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    Enio Verri

    Deputado federal pelo PT-PR

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    Onde estão os brasileiros?

    Bolsonaro foi, em 2018, a opção pela barbárie. Do ponto de vista econômico, a voracidade e a insaciabilidade de Paulo Guedes serão o fim das condições que o Brasil ainda possui para se recuperar

    (Foto: Adriano Machado - Reuters)

    Um abismo econômico, social e político é para onde o Brasil, há pouco a sexta economia mundial, está sendo jogado por um presidente comandado pelo ministro da Economia do mercado financeiro. Já nas pautas dos costumes e da política, o presidente segue autônomo na sua obtusidade. Pulveriza o que ainda restava de consumidores de produtos sofisticados e importados, com a duplicação do valor permitido para comprar em free-shopps. Pretende dolarizar a economia, subordinando o Brasil, definitivamente, aos EUA. Ao mesmo tempo, desobriga hospitais de notificarem casos de violência doméstica e escolas de manterem em seus quadros, como se dá em qualquer país civilizado do mundo, psicólogos. Entre idas e vindas pela disputa dos R$ 270 milhões que o PSL terá para as eleições de 2020, ele causou um estremecimento tamanho que, a solução não será outra senão a sua saída da legenda.

    E, não menos importante, foi a permissão desse governo à subjugação do Brasil aos EUA, ao permitir ser chutado da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como um pária mundial, sabujo dos históricos descumprimentos de acordos firmados pelo Tio Sam. Com o Brasil não seria diferente, ainda mais os EUA sabendo que está lidando com um convicto subalterno. Bolsonaro entregou a base de Alcântara, abriu mão de privilégios ao etanol brasileiro, liberou visto para estadunidenses, abriu mão da Organização Mundial do Comércio e prometeu ao mercado financeiro os recursos energéticos e as empresas brasileiras. Mesmo entregando a soberania brasileira, os EUA consideram que o Brasil deve fazer ainda mais para ingressar como um subalterno do grupo dos países mais ricos do mundo, como fornecedor de energia para o desenvolvimento de outros povos. Afinal, durante uma reunião da organização, o que os países que investem no desenvolvimento tecnológico do seu povo teria para conversar com um presidente que entrega o seu país, a troco de nada?

    Bolsonaro foi, em 2018, a opção pela barbárie. Do ponto de vista econômico, a voracidade e a insaciabilidade de Paulo Guedes serão o fim das condições que o Brasil ainda possui para se recuperar. A sociedade deve despertar e reagir a tempo e com a devida contundência. Isso, ou o Brasil viverá eternamente a barbárie da casa-grande e jamais alcançará a civilização. Quem pensava que seria somente a reforma da Previdência ficará apavorado com o que está no pacote de construção do famigerado e impossível Estado Mínimo. A supressão do direito à estabilidade no emprego é apenas uma das propostas do atual governo, que encomendou um estudo ao Banco Mundial que, por sua vez, recomendou reduzir direitos, ganhos e proteção do serviço público, como forma de economizar alguns caraminguás para dar ao mercado financeiro, como pagamento ao serviço da dívida, ou de juros, ou ao rentismo do capital estático. O recurso nem chega a circular e já vai direto para os banqueiros, que ainda ganham com novos os juros dos serviços prestados.

    Uma vergonha o Brasil pedir estudo ao BM para retirar, destratar e desinvestir no servidor público, peça fundamental e basilar de um Estado minimamente justo. Não há justiça com servidor sem estabilidade empregatícia. O sucateamento e desvalorização do serviço público é uma vivência tardia do período Thatcher. Os países desenvolvidos que adotaram essa mesma agenda estão revendo as privatizações, pois a qualidade dos serviços decaiu a níveis inaceitáveis para a aquela população. Ao que parece, os brasileiros estão dispostos a viver a mesma experiência dos europeus. Na reforma da Previdência, Bolsonaro retirou pela metade o valor de quem ganha um salário mínimo, mais de 70% da classe trabalhadora. Em recente decisão, isenta produtos de luxo para 10% da população. O governo é claramente feito para uma minoria. Resta perguntar aos brasileiros o que mais falta Bolsonaro fazer para que as ruas sejam totalmente ocupadas.

    Em todas as ações do governo vê-se a deliberada política de produzir a maior quantidade de miséria. A fila do Bolsa Família está aumentando e vai aumentar ainda mais. De um lado, a conjuntura política já empurrou mais de dois milhões de pessoas, que haviam saído, de volta à miséria. Do outro, os cortes no orçamento da pasta geram incerteza de que haverá recursos suficientes para pagar benefícios, que, a cada R$ 1,00 investido, R$ 1,78 volta para a formação do PIB. Junto com as aposentadorias, são as principais fontes de aquecimento da economia de 80% dos municípios brasileiros. Ou seja, devido ao ódio que a elite tem da senzala e não reação desta, a economia e a mínima distribuição de justiça social são solapadas sem uma única reação popular. Até mesmo o ultra-liberal e prosélito do Estado Mínimo, ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, se diz estarrecido com o governo. À frente está um ministro da Economia que não passa de um apostador de roleta de Bolsa de Valores. Para ele, a opinião pública pouco importa, porque o negócio dele é lucrar. Porém, a voz das ruas ocupadas interessa a Bolsonaro e a qualquer agente público com pretensões eleitorais. O presidente do Equador, Lenín Moreno, revogou o decreto que eliminada o subsídio aos combustíveis, depois de os equatorianos ocuparem as ruas do país.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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