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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Opressão na escola e os fantasmas da liberdade

Uma diretora da Escola Jornalista Vladimir Herzog tomou a iniciativa de se alinhar sob o manto de doutrinas mal informadas pela tentação do autoritarismo

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Queiram ou não, a instalação da modernidade ocidental se iniciou com um culto à liberdade. Não é por menos que em Nova York, por doação dos ganhos da Revolução Francesa uma estátua em seu nome preside à chegada de nacionais e estrangeiros à ilha de Manhattan. Liberdade significa transparência, estímulo ao conhecimento e um abraço cada vez mais fraterno entre seres dotados de inteligência. As instituições de ensino, deixando as mãos de religiosos, viraram obrigação do Estado, justo para prevenir, no âmbito da pedagogia, que nada, nem inspirações divinas, deve chamuscar o desenvolvimento no plano das ideias.

No Brasil, também com a República e por influência dos positivistas, definiu-se como razão superior a vocação do Estado e seus entes federativos à necessidade de dispor e orientar os estímulos na rede escolar. Educandários devem ser dominantemente públicos, laicos e receber os seus estudantes com a noção de que ali se acham para partilhar de nossa soberania. E, de repente, graças a surtos de atraso que também acometem as sociedades de tempos em tempos, eis que nos vemos às voltas com uma crítica ao status quo e doutrinas que pretendem o fortalecimento de disciplinas militares alheias aos princípios do amplo exercício do saber. Forças Armadas existem para defender a nação, não para lhe moldar gostos e atitudes – ou viraremos zumbis em nosso próprio convívio. Por isso, regimes militares terminam nos depósitos sombrios da história. A partir de 64, fomos abundantes em relatos de perseguições, tortura, brutalidade psíquica em todos os níveis - e corrupção, persistente corrupção... Não é necessária muita pesquisa. Basta consultar a crônica de nossos presidentes fardados para tomar conhecimento do que fizeram. As escolas cívico-militares, idealizadas pelo fascismo bolsonarista, possuem, não o compromisso de ensinar, e sim de garantir disciplina, uma excrescência que já lhe denuncia os propósitos. Em semelhante perspectiva e movida pela tentação de bajular, uma diretora da Escola Estadual Jornalista Vladimir Herzog, em São Bernardo do Campo, São Paulo, tomou a iniciativa de se alinhar sob o manto de doutrinas mal informadas pela tentação do autoritarismo. Recuou a tempo, ainda bem. Desconhecendo a quem se referia o nome da instituição, inscreveu-a para a nova experiência do não-saber explícito, pintado de verde oliva. A imprensa protestou, a família do jornalista assassinado expressou sua indignação, setores conscientes da sociedade e dos partidários da liberdade no uso do conhecimento se somaram ao repúdio. Ela trabalhou, com certeza, por inspiração do governador, cuja carreira na política se atrela à extrema direita partidária do retrocesso e dos ecos da ditadura. Navega nos barcos bêbedos dos desvarios, para citar apenas Rimbaud. Felizmente, no que diz respeito ao país ainda temos gente que sabe o que faz em matéria de pedagogia. Nem precisamos lembrar de Paulo Freire. Ela, a pedagogia, se move por outras pistas num tipo de aventura realmente capaz de nos levar adiante. Ignorantes são os que imaginam que crianças por que são crianças ali se encontram a título de cobaias e aprendem a não-saber... Terrível e completo engano. Nem é cabível apostar para supor onde dará.

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