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    Ricardo Nêggo Tom

    Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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    O racismo religioso de Michelle Bolsonaro e os seus demônios imaginários

    Fiquem de olho em Michelle, porque até outubro ela irá aprontar muitas coisas para desviar o foco da incompetência e inutilidade de Bolsonaro como governante

    Michelle Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR | Reprodução/Instagram)

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    A primeira dama Michelle Bolsonaro, que deveria ser uma figura meramente ilustrativa no protocolo do atual governo, dado o machismo, a misoginia e o desprezo pelas mulheres nutrido pelo presidente da república, começa a ganhar um destaque no cenário político pré-eleitoral. Tão inesperado quanto estrategicamente planejado, o protagonismo da personagem Michelle, além de tentar desmitificar a postura machista que Bolsonaro construiu com muito orgulho ao longo de sua vida pública, tem por objetivo principal resgatar a imagem da mulher religiosa que, não tendo opinião e voz de fato, usa a sua opinião e a sua voz de direito para orar e pedir a Deus que abençoe o seu marido acima de tudo e de todos. Ou seja, o papel de intercessora fiel que Michelle interpreta apenas reforça o machismo bolsonarista que antes mantinha a mulher na cozinha e agora quer mantê-la na igreja de joelhos dobrados, rezando pelo sucesso do chefe da família.

    Sabemos todos, ou, pelo menos, deveríamos saber, que o cristianismo oficial é essencialmente racista e alicerçado sob uma ideia de superioridade racial, cultural e religiosa. Assim não sendo, nada justificaria a igreja um dia ter considerado que os africanos não tinham alma, para poder justificar a sua escravização pelos europeus. Isto posto, não há nada de anormal na manifestação racista da primeira dama, ao associar as religiões de matriz africana às trevas e dizer que Lula vendeu a alma para elas em troca de sua eleição como presidente. Catolicismo e protestantismo sempre demonizaram as religiões africanas, baseados em argumentos e convicções unicamente racistas. Até porque Jesus Cristo, apesar de ser o mentor intelectual do cristianismo, não era europeu e nem possuía um fenótipo semelhante a esse povo. O que fez com que a sua aparência física fosse adulterada pelo cristianismo de estado, e apresentada com características europeias para ter mais credibilidade e aceitação por parte dos racistas.

    Michelle Bolsonaro é racista, assim como o cristianismo que ela professa sempre foi. E Jesus Cristo não tem nada a ver com o cristianismo de Michelle, dos bolsonaristas, do catolicismo ou do protestantismo. E eu sempre gosto de frisar quando falo de religião, que eu sou católico de formação. Porém, nunca o teria sido, se, desde sempre, tivesse o conhecimento histórico da religião que tenho hoje. Assim como o seu racismo, o fanatismo religioso de Michelle é pragmático e evangelizador. Lutar contra demônios é a principal missão do cristianismo neopentecostal. Ainda que tais demônios não existam ou tenham sido criados por eles mesmos. Como os demônios que ela disse que estavam presentes na cozinha do Palácio do Planalto em outros governos. Fico imaginando a decepção profissional da Paola Carosella, do Henrique Fogaça e do Érick Jacquin, ouvindo a Michelle Bolsonaro dizer que a cozinha do Palácio do Planalto era chefiada por seres das trevas. Saber que os outros presidentes preferiram comer o pão que o diabo amassou do que a sua comida deve ser desolador.

    Há quem diga e acredite que Michelle crê de verdade naquilo que vem propagando como a sua fé cristã. Talvez, esses tenham comido alguma refeição preparada pelos demônios cozinheiros do Planalto, para chegarem a essa conclusão. Eu só vejo picaretagem, canalhice e velhacaria neopentecostal. Com o perdão do pleonasmo. Michelle é rasa feito um pires e tão ignorante quanto Bolsonaro. Ao assumir o papel de papagaio de pastor pirata evangélico na campanha do seu marido, ela subalterniza o papel da mulher na política e na sociedade, sob a égide de uma representatividade feminina no bolsonarismo. Michelle obedece mandando, enquanto aqueles que criaram o seu personagem continuam mandando fingindo que dão ouvidos ao que ela fala. Mas engana-se quem pensa que ela está insatisfeita interpretando esse papel. Afinal, ela pode ser ignorante, mas não é burra. Se fosse, não teria sido promovida de auxiliar de gabinete de um deputado insignificante à primeira-dama da república.

    Fiquem de olho em Michelle, porque até as eleições ela irá aprontar muitas coisas para desviar o foco da incompetência e da inutilidade de Bolsonaro como governante. E convencer os cristãos de que o atual governo é consagrado a Jesus é a mais inofensiva delas. Até porque, só quem está sob o domínio dos demônios do bolsonarismo pode acreditar nisso. Michelle estará cada vez mais presente nos templos evangélicos consagrados a Bolsonaro, exaltando e promovendo o nome dele através do nome de Jesus. Como ela fez na Igreja da Lagoinha, a mesma que ordenou o assassino e bolsonarista Guilherme de Pádua como pastor, e recebeu o casal Bolsonaro em seu altar sob os gritos de “mito”. Revestida pela autoridade que o deus do bolsonarismo lhe deu, Michelle repetiu que a cadeira da presidência é ocupada por Jesus, e é ele quem está governando a nação. Como Jesus não pode processá-la por calúnia, injúria e difamação, por ela jogar em suas costas a responsabilidade pela morte de quase 700 mil pessoas durante a pandemia, pelas mais de 33 milhões de pessoas que estão passando fome e por uma necropolítica que tem como função social do estado matar pretos e pobres, cabe a todos aqueles que verdadeiramente conhecem o evangelho que Cristo deixou mostrar nas urnas como se expulsa demônios do Palácio do Planalto.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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