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    Ricardo Mezavila

    Escritor, Pós-graduado em Ciência Política, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro.

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    Os tiros contra Marielle foram de racismo

    Eterna, o propósito de Marielle Franco vai muito além da ‘regularização fundiária’ como dizem por aí

    Marielle Franco (Foto: Câmara Municipal do Rio)

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    Os assassinos que pagaram os sicários Ronnie Lessa e Élcio Queiroz para executarem Marielle Franco são: o deputado federal Chiquinho Brazão, o conselheiro do tribunal de contas Domingos Brazão e o ex-chefe de polícia Rivaldo Barbosa.

    Pelos cargos que ocupam e ocuparam, tem-se uma noção de como o crime organizado está nas entranhas das instituições e da política do Rio de Janeiro, quase como uma coisa só.

    O caso Marielle Franco está encerrado, os executores e os mandantes estão presos. Agora, se for do interesse da PF, com as novas informações que certamente emergirão a partir da elucidação do crime, pode-se puxar o fio.

    Os criminosos não mataram Marielle por conta de sua atuação na Câmara de Vereadores, eles nunca ouviram suas falas, mesmo porque não têm alcance para entender o que Marielle dizia.

    Os tiros contra Marielle foram de preconceito, sexismo, racismo, homofobia. Poderia ter sido outro ou outra, mas para os assassinos, Marielle era insignificante no universo político, por isso poderia servir de alvo e mandar o recado para a bancada do PSOL e, talvez, diretamente para Marcelo Freixo, que presidiu a CPI das milícias e teve embates com os irmãos Brazão.

    Os bandidos não imaginaram a repercussão que o caso teria, não projetaram que aquela mulher preta, lésbica e favelada, formada em ciência socias, reconhecida internacionalmente pela Anistia Internacional pelas formulações de projetos de leis e pautas em defesa dos direitos da população LGBTI e das mulheres pretas e faveladas, era uma gigante.

    Eterna, o propósito de Marielle Franco vai muito além da ‘regularização fundiária’ como dizem por aí. Seu legado vai contribuir e orientar aquele e aquela que sabe o seu lugar, o lugar do outro, o lugar de todos, e se municia de força, preparo e competência para ir à luta.

    Último pronunciamento de Marielle, representativo de sua identidade, para que possamos entender como ela definia seu trabalho pelos direitos das mulheres em situação de fragilidade:

    “(…) O embate para quem vem da favela, nós somos violadas e violentadas há muito tempo e muitos momentos. Nesse período, por exemplo, onde a intervenção federal se concretiza na intervenção militar, eu quero saber como ficam as mães e familiares das crianças revistadas. Como ficam as médicas que não podem trabalhar nos postos de saúde. Como ficam as mulheres que não têm acesso à cidade? Essas mulheres são muitas. São mulheres negras; mulheres lésbicas; mulheres trans; mulheres camponesas; mulheres que constroem essa cidade, onde diversos relatórios – queiram os senhores ou não- apresentam a centralidade e a força dessas mulheres, mas apresentam também os números que o The Intercept publicou do dossiê de lesbocídio que, no ano de 2017, houve uma lésbica assassinada por semana (…)” (Último pronunciamento de Marielle Franco, em Sessão Plenária, no dia 08 de março de 2018.)

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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