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    Gustavo Conde

    Gustavo Conde é linguista.

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    O que aconteceu com Jair Bolsonaro?

    O jornalista Gustavo Conde chama a atenção para a mudança de comportamento de Bolsonaro. Ele indaga: "houve uma transmutação drástica no comportamento de Bolsonaro. A coisa é grave. O trauma foi muito grande. Ele está calado, absolutamente silenciado. Quem comanda o governo em seu lugar?"

    Enfraquecer partidos é o primeiro passo para a ditadura (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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    O engraçado é que o jornalismo brando deste país duro mal consegue pautar e investigar a notícia mais impressionante das últimas semanas: como se deu a mudança de comportamento de Bolsonaro?

    Daria uma constelação de reportagens, todas de profundo interesse público e de forte engajamento digital.

    Perguntas a se fazer: quem teria dado o "tranco" no verme? Em que momento houve o enquadramento? Foram os militares? A Globo participou do processo? Paulo Guedes? Os integrantes das frentes amplas "apontaram caminhos" para o 'presidente'? Qual o papel do Wassef? A prisão de Queiroz foi mesmo um sinal de alerta? Os filhos estão desesperados? O gabinete do ódio faliu?

    São perguntas básicas, pertinentes, palpitantes, jornalísticas, técnicas, necessárias.

    Mas qual redação se dispõe a construir uma editoria não acoelhada?

    O fato concreto é o seguinte: houve uma transmutação drástica no comportamento de Bolsonaro. A coisa é grave. O trauma foi muito grande. Ele está calado, absolutamente silenciado. Quem comanda o governo em seu lugar?

    Bolsonaro dá mostras de que quer aguentar até 2022. Está mais que domesticado, está "lobotomizado".

    Muitos dirão: "eu não acredito nisso". "É dissimulação".

    Óbvio que é dissimulação. Mas é uma dissimulação inédita, seja pela duração - caminhando para 10 dias - seja pela expressão (cínica) de dor, tristeza e "humildade" deste atiçador de auditório que ocupa a cadeira de presidente.

    O palhaço morreu? O terrorista fugiu? O ladrão de cachorro sentou no próprio rabo?

    Bolsonaro perambula de orelha baixa por Brasília. E olha que não é qualquer orelha (é uma orelha grande).

    Enquanto isso, o país chega a 60 mil mortes por covid. Enquanto isso, a imprensa paz e amor esconde a catástrofe brasileira (que os veículos internacionais mostram) a mando do empresariado e do mercado financeiro que celebra a morte de pretos e pobres e a proteção de brancos e ricos.

    Enquanto isso, os milhões de entregadores por aplicativo fazem uma paralisação épica para saírem da condição análoga à escravidão, terror do mundo do trabalho jamais imaginado nem pelo mais pessimista dos apocalípticos e desintegrados comentadores de rede social.

    O que está acontecendo, afinal?

    Depois da calmaria vem a tempestade, diria o clichê mais surrado, à tiracolo de nossa impaciência retórica.

    O Brasil ferve, os brasileiros morrem e, por incrível que pareça, imprensa e governo atravessam sua calmaria, sua trégua recíproca.

    Eu não ficaria otimista com o que vem por aí. Não será nada menos do que uma explosão - e o Brasil merece uma explosão.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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