Os puxa-sacos botaram Marielle na porta do Bolsonaro
As hostes bolsonaristas deveriam ser mais cautelosas sobre os efeitos de uma suposta delação premiada, que sequer foi homologada
No meu tempo de criança, lá pelos anos 1970, o suspeito de soltar um “pum silencioso” era obrigado a mostrar a palma da mão para provar que não estava amarela, uma prova irrefutável de culpa. Essa lembrança escatológica me veio à memória por causa do açodamento da brigada bolsonarista, em livrar a cara do chefe de qualquer suspeita de envolvimento com a morte de Marielle e Anderson.
Do previsível Alexandre Garcia, ao ex-PM Rodrigo Pimentel, as redes sociais se viram invadidas por depoimentos sentenciando o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, como o mandante da morte da vereadora e do seu motorista. Num comportamento típico de quem tem medo de mostrar a palma da mão amarela, assumem exageradamente a defesa de Jair Bolsonaro, sem que ninguém nunca o tenha acusado formalmente de participação nestes crimes.
Nem o Psol, tampouco Marcelo Freixo, e menos ainda o ministro da Justiça direcionaram suspeitas sobre a família Bolsonaro neste duplo homicídio. Mesmo com todos os elementos que provam a proximidade deles com membros do chamado “escritório do crime”, como a entrega de medalhas e nomeações em cargos comissionados em seus gabinetes.
Quem está fazendo isso são os arautos do bolsonarismo nas redes sociais. Na pressa de botar nas costas do Domingos Brazão o caixão de Marielle para agradar o chefe, pateticamente acabaram por enfia-lo, de forma indireta, no meio da delação premiada de Ronnie Lessa. Afinal, se o assassino não provar o que está disposto a delatar, tudo o que disser terá de ser considerado tentativa de criar um álibi para proteger quem lhe deu paga. E para onde os holofotes foram ligados?
Fiz um levantamento do trabalho legislativo da vereadora Marielle, para tentar identificar algum interesse contrariado que pudesse justificar tamanha violência cometida contra ela. Tudo o que encontrei foram ações em defesa das mulheres, dos negros, das minorias, títulos e solenidades em homenagem a instituições religiosas de matriz africana, absolutamente nada que pudesse atrapalhar negócios do crime organizado.
Procurei também possíveis desavenças entre Domingos Brazão e Marcelo Freixo, uma das supostas alegações desta suspeitíssima delação premiada do Ronnie Lessa. E só encontrei bate-boca entre Freixo e a ex-deputada estadual Cidinha Campos, aliás, num tom de virulência muito acima dos limites esperados numa tribuna legislativa. No relatório da CPI das milícias, que também busquei como fonte, a única referência a Domingos Brazão foi a declaração de um dos investigados, de que o então deputado “recebeu votos em Rio das Pedras”. Ora, até o Freixo recebe votos vindos de lá e de qualquer outra comunidade do Rio de Janeiro.
As hostes bolsonaristas deveriam ser mais cautelosas sobre os efeitos de uma suposta delação premiada, que sequer foi homologada. Até me atrevo a dizer que, no final dessa história, Domingos Brazão estará definitivamente afastado do rol de suspeitos. E aí, quem tiver a mão amarela que se cuide.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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