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Wilson Luiz Muller

Integrante do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)

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O PT cresceu mais do que quer admitir a mídia monolítica

Em termos numéricos, é preciso considerar a alta abstenção na eleição de 2020

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Para avaliar a votação obtida pelo PT em 2020, é preciso considerar o contexto.

Em 2012, o PT elegeu 628 prefeitos. Em decorrência dos intensos ataques da Lava Jato e do golpe contra a presidenta Dilma, mais de 100 prefeitos eleitos pelo PT abandonaram o partido. 

O PT chegou nas eleições de 2016 tendo em torno de 500 prefeituras sob seu comando, entre as quais estavam várias das maiores cidades do país. Essa base sólida contribuiu para que o PT conseguisse eleger 256 prefeitos em 2016, mesmo sob intenso ataque.

Por ocasião da eleição de 2020, o PT tinha sob seu comando a metade das prefeituras em comparação com 2016. Neste ano de 2020, o PT não comandava nenhuma capital ou cidade com mais de 200 mil eleitores. 

A eleição de 2020 foi marcada pela pandemia, com uma forte tendência da população em manter os atuais prefeitos no poder, ou de eleger seus sucessores. Não havia em 2020 um sentimento anti-sistema como tinha sido provocado em 2016 pela Lava Jato. 

Para ganhar as prefeituras nas maiores cidades em 2020, o PT precisou atuar como oposição em todas elas. Enquanto que os partidos do centro, da direita e da extrema-direita, que ocupavam a totalidade das grandes prefeituras, precisavam apenas manter o mandato dos seus prefeitos. Em muitos locais, em especial nas capitais, os atuais prefeitos foram agraciados com propaganda gratuita da mídia monolítica desde o início da pandemia.

Em termos numéricos, é preciso considerar a alta abstenção na eleição de 2020.

2016: 144,1 milhões de votantes aptos. Abstenção de 17,58%. Votos totais a considerar: 118,8 milhões 

2020: 147,9 milhões de votantes aptos. Abstenção de 23,48%. Votos totais a considerar: 113,2 milhões 

Percentual de votos do PT em 2016: 6,8 milhões - 5,7%

Percentual de votos do PT em 2020: 6,97 milhões - 6,2 %.

Em 2020, o PT teve um crescimento absoluto de 0,5% em relação ao total de votos válidos,  o que corresponde a 566 mil votos. Em termos proporcionais, é um acréscimo de 8,3% em relação à votação obtida em 2016. 

O PT perdeu 500 mil votos na cidade de São Paulo. Apesar disso, obteve aumento proporcional de 566 mil votos no país. Ou seja,  o PT não apenas compensou a perda de votos em São Paulo (500 mil), como ainda teve 566 mil votos a mais nas demais cidades, se comparado com as  eleições de 2016.

A melhora nos resultados pode ser percebida especialmente nas grandes cidades, com exceção de São Paulo e Belo Horizonte. O PT disputará o segundo turno das eleições em 15 das 57 maiores cidades do país, tendo chegado em primeiro lugar em 7 dessas cidades. Em 2016, o PT elegeu apenas um prefeito nesse grupo das maiores cidades. Nas capitais e nas maiores cidades do país, o  PT obteve este ano um aumento de votos superior a 20% em comparação com 2016.

Conclui-se que, mesmo em condições materiais mais desfavoráveis em 2020 (pandemia e 250 prefeituras a menos sob seu comando em comparação a 2016), o PT obteve agora um resultado melhor do que na eleição anterior. Este resultado poderá melhorar bastante caso se confirme a eleição de alguns dos candidatos do partido que disputam o segundo turno. Os resultados demonstram uma boa recuperação do partido ante a grande derrota sofrida na eleição anterior.

Em 2016, a mídia monolítica festejou o insucesso eleitoral do PT como o início da extinção do partido. Porém, já na eleição presidencial de 2018, mesmo com Lula excluído do pleito pela Lava Jato, o PT fez 45% dos votos no segundo turno. O contexto demonstra que não há uma relação direta entre os resultados da eleição municipal e a presidencial. Evidencia também, mais uma vez, a resiliência e o enraizamento do partido na sociedade brasileira. 

Mesmo com o crescimento de outras siglas de esquerda nas eleições de 2020, o PT continuará sendo o maior partido no campo democrático e popular. Porém,  o resultado da eleição municipal deste ano mudará a correlação de forças. A hegemonia que o PT tinha nesse campo não é mais um fato dado. 

Os partidos de esquerda já tem experiências inovadoras de mandatos coletivos compartilhados. Certamente saberão encontrar caminhos para desenvolver um novo conceito de hegemonia compartilhada entre todas as forças que lutam verdadeiramente para livrar nosso país do desastre em que foi jogado pelas oligarquias atrasadas. 

As falsas elites,  por falta – ou desinteresse – de ter projeto de país, almejam tão somente ganhar cada vez mais dinheiro em menos tempo. Foi só por isso que os endinheirados jogaram o país nos braços de Bolsonaro e seus milicianos. 

Caberá às forças de esquerda liderar o processo de  resgate de um rico país entregue aos salteadores.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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