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    Ben Norton

    Jornalista independente e editor do Geopolitical Economy Report

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    O novo presidente de Burkina Faso condena o imperialismo, cita Che Guevara, alia-se à Nicarágua, à Venezuela e à Cuba

    Traoré jurou lutar contra o imperialismo e o neocolonialismo, invocando Thomas Sankara, citando Che Guevara e aliando-se à Nicarágua, Venezuela e Cuba

    Ibrahim Traoré, presidente de Burkina Faso (Foto: Reuters)

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    Originalmente publicado no Geopolitical Economy Report em 03.08.23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

    O novo presidente de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, jurou lutar contra o imperialismo e o neocolonialismo, invocando Thomas Sankara, o antigo líder revolucionário do seu país, e citando Che Guevara.

    A nação da África Ocidental também estabeleceu laços diplomáticos íntimos com os governos revolucionários da Nicarágua, da Venezuela, de Cuba e do Irã, bem como a arquirrival da OTAN, a Rússia.

    Em janeiro de 2022, um grupo de oficiais militares nacionalistas em Burkina Faso depuseram o presidente Roch Kaboré, um rico banqueiro que fomentou laços íntimos com o antigo colonizador do país, a França, onde ele foi educado.

    Os oficiais militares declararam um governo operado por aquilo que eles chamam de Movimento Patriótico para Salvaguarda e Restauração (MPSR - Mouvement patriotique pour la sauvegarde et la restauration), liderado por um novo presidente, Paul-Henri Sandaogo Damiba.

    Eles juraram buscar a verdadeira independência da hegemonia francesa, condenando as políticas neocolonialistas e o controle econômico, político e militar que Paris ainda exerce sobre a África Ocidental francófona.

    Burkina Faso acabou com o seu acordo de décadas com a França, expulsando centenas de soldados franceses que estavam no país há anos.

    No início, o novo presidente, Damiba, era popular. Mas o apoio diminuiu, à medida que ele foi incapaz de derrotar os mortíferos insurgentes Salafi-jihadistas que desestabilizaram o país.

    Em setembro de 2022, o descontentamento levou a um golpe de estado subsequente em Burkina Faso – o qual trouxe ao poder um outro líder militar nacionalista chamado Ibrahim Traoré. Ele só tinha 34 anos na época, tornando-o um dos mais jovens líderes do mundo.

    Traoré jurou executar uma “refundação da nação” e uma “modernização”, debelar o extremismo violento, lutar contra a corrupção e “reformar totalmente o nosso sistema de governo”.

    O carismático líder burkinabè frequentemente termina os seus discursos com a frase "La patrie ou la mort, nous vaincrons!" [A pátria ou a morte, venceremos], o lema oficial da Cuba revolucionária: “Patria o muerte, venceremos!”

    Como presidente, Traoré trouxe de volta algumas das ideias revolucionárias de Thomas Sankara.

    Sankara foi um oficial militar burkinabè era um marxista e um pan-africanista comprometido, que chegou ao poder num golpe de estado em 1983.

    Samkara lançou uma revolução socialista, transformando o país empobrecido através da reforma agrária, o desenvolvimento de infraestrutura e programas extensivos de saúde e alfabetização.

    Sob a liderança de Sankara, Burkina Faso também desafiou o neocolonialismo francês e seguiu uma política externa anti-imperialista, formando alianças com lutas revolucionárias em todo o Sul Global.

    Estas políticas esquerdistas foram revertidas em 1987, quando Sankara foi derrubado e morto em um outro golpe de estado, liderado por seu antigo aliado Blaise Compaoré – quem, subsequentemente, moveu-se radicalmente para a direita e se aliou com os EUA e a França, governando através de eleições fraudulentas até 2014.

    Atualmente, Ibrahim Traoré está se apoiando muito no legado de Sankara. Ele deixou claro que ele quer que a África Ocidental, e o continente como um todo, se liberte do neocolonialismo ocidental.

    Neste mês de julho, o governo da Rússia realizou uma Conferência de Cúpula Rússia-África em São Petersburgo. Traoré foi o primeiro líder africano a chegar para a conferência. Uma vez lá, ele proferiu um impetuoso discurso anti-imperialista.

    “Nós somos os povos esquecidos do mundo. E nós estamos aqui agora para falar sobre o futuro dos nossos países, sobre como as coisas serão amanhã no mundo que estamos buscando construir, e no qual não haverá interferência nos nossos assuntos internos”, disse Traoré, segundo uma transcrição parcial publicada pelo veículo de mídia estatal russo TASS.

    A TASS reportou o seguinte:

    No seu discurso, o chefe de estado burkinabé também focalizou na soberania e na luta contra o imperialismo. “Por que a África rica em recursos permanece sendo uma das regiões mais pobres do mundo? Nós fazemos estas perguntas e não conseguimos obter respostas. No entanto, nós temos a oportunidade de construir novas relações, que nos ajudarão a construir um futuro melhor para Burkina Faso”, disse o presidente. Os países africanos sofreram durante décadas com uma forma bárbara e brutal de colonialismo e imperialismo, que poderia ser chamada de uma forma moderna de escravidão, ele salientou.

    “No entanto, um escravo que não luta [pela sua liberdade] não merece qualquer indulgência. Os chefes dos estados africanos não devem se comportar como fantoches nas mãos dos imperialistas. Nós devemos nos assegurar que os nossos países sejam auto-suficientes – incluindo o suprimento de alimentos – e que consigamos atender todas as necessidades dos nossos povos. Glória e respeito aos nossos povos; vitória para os nossos povos! Pátria ou morte!”, resumiu Traoré, citando as palavras do legendário líder revolucionário cubano Ernesto “Che” Guevara. O presidente de 35 anos de Burkina Faso vestia um uniforme de camuflagem e uma boina vermelha durante a conferência de cúpula.

    Em 29 de julho, Traoré teve uma reunião privada em São Petersburgo com o presidente russo Vladimir Putin.

    Nas suas conversas, o líder burkinabê elogiou a União Soviética por derrotar o nazismo na Segunda Guerra Mundial.

    Burkina Faso fortalece os seus laços com os movimentos revolucionários latinoamericanos - O novo governo nacionalista de Burkina Faso também procurou aprofundar os seus laços com movimentos revolucionários na América Latina.

    Em maio, o primeiro-ministro da nação da África Ocidental, Apollinaire Joachim Kyélem de Tambéla, viajou para a Venezuela.

    Tambéla se encontrou com o presidente venezuelano Nicolás Maduro - que jurou “fazer avançar em cooperação, solidariedade e crescimento … construindo uma sólida relação fraternal”.

    Em julho, o primeiro-ministro burkinabé viajou à Nicarágua para celebrar o 44º aniversário da Revolução Sandinista.

    Tambéla participou da celebração da revolução em Manágua em 19 de julho, à convite do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega.

    Em seguimento ao golpe de estado de setembro de 2022 em Burkina Faso, o novo presidente, Traoré, surpreendeu muitos observadores ao escolher como seu primeiro-ministro um seguidor de muito tempo de Thomas Sankara, Apollinaire Joachim Kyélem de Tambèla.

    Tambèla foi um aliado de Sankara durante a revolução burkinakè. Quando Sankara assumiu o poder em 1980, Tambèla organizou um movimento de solidariedade e buscou apoio internacional para o novo governo esquerdista.

    Tambèla é um pan-africanista e tem sido filiado a organizações comunistas e esquerdistas.

    Num discurso em dezembro, Traoré disse que Tambèla ajudará a supervisionar o processo de “refundação da nação”.

    Ao nomear Tambèla como primeiro-ministro, Traoré demonstrou tangivelmente o seu compromisso em reviver o legado revolucionário de Sankara.

    Nas suas declarações no aniversário da Revolução Sandinista, Tambèla comentou sobre o legado de solidariedade entre as revoluções de Burkina Faso e da Nicarágua.

    Tambèla relembrou que Sankara visitou a Nicarágua em 1986 e que o líder sandinista Daniel Ortega visitou Burkina Faso no mesmo ano.

    Quando discursou na Assembléia Geral da ONU em 1984, Sankara declarou: “Eu também desejo sentir-me próximo aos meus camaradas da Nicarágua, cujos portos estão sendo minados, cujas cidades estão sendo bombardeadas e que, apesar de tudo, enfrentam com coragem e lucidez o seu destino. Eu sofro com todos aqueles na América Latina que estão sofrendo com a dominação imperialista”.

    Em 1984 e 1986, Sankara também visitou Cuba, onde se encontrou com o revolucionário presidente Fidel Castro.

    “Para as pessoas da minha geração, há coisas que nos unem com a Nicarágua, com Augusto César Sandino, com a Frente Sandinista de Libertação Nacional e com o Comandante Daniel Ortega”, disse o primeiro-ministro Tambèla, de Burkina Faso, no seu discurso em Manágua em 19.07.23.

    “Nós aprendemos a conhecer a Nicarágua. Quando a luta de libertação começou, eu era pequeno, mas nós seguíamos, dia a dia, o contexto da libertação da Nicarágua. Em julho de 1979, quando eles entraram em Manágua, nós ficamos felizes, as pessoas da minha idade comemoraram isso”, ele lembrou.

    “E depois, quando Thomas Sankara chegou ao poder, Daniel Ortega e a Revolução Sandinista ficaram felizes por nós; enquanto estudantes, nós estudamos muito a história da Nicarágua e seguimos a sua evolução”.

    Tambèla acrescentou que Burkina Faso apoia a Nicarágua no seu caso contra os EUA no Tribunal Internacional de Justiça. Washington foi considerada culpada por patrocinar ilegalmente os esquadrões da morte dos “Contra” direitistas – que travaram uma guerra de terror contra o governo esquerdista, bem como plantaram minas nos portos da Nicarágua. (No entanto, apesar da Nicarágua ter vencido o caso em 1986, o governo dos EUA recusa-se até hoje a pagar um único centavo à nação centroamericana das reparações que lhe devem legalmente.)

    “A luta da Nicarágua também é a luta do nosso povo”, salientou Tambèla.

    No seu discurso de 19 de julho, o primeiro-ministro de Burkina Faso também enviou saudações especiais às delegações de Cuba, Venezuela e do Irã.

    “Nós temos relações muito próximas com Cuba”, acrescentou Tambèla. “O presidente Fidel Castro tem sido e foi uma pessoa muito importante para a revolução na África; nós temos excelentes memórias, tanto de Cuba quanto do presidente Fidel Castro”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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