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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Obsessão de Ciro por Lula ressuscita o clichê freudiano

    "Ciro quer ser, há muito tempo, o ungido por Lula. Não quer ser apenas a pretensa voz das esquerdas, para se aliar à direita que ele conhece e simular posições progressistas em todas as áreas, da economia aos costumes. Quer ser protegido por Lula", escreve Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

    (Foto: Stuckert | Reuters)

    Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia

    Ciro Gomes resgata o que por muito tempo foi o mais batido e banalizado clichê freudiano, a tentativa de explicar as origens das inseguranças e de algumas patologias com a ausência ou o excesso de presença de um pai. Gastaram tanto o clichê freudiano, que passou a ser deixado de lado por uso indevido.

    Qualquer charlatão enfiava o pai em conversas psicanalíticas na bebedeira do domingo. Pois Ciro Gomes traz de volta, no seu esforço para ser reconhecido por Lula, um caso de almanaque do clichê freudiano.

    Ciro quer ser, há muito tempo, o ungido por Lula. Não quer ser apenas a pretensa voz das esquerdas, para se aliar à direita que ele conhece e simular posições progressistas em todas as áreas, da economia aos costumes. Quer ser protegido por Lula.

    Ciro não pretende ter a simpatia do PT, como se pensava que desejasse em 2018. Ciro deseja ser o filho político de Lula. Ele gostaria de ter sido o substituto de Dilma em 2006 e em 2010 e ocupar o lugar de Haddad em 2018. Ciro sonha com o dia em que Lula dirá: esse coronel é o meu candidato.

    Esse é o problema de Ciro. Ele é um homem travado pela sucessão de derrotas e pela ideia fixa de que não progride como nome nacional porque não tem a unção de Lula.

    Por algum motivo que alguém deve saber explicar, Ciro acha que ele, e ninguém mais, é o cara para levar adiante o lulismo. Mesmo que tenha pouco mais de 10% dos votos.

    Um sujeito nascido na direita, criado entre tucanos e perdido em sete partidos, até se acomodar no PDT, pretende ser o herdeiro de Lula e não só do seu acervo eleitoral.

    Quando Ciro ataca Lula e também agride o PT, ele não está dizendo que é um ressentido. Ciro pede mais do que um olhar de apoio, pede um colo, como o enjeitado por uma família que não o acolhe.

    Ciro aproximou-se de Brizola em 2002 e foi carregado pelo líder trabalhista pelo Brasil. Discursou em carroceria de caminhão no Rio Grande do Sul. Rezou ao lado de Brizola junto ao túmulo de Getúlio Vargas em São Borja.

    Teve 11,97% dos votos (terceiro lugar) em 2002 como candidato a presidente pelo PPS. Em 2018, já pelo PDT, conseguiu 12,47% (terceiro lugar). Em 1998, na primeira tentativa pelo PPS, havia obtido 10,97% (quarto lugar).

    Ciro não consegue ser o segundo. Não há um segundo turno na vida de Ciro Gomes. E Ciro não queria estar perto de Brizola, queria estar junto de Lula.

    Está em seu sétimo partido porque a segurança que busca não é a partidária. Ciro pode trocar de novo de partido amanhã e sua insegurança não estará resolvida.

    Porque Ciro deseja ser o filho de Lula. É a sua obsessão. Como não consegue ser o escolhido, torce agora para que Lula desapareça. Ele não quer ver Lula como candidato na eleição de 2022.

    Ciro, diria o clichê freudiano, tenta se livrar do pai que o rejeita e com quem ele não consegue competir. Cada país tem a caricatura de personagem sheakespeariano que merece.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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