idiotização que teimava e fez alguma escola, acreditávamos em quase tudo – a exceção de duas estultices: um elefante voador e um homem público que votasse contra a educação pública...
Tim Burton nos mostrou Dumbo e Dumbo nos fez refém de nossa descrença, para além dos doces momentos de fantasia – voa elefante, afinal quem voa não é você, mas o sonho do mago Burton...
Passada nossa época de maravilhamento, sem mentiras de nós para você, sem Manuelzão mas com Miguilim, nos atrevemos a reverenciar o espanto: Há sete homens (e mulheres) detentores de cargos públicos (são deputados federais) que votaram contra o ensino público no pais mais desigual do mundo...
Olha amigo da favela da Maré, veja bem morador da Rocinha ou você que vive em Heliópolis: Há sete parlamentares que disseram não ao futuro do Vosso filho – e isso te alcança tanto quanto, oh porra da gleba...
O Perobal nisso tudo? Ele não merecia conviver com essa realidade, suposto que a excelência da educação que lá recebemos contrasta com a ideia de representantes do povo votando contra o ensino público...
Nossa igreja (somos católicos, mas você pode ter a religião que tiver, se seu Pastor, Babalaô, pai de santo, orixá, ou religioso que o valha, se calar neste momento e sobre o tema em mesa, você está mal de líder espiritual amigo) não pode amarelar e se bastar na cobrança da volta ao culto em tempo pandêmico.
Contrário senso e honrando a história de Dom Paulo a igreja tem que se posicionar, bradando o mantra histórico que os sete assassinos do futuro desconhecem: Na educação não!!!
Fato é senhores: Hoje, o Brasil ficou mais pobre...
Como assim se o FUNDEB passou com esmagadora maioria, só recebendo sete votos contrários?
Justamente porque sete homens públicos votaram contra o ensino público e isso não se permite em um pais tão desigual quanto o nosso. Entenderam ou precisamos desenhar?
Aliás se fossemos desenhar teríamos grande dificuldade, suposto que não há caricatura que retrate a idiotização de uma não representatividade política em prol de uma negativa histórica de inclusão pelo ensino...
Há muita mãe professora a se virar em túmulos. Com a graça de não estar em um, nossa amada mãe chora lágrimas vivas de desilusão por saber que, no pais da desigualdade, há sete homens (e mulheres) públicos que votaram contra o ensino público...
As eleições são cíclicas e as representações eletivas tem data de validade. Bom para nós todos que não precisamos conviver por mais tempo com qualquer parlamentar que vota contra o ensino público...
Aqui, nem a imortal fala do extraordinário Tim Maia verberaria no que ele antevia quanto a opção política do pobre brasileiro se colocar a direta. Já não se trata disso. Do que falamos vai muito além...
Trata-se de convolar um ensino público cada vez mais excelente, a fim de que, num futuro próximo, em vez de sete completos idiotas que não tem conhecimento suficiente para entender que apenas a educação pública nos salvará, um dia, de nosso destino estamental, tenhamos uns dois ou três neoimbecis a repetir a estupidez que hora nos incomoda...
Deveras, ainda assim seriam muitos imbecis num mundo cada vez mais desumanizado a nos parir opções políticas na própria parvice e isso, só por si, nos derrota enquanto cidadão!
Quanto ao rapaz de Londrina, rogamos atenção dos que lhe ladeiam pelas missas e pelos cultos (joga em mais de um time o cidadão), bem assim aos padres e pastores que lhe pavimentaram o caminho: Vocês podem ser ingênuos, mas não são imbecis. Ou são?
Com a palavra os que fingem que tudo vai bem no reino de um novo pentecoste, uma vez que, pelo olhar de quem contabiliza esforço político e não cidadão, a vida reclama mais gado e menos gente. Muuu para vocês – novos zebuínos de um presépio de idiotas.
Elis Regina, Aldir Blanc, Moraes Moreira, Amy Winehouse, Linda Lovelace, João Pau Velho (amado Pai), Sócrates, Luiz Trochillo (o pequeno Polegar), Cláudio Cristóvão Pinho (o gerente), seu Joaquim (zelador e grande pescador) e você, Ciclone (amado tio), seguem fazendo muita falta – já deputado que vota contra a educação pública não faz qualquer falta...
Tristes e não inclusivos trópicos...
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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