O que deveríamos ter aprendido nos últimos anos
Seis anos mais tarde da grande recessão, o mundo está uma situação muito diferente e se olharmos para Brasil, Estados Unidos e Europa, algumas lições são valiosas
A grande recessão está perto de completar seis anos. Em setembro de 2008, eu estava em Brasília em um evento comemorativo dos 200 anos do Ministério da Fazenda quando chegou a notícia da intervenção do governo republicano dos EUA no Fannie Mae (Federal National Mortgage Association) e Freddie Mac (Federal Home Loan Mortgage Corporation). À minha direita o ex-ministro Ciro Gomes mostrava sua aprovação à tal medida; a grande recessão colocaria dogmas em cheque, pois quem iria imaginar um governo republicano interferindo na economia para evitar falência.
Alguns dias depois, em meio a uma avalanche de problemas com outras instituições financeiras, o mesmo governo deixaria Lehmann Brothers quebrar. No dia 15 de Setembro de 2008 o Dow Jones caiu, 504 pontos, equivalente a 4.4% e o S&P 500 , 4.7%. No dia 17 de setembro, o Dow Jones caiu mais 4 %. O FED tentou aprovar um pacote de compra de títulos podres e perdeu a votação, fazendo o Dow Jones cair mais 777.78 pontos no dia 29 de setembro. Eu poderia continuar a relembrar estes episódios seguindo até março de 2009 quando começa a recuperação do mercado acionário americano. Seis anos mais tarde, o mundo está uma situação muito diferente e se olharmos para Brasil, Estados Unidos e Europa, algumas lições são valiosas.
A Europa passou por varias crises neste período, sendo os episódios da Grécia, Chipre, e das economias periféricas, como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda, os mais traumáticos. O Banco Central Europeu demorou a embarcar na política de promover a liquidez, como fez o FED Americano, e foi preciso uma troca de comando no ECB para que isto ocorresse. A política de austeridade prevaleceu e passados seis anos, a recuperação da economia europeia que parecia certa em 2013, está comprometida. O PNB da Alemanha e Itália, as duas principais economias da região, caiu e na terceira maior economia, a Francesa, estagnou.
Do outro lado do Atlântico, a economia que apresenta melhor resultado é a Inglesa, resultado da politica de liquidez implementada pelo Banco da Inglaterra, combinada com estimulo fiscal. A insistência de Angela Merker na politica de austeridade não tem dado muito resultado. Os keynesianos devem estar mais uma vez felizes em ver que gastos governamentais quando apropriados, geram bons resultados.
O Brasil passou de favorito entre os emergentes, a ovelha negra. Temos que agradecer a política intervencionista da Presidente Dilma por este novo papel. Para esclarecer: hoje mais de 30% dos preços na economia brasileira são controlados pelo governo assim como a taxa de cambio, também controlada pelo governo. A Petrobrás passou a ser a empresa mais endividada no setor (com uma relação divida/valor de Mercado de quase 86%). O Governo gasta mais e gasta improdutivamente; não confundir este gasto com o estimulo dado pelo Governo anterior durante a crise de 2008, gasto este necessário para ajudar a recuperação depois da crise.
A situação dos EUA comprova que política fiscal e monetária, combinadas com mercado livre, é a melhor receita. Enquanto os outros países se confrontam com problemas de crescimento e desemprego, os indicadores da economia Americana são muito bons. É verdade que é um crescimento moderado, cerca de 2% em media, mas é consistente. O desemprego continua caindo e a inflação continua baixa. No Brasil a inflação está em alta e na Europa, o receio é deflação. Outra lição que deveriamos ter aprendido é que excesso de liquidez nem sempre gera inflação e divida publica nem sempre é uma catastrofe.
Em um mês, a política vai nos mostrar mais claramente o que esperar em 2015 no Brasil e EUA. No Brasil teremos eleições presidenciais e mais uma vez o destino joga um papel importante: a trágica morte de Eduardo Campos e a candidatura de Marina mudaram o quadro político. Até um mês atrás a vitória de Dilma, parecia certa o que não ocorre agora. Ao contrário, agora Marina parece imbatível. Esta será uma eleição competitiva, dificil, mas não devemos subestimar o "cacife" da atual presidente. Como já disse aqui em outra newsletter, seja quem for o vencedor um realinhamento de preços e cambio será necessário, portanto, a situação vai piorar antes de melhorar. Eu não esperava nada em 2014 e não espero muito de 2015.
Os investidores estão otimistas e acumulando ativos brasileiros não só porque estes ativos estavam desvalorizados, mas porque acreditam que qualquer coisa é melhor do que Dilma na presidência. Acreditam que o risco de um downside é menor do que o potencial upside. Eu não compartilho esta opinião e continuo a manter distância dos ativos brasileiros.
Nos Estados Unidos teremos a eleições para o Congresso e se os democratas perderem o controle do Senado, o último ano do presidente Obama será ainda mais difícil do que foi até agora. Felizmente, o papel do presidente na determinação dos rumos da economia nos EUA, é menor do que pode parecer. Mais importante neste momento é o que o FED vai fazer a medida que a economia melhora e como o mercado reagirá. Para ser exata: já sabemos que a compra de títulos acaba em Outubro e a questão é saber quando terá inicio a alta de juros. Aí, ainda mais importante é saber como o mercado reagirá ao anúncio da alta. Mais uma vez monitorar posições é a palavra de ordem.
Na Europa, o fator decisivo vai ser fiscal. Em forte discurso em Jackson Hole, Dragui condenou a austeridade e pediu relaxamento fiscal. Será que Angela Merkel, hoje a única defensora da austeridade, vai se curvar às pressões crescentes para o relaxamento ou vai insistir no mantra da austeridade? Na semana passada o ECB baixou mais ainda a taxa de juros, de 0,15% para 0,05%, provocando mais desvalorização do Euro e alta nos mercados acionários europeus.O ECB anunciou também um programa de compra de ativos e está quase chegando numa politica de QE(Quantitative Easing). Este é outro tema que deverá ser acompanhado, qual seja as políticas divergentes do FED e ECB, uma com tendência a aperto monetário e outra com relaxamento.
Os riscos geopolíticos diminuíram nas últimas semanas com o acordo de cessar fogo entre palestinos e israelenses e mais recentemente as conversações entre Ucrânia e Rússia. Entretanto o ISIS é uma ameaça crescente. O mercado financeiro ignorou os riscos políticos nos últimos meses e de certa forma com razão já que não há impacto imediato nos Estados Unidos. Na Europa, a situação é diferente, as tensões estão todas na vizinhança, com impactos econômicos devido as relações comerciais entre os países envolvidos. A Rússia respondeu às sanções europeias banindo importações de carne, porco, peixe e outros produtos europeus. Ainda que o impacto na Europa seja pequeno no curto prazo em termos do crescimento econômico, a continuação das sanções acabará afetando a confiança empresarial e dificultando a tomada de decisões de investimento e, aí sim, tendo um efeito negativo mais profundo em uma região que agora só deverá crescer 1% no ano.
Mais uma vez e como tem sido a norma nos últimos anos, investir nos EUA é a melhor opção.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: