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    O que esperar em 2015

    Não quero ser alarmista, nem pessimista, embora o mundo esteja me dando muitos motivos para isto, mas acredito que cada um de nós deve acompanhar com muita atenção os acontecimentos

    Não quero ser alarmista, nem pessimista, embora o mundo esteja me dando muitos motivos para isto, mas acredito que cada um de nós deve acompanhar com muita atenção os acontecimentos (Foto: Zelia Cardoso de Mello)

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    Há algum tempo que não escrevo, não por falta de assunto, mas por falta de tempo. Poderia escrever sobre a disputa entre Alemanha e todos os outros países que pertencem ao MCE, com a Alemanha defendendo austeridade e os outros pedindo estímulo para as respectivas economias. Ou poderia escrever sobre a economia Japonesa e a impotência, pelo menos até agora, da política de liquidez conhecida como Abenomics, para revigorar a economia japonesa. Poderia escrever sobre o baixo crescimento econômico chinês e o risco crescente de uma crise bancária na China. Ou quem sabe sobre a incapacidade de combater o ISIS e o risco de outro ataque terrorista ou a falência em promover a paz na Ucrânia. Ainda na lista de assuntos podemos incluir o escândalo da Petrobras, uma empresa que tem sido destruída por falta de Governança e desmando governamental, e corrupção. Ou, numa visão mais específica a recente epidemia de sarampo provocada por pais malucos que se recusam a vacinar seus filhos ou sobre o frio e as seguidas tempestades de neve que tem atrapalhado a atividade econômica nos EUA.

    Os riscos geopolíticos, os problemas na Europa, China e Japão não são novos. O impacto nos mercados emergentes do baixo crescimento econômico mundial, combinado com taxas de juros em ascensão nos EUA, é conhecido. Então porque os mercados estão mais voláteis em 2015? Esta volatilidade vai ser a norma em 2015 ou é passageira e vamos continuar a marcha em direção a novos recordes de alta? Mais importante, por quanto tempo os EUA vão ficar imunes aos problemas mundiais?

    Eu tenho sido otimista em relação à economia americana e tenho sido defensora do investimento no mercado acionário americano, exclusivamente nos EUA. Quem me ouviu ou me leu e acreditou, provavelmente tem seu patrimônio em melhor estado do que os que continuaram “diversificando” e principalmente os que continuaram comprando títulos (e ações) brasileiros. Ainda permaneço 100% defendendo investimento em ativos americanos. Porém, não acho que vai ser um céu de brigadeiro como foi nos últimos anos. Prudência, cautela e atenção são agora mandatórias e administração de portfólio é fundamental. O mercado hoje apresenta muito mais riscos que nos últimos anos. Não pense nem por um minuto que só porque o mercado está atingindo novas altas, seu portfólio também vai seguir o mesmo rumo. Também é bom lembrar, e em tempos de euforia esquecemos isto, que tudo que sobe... eventualmente desce.

    Vamos voltar aos potenciais riscos de um mundo muito complicado: é sabido que os bancos chineses estão carregando dividas de qualidade duvidosa, depois de terem financiado projetos imobiliários cujos preços estão caindo. Qual seria o impacto no mercado financeiro se estes bancos começassem a vender ativos para melhor seus balanços? Qual seria o impacto no Brasil e outros mercados emergentes se de fato a economia chinesa crescer apenas 4%?

    Podemos pensar também em outro cenário negativo para os mercados emergentes: com a subida nas taxas de juros nos EUA, é de se esperar que o dólar continue se valorizando.  Qual será o impacto para commodities e, portanto para as economias que tem parte expressiva do seu crescimento dependendo da exportação de commodities? E como a combinação de taxas de juros mais altas e dólar mais forte afetarão a divida dos mercados emergentes?

    Se olharmos para a Europa o que vemos? O mercado celebrou o acordo com a Grécia na sexta-feira, mas não foi realmente um acordo, foi um acordo em ter um acordo. Na segunda-feira, dia 23, a Grécia tem que apresentar uma lista das medidas que planeja implementar nos próximos meses. Se estas medidas forem aceitáveis, o acordo será assinado na terça-feira. Em Abril, a Grécia deve apresentar relatório detalhado das medidas tomadas. Em quatro meses, tudo começa de novo... Portanto o problema foi jogado para  Junho de 2015.

    O novo governo grego tem um problema, parecido como o novo (velho) governo brasileiro: como conciliar as promessas de campanha com a realidade econômica? Esta é a única coisa que os dois países tem em comum, o dilema de sua liderança. Nos últimos anos a Grécia seguiu o receituário da troika, receituário de austeridade que resultou em anos de recessão e desemprego de mais de 25%. O Brasil, por outro lado, seguiu o oposto de austeridade ou disciplina fiscal. O Ministro da Fazendo, Joaquim Levy, esteve em NY tentando convencer os investidores que o Governo está comprometido com austeridade e disciplina. Mas vai ser necessário um pouco mais do que palestras para convencer os investidores e colocar a economia no rumo certo. Vai precisar mais do que apresentações em PowerPoint para voltar a crescer principalmente num ambiente internacional tão adverso e com oposição política interna.

    Os Estados Unidos tem sido um ponto isolado de prosperidade num mundo conturbado e com baixo crescimento econômico. Até os salários tem apresentado melhoras. Agora, entretanto, começo a me perguntar quanto tempo ainda temos pela frente até que comecemos a sofrer o impacto dos problemas mundiais. O dólar forte vai com certeza afetar as exportações americanas e a temporada de resultados que está terminando já está apontando nesta direção. Embora o resultado de ganhos por ação esteja dentro do esperado o crescimento de receita caiu de 4% terceiro trimestre de 2014 para 1,2% no quarto trimestre. Mais importante está havendo um agudo declínio nas estimativas para o primeiro e segundo trimestre de 2015, consequência do preço do petróleo, dólar forte e baixo crescimento econômico no resto do mundo. Pode-se argumentar que um resultado somente não é indicador – e de fato não é –  mas é um resultado e não deve ser ignorado.

    Ao mesmo tempo estamos testemunhando o tipo de exuberância que vimos antes da crise financeira de 2008 e do estouro da bolha da internet. Uma olhada no mercado imobiliário nos EUA deveria ser suficiente para colocarmos a “barba de molho”: além do fato que imóveis em NY, Miami e outras regiões se tornaram a nova Suíça, um lugar para esconder dinheiro como mostraram recentes reportagens do New York magazine e New York Times, os preços estão constantemente atingindo novos recordes. De fato, os preços têm desafiado a lógica: como um apartamento pode custar 100 milhões de dólares? Talvez estes recursos – que vem, não se sabe de onde, em busca de um lugar para investir (ou esconder) – sejam a causa da avalanche de novos projetos em NY e Miami. Talvez numa certa altura o Governo resolva criar legislação que exija um “due diligence” tão rigoroso quanto o necessário para se abrir uma conta bancária nos EUA. Se isto ocorrer qual o impacto nestes novos projetos? E se um terrorista com passaporte americano colocar uma bomba num prédio ou lugar público nos EUA?

    Não quero ser alarmista, nem pessimista, embora o mundo esteja me dando muitos motivos para isto, mas acredito que cada um de nós deve acompanhar com muita atenção os acontecimentos. E para aqueles que têm assessores financeiros, mais atenção ainda, porque lembre-se de que quando tudo vai mal, você continua pagando as mesmas comissões.

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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