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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Os patrões do mundo na pirataria mundial

Maduro grita com razão. Observadores neutros, também. Sabe-se, estudando história, que os patrões injustos um dia são derrubados

Nicolás Maduro é recebido por autoridades iranianas em sua chegada ao aeroporto de Mehrabad em Teerã, Irã, em 10 de junho de 2022 (Foto: Majid Asgaripour/WANA (Agência de Notícias da Ásia Ocidental) via REUTERS)

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O cenário que se instalou no planeta depois da II Grande Guerra, em parte em função da grandeza de um estadista como Franklin Roosevelt, terminou por criar em nossos dias algumas anomalias dignas de registro. Os EUA saíram do patamar de liderança reconhecida para uma presença imposta. As bombas atiradas em Nagasaki e Hiroshima contribuíram para isso. Não se podia enfrentar o poderio de uma nação assim, a não ser pela contraposição da União Soviética, outra potência nuclear de destaque, fruto da luta contra os nazistas. Agora, com o surgimento, de início enfraquecido, da Federação Russa, Washington acreditou que ninguém mais lhe faria frente. Como consequência, vieram os desmandos. Sanções de punição a rebeldes em relação a suas determinações provocaram efeitos parciais, aumentando a importância da Casa Branca, mesmo quando errava fragorosamente. Para não falar em Cuba, a estratégia se repetiu com a Venezuela e, em seguida, com a própria Rússia. 

No entanto, as determinações de um mau patrão, como em qualquer empresa, geram desgastes. Armamentos podem ser superados, desde que com recursos financeiros e ciência para o fazer. No exemplo dos conflitos com a Ucrânia, premida pelas sanções, Moscou virou-se para o outro lado. Estreitou relações com a China e a Índia, para não mencionar demais clientes naquela parte do continente. Claro que o esquema fracassou. O que fazer? Invadir um país com as dimensões da Rússia? Decretar uma Terceira Guerra com adversários de arsenal atômico? Só um louco devanearia com uma hipótese dessas.  Enquanto isso, os patrões(!) prosseguem queimando sua imagem pelas bordas da relação internacional. A Venezuela, depois de eleições apenas contestadas por ingênuos ou por gente comprometida com o outro lado, parecia um adversário fácil. Ideia suficiente para que, além das medidas econômicas, os Estados Unidos dessem um passo à frente, agora resvalando na pirataria: apreenderam um avião de Maduro, pousado na República Dominicana. Apoderaram-se da aeronave e a levaram para a Flórida. Para eles, pelo visto, não há leis que coíbam confisco de bens estrangeiros, à semelhança dos bandidos da Somália abordando e saqueando navios que logram alcançar.  Na verdade, não existem argumentos que justifiquem tal barbaridade. Apropriações indébitas de propriedades privadas de outro estado não podem e não devem ser adquiridas a não ser através de entendimento mútuo. Nesse sentido, Trump, o candidato republicano, fez coro ao clamor erguido em toda parte. Condenou os democratas pelo absurdo. Eles, os norte-americanos, que se acenavam como exemplos de democracia, em contraposição com dirigentes ilegítimos, aderem de repente ao crime como se não tivessem opinião pública para condená-los. Maduro grita com razão. Observadores neutros, também. Sabe-se, estudando história, que os patrões injustos um dia são derrubados. Exemplos não faltam. Basta esperar para ver...

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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