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Pedro Benedito Maciel Neto

Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

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O que veio depois do Real?

Lula recebeu um país “quebrado”, foram, pelo menos, três anos para organizar o caos que o liberalismo legou

Cédulas falsas com o número de série repetido. (Foto: Daniel Isaia/Agência Brasil)

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Essa semana visitei um dos meus médicos - aos sessenta anos tenho alguns, os melhores -, o Dr. Morisco, ou Luiz Carlos costa Morisco, que leu e gostou do meu artigo sobre os 30 anos do Plano Real; lembramos de outras vicissitudes do Plano Real, que acabaram esquecidas, mas que impactaram as nossas vidas de alguma forma; outro que comentou comigo o artigo foi o engenheiro Carlos Barreto, mas ele não gostou e não concorda com “uma linha” das análises críticas que fiz; o Carlinhos segue encantado pela lógica liberal, por isso tornou-se refratário a qualquer crítica.

Por essas razões creio que é oportuno esclarecer: em momento algum ignoro o sucesso do “Real” em debelar a inflação, mas faço uma distinção entre o “Plano Real” e o que veio depois: os governos FHC. O Carlinhos defende apaixonadamente FHC, natural aos apaixonados pelo neoliberalismo, o que não é o meu caso. 

Se a “voz do povo é a voz de Deus”, não pode ser ignorado que FHC saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixou o seu governo em 2010 com 96% de aprovação e ainda teve apoio para vencer o fascismo em 2022, depois de sofrer tantas injustiças. 

Há muito exagero e mentira nos chamados “êxitos” do governo tucano, os quais, se reais, mas não são absolutos.

A meu juízo os governos de FHC não foram um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e o governo Lula não se apoiou no êxito tucano, pois não havia resultados positivos. 

Apoio esse artigo no artigo do professor Theotonio Dos Santos, Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO, da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável, para afirmar que não foi o plano real que acabou com a inflação, para quem: “Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada país apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário”, no governo tucano a nossa inflação girou próxima dos 10% mais altos, uma das mais altas do mundo. FHC, apesar de sua submissão total à lógica do consenso de Whashington, não conseguiu assegurar a transformação do real numa moeda forte, afinal, o real começou em 1994 valendo 0,85 centavos e quando o câmbio flexibilizado o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar e, como diz Theotônio: “...não venha pôr a culpa na ‘ameaça petista’, pois, esta desvalorização ocorreu muito antes da ameaça Lula”.

A mídia especializada e os economistas “do mercado” criticam Lula por conta da questão fiscal, mas FHC não foi exemplo de rigor fiscal; o tucanato, que renunciou à social-democracia e abraçou o neoliberalismo, elevou a dívida pública do Brasil em dozes vezes e entregou o governo ao Lula, oito anos depois, sem reservas cambiais, devendo para o FMI, com inflação próxima a 10% ao ano, desemprego de 12%, indústria debilitada, relação DIVIDA X PIB trágica e sem nenhum projeto de desenvolvimento econômico e social, uma caos. Ou seja, “zero de “rigor fiscal”. 

O neoliberalismo tucano, consorciado ao PFL, chegou a pagar 45% de juros pelos títulos do governo, para, em seguida, depositar os investimentos vindos do exterior em moeda forte a juros nominais de 3% a 4% ao ano. O consórcio entre o PSDB e do PFL criou uma dívida colossal e normalizou a barbárie pratica pelo mercado financeiro.

Foram anos de irresponsabilidade cambial e irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro paga sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro; nem vou entrar no assunto da concentração de renda, uma das maiores do mundo. 

É comum às viúvas do governo FHC dizerem que o caos e o desarranjo na economia ocorreram em razão a vitória de Lula, mas isso é mentira, pois, já em 1999 o Brasil tinha perdido todas as suas divisas, tanto que FHC precisou, de pires na mão, pedir ajuda aos EUA e ao FMI, foram 40 bilhões de dólares de empréstimo. 

A bagunça que FHC fez com o câmbio derrubou as exportações, ou seja, os anos de FHC foi um fracasso, que serviu aos interesses privados, pois aquele governo reduziu a reforma do Estado à venda “a preço de banana” de boa parte dos ativos do povo brasileiro; não havia nenhuma preocupação com a indústria nacional (FHC poderia ter investido os recursos obtidos com a venda das empresas públicas brasileiras, cerca de 100 bilhões de dólares, num plano de industrialização e modernização do parque industrial, mas preferiu usar esse dinheiro para pagar os altos juros que ele próprio gerou com a Selic a 45% a.a., os mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. 

A inflação foi debelada no governo Itamar Franco, o governo FHC foi um governo de desmonte do Estado de bem-estar social e de venda das empresas públicas; não há nada de excepcional que possa ser citado no governo FHC; não criou uma universidade sequer.

Lula recebeu um país “quebrado”, foram, pelo menos, três anos para organizar o caos que o liberalismo legou, repito: inflação de quase 10% a.a.; desemprego de 12%; relação Dívida x PIB trágica; devendo para o FMI; sem política pública de desenvolvimento para a indústria; sem financiamento via BNDES, uma tragédia.

O metalúrgico entregou a presidência a Dilma com inflação em 4,5% a.a.; desemprego em 4,2% (pleno emprego); PIB de 2010 foi de 7,5%; o FMI foi quitado; multiplicou o PIB em cinco vezes e legou uma série de políticas econômicas e sociais que transformaram a realidade do país.

Essas são as reflexões.

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