O lulismo é suficiente?
O “Lulismo” responde aos anseios da sociedade? Penso que precisamos buscar um caminho de mais confronto e radicalização na defesa das nossas ideias
As pesquisas de opinião, realizadas desde o final de fevereiro até o início de março, trouxeram notícias ruins para o governo. Não é uma situação trágica, nem catastrófica, longe disso, mas não é confortável. Já escrevi que não cabe ao governo fazer o embate ideológico, mas aos partidos e à militância, ao artigo de hoje, talvez seja complementação daquele
A reflexão de hoje parte do fenômeno que André Singer chama de “Lulismo” e procura entender se, quase uma década e meia depois de Lula haver concluído o seu segundo mandato, o “Lulismo” ainda atende aos anseios da sociedade.
Não me sai da cabeça que um jovem que hoje tem dezoito anos conhece Lula e muito menos a realidade que a minha geração viveu; assim como um adulto, com trinta anos hoje, era apenas um adolescente que cursava o ensino médio em 2010; eles não sabem que os governos Lula provocaram significativa mudança social, especialmente a partir de 2005, nem que essas mudanças poderiam ter levado o país, apesar de todas as contradições e injustiças a serem conhecidas e vencidas, à construção de um Estado de bem-estar social, em que se promoveria a melhoria da vida dos mais pobres sem desagradar ao grande capital (salvo melhor juízo, é assim que Lula pensa e essa seria a natureza do “Lulismo”: a construção e reconstrução permanente de arranjos institucionais); contudo, esse adolescente e o jovem adulto lembram-se: das marchas de junho de 2013; da Lava-Jato; da narrativa midiática de que Lula e o PT são, respectivamente, ladrão e uma organização criminosa; do afastamento da Presidenta Dilma “por crime de responsabilidade”; do MBL; do Vem Pra Rua; da criminalização da Política e dos políticos de esquerda, assim como vivem a ascensão da extrema direita e do neopentecostalismo.
Hoje 45% dos brasileiros têm até trinta anos e eles, a meu juízo, não conseguem compreender o significado dos ganhos sociais trazidos pelo Lulismo, quem deveria contar isso a eles são todos os partidos e líderes, do centro para a esquerda, que participaram dos governos Lula e Dilma, contudo, estão todos mergulhados em pautas que não interessam ao povo brasileiro, num progressismo bobo e que não alcança ninguém fora da própria bola.
Bem, André Singer afirma que o Lulismo se caracteriza, fundamentalmente, por um “reformismo fraco”, ou seja, por uma transformação lenta, sem ruptura com o passado e gestada pela coalização heterogênea entre setores modernos e tradicionais da sociedade, ou seja, mudanças sociais podem ocorrer, desde que não ameaçassem a ordem dominante. Sem rupturas e sem radicalizar o discurso (será que isso deu certo? Será que dará certo no chamado Lula 3?)
Lula manteve no seu primeiro mandato a política econômica do governo de FHC, que agrada o mercado financeiro e, aproveitou-se do boom das commodities para promover políticas distributivas, dando aos pobres sem tirar dos ricos, ou seja, Lula promoveu, nas palavras de Singer: “redução da pobreza e da desigualdade, mas sob a égide de um reformismo fraco”, sem mexer no bolso dos ricos.
Foi o boom das commodities possibilitou também que Lula sustentasse o programa próprio do “Lulismo” no seu segundo mandato através de um plano econômico de caráter neodesenvolvimentista, o qual foi intensificado por Dilma, rompendo, assim, com a matriz econômica de FHC.
O lulismo é, então, a tentativa de realizar dentro da ordem mudanças que beneficiam a população. Para coordenar a coalizão política no Congresso, Lula fez como FHC: optou por obter a adesão fisiológicas das correntes e personalidades e, aliado a esse grande bloco de apoio parlamentar, implementou o seu reformismo fraco, noutras palavras: quem afirma que os governos Lula e Dilma buscaram rupturas com o capitalismo equivoca-se ou age de má-fé.
Temos que reconhecer que as políticas sociais focadas nos mais pobres entres os mais pobres, como os organismos financeiros internacionais recomendam, foram implementadas no período FHC e que, com Lula, elas ganharam uma dimensão muito maior. No ponto máximo dessa trajetória, o programa Bolsa Família atingiu cerca de 50 milhões de pessoas, ou ¼ da população do país. Combinado a isso, foi promovido uma pequena, mas contínua elevação do salário-mínimo, combinada à ampliação do crédito, o que ampliou a capacidade de consumo dos setores mais pauperizados da classe trabalhadora.
Ocorre que o que se vê é parcela da população, que havia saído da miséria, retornar à condição terrível de exploração e expropriação e o PIB per capita passar de R$ 8.519 para R$ 7.559, o que significa que ele “encolheu” 11,3% no período de 2013 a 2020. Quem é o responsável por isso? O neodesenvolvimentismo de Lula e Dilma? A alardeada corrupção dos governos petistas? A Lava-Jato, Aécio, Cunha, o injusto afastamento de Dilma, os governos Temer e Bolsonaro?
Mas, a meu juízo, a questão mais importante é: o “Lulismo” responde aos anseios da sociedade? Penso que precisamos buscar um caminho de mais confronto e radicalização na defesa das nossas ideias, estamos reativos demais, enquanto os nossos adversários tem buscado o confronto e radicalizado, barbaramente, o discurso e pratica; ofensas, mentiras, ataques pessoais, destruição de reputações, uso da fé e do medo, etc.?
Peço ajuda “aos universitários”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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