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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Os próximos debates podem não ter mais o tchutchuca, mas um chefão do crime organizado

    No encontro da TV Gazeta, Marçal mostrou que a extrema direita ainda tem muitos recursos para idiotizar a campanha, afirma o colunista Moisés Mendes

    Candidatos a prefeito de SP (da esq. para a dir.): Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB), José Luiz Datena (PSDB), Guilherme Boulos (Psol) e Pablo Marçal (PRTB). No centro, a jornalista Denise Campos de Toledo (Foto: Reprodução (TV Gazeta))

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    O debate deste domingo na TV Gazeta, com os candidatos a prefeito de São Paulo, aponta para um cenário não tão distante: os próximos confrontos, nas eleições pós-Marçal, podem ter um debatedor do PCC. Não mais um emissário ou alguém com franquia "nutella" e genérica da bandidagem.

    Não mais, como disse Ricardo Nunes, referindo-se a Marçal, um "tchutchuca do PCC", mas um chefão genuíno, legítimo e assumido da raiz do crime organizado. É uma distopia que não pode ser desprezada.

    A extrema-direita não só naturalizou sua existência, como se apropriou de espaços e ferramentas que no século 20 eram dominadas pelas esquerdas.

    Marçal domina o mundo digital e prova que pode controlar também, pela esculhambação, o velho mundo analógico e até então cerimonioso dos debates na TV. É um estágio adiante, pela polivalência, em relação ao bolsonarismo clássico.

    Diziam, com Lula preso, que Bolsonaro seria demolido em debates eleitorais. Bolsonaro debateu com Lula em 2022 e chegou a passar a mão nas costas do adversário, para dizer que estava seguro.

    Marçal sobe vários degraus e fica mais à vontade em um debate na TV do que no alto de um pico da Serra da Mantiqueira. Porque não há como debater com ele. E o sujeito não precisa chamar bombeiros para salvá-lo.

    Esse tipo de confronto não funciona mais com esse tipo de gente, mesmo que sejam feitas mudanças superficiais em seus formatos. Tudo ficou normal. É normal que Marçal enfrente Boulos e Tabata, mesmo que aparentemente não tenha nada a dizer.

    É normal que, enquanto os outros falavam, ele ficasse fazendo o "M" com os dedos ou com a cabeça abaixada, atrás do púlpito, como se falasse com alguém. Porque o comando do debate foi frouxo diante da imposição do sujeito.

    É normal que as palavras ditas e às vezes repetidas no debate tenham sido "bandido", "bananinha", "amante do Bolsonaro", "traficante", "crime organizado", "fujão", "bandidinho", "estelionatário", "máfia", "quadrilha", "ladrãozinho de creche", "merda", "ladrão", "vagabundo".

    Todos entraram na trocação. O que facilitou o jogo de Marçal, que é não deixar jogar. O estelionatário condenado disse no debate que encontros como esse são apenas um teatro, porque ninguém vai conseguir discutir programas. Com ele nos debates, são mesmo.

    Boulos e Tabata não conseguirão conter Marçal e outros fascistas na TV, nas redes ou numa praça, se o que estiver em questão for o embate de ideias. A política do debate público não lida mais com ideias, há muito tempo.

    O jogo da lacração e dos cortes de vídeos chegou à perfeição com Pablo Marçal. Bolsonaro é um Atari dos lacradores ao lado do coach que diz se comportar como idiota como performance, porque essa é a mentalidade do eleitor.

    Marçal é a última geração dos lacradores, dedicado a um mercado que pede idiotia e que alarga cada vez mais sua base imbecilizada no ambiente da campanha eleitoral.

    O candidato do PRTB entrega o que o eleitor pede: uma frase, uma palavra ou só os sinais com os dedos. Por isso, estamos indo ao encontro de um futuro próximo em que o crime organizado poderá estar presente num debate sem dissimulações.

    O fascismo está vencendo pela capacidade de ser compreendido por idiotas verdadeiros e por falsos idiotas. As pesquisas que chegarão esta semana podem trazer o cara carimbado por Nunes como "tchutchuca do PCC" à frente de todos os outros.

    Até a palavra final, de encerramento do debate, por sorteio, foi do cara chamado uma dúzia de vezes de bandido.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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