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    Igor Corrêa Pereira

    Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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    Outros outubros virão

    O legado de outubro de 1917 é a lição de que a luta pela libertação das nações do jugo do imperialismo é condição para a esperança. Para que outras manhãs de sol e de luz brotem da luta consciente daqueles que produzem a riqueza humana contra os vampiros que dela se apropriam até o limite da extinção da vida, é preciso libertar as nações do jugo do imperialismo. Nessa batalha de vida ou morte, o socialismo de libertação nacional é a afirmação da vida.

    Revolução russa, Lênin (Foto: Leopoldo Vieira)

    Por Igor Corrêa Pereira e Daniel Sebastiani - Não se pode pensar em outubros sem que mencionemos outubro de 1917 e a primeira revolução socialista da história mundial. Relembrar esse acontecimento deve ser um exercício que cabe a todo o pensamento progressista de nosso tempo. Como dizia a linda canção cantada por Elis Regina e Milton Nascimento, “o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir”. Na luta histórica dos países e das classes, entre aqueles que exploram o trabalho e aqueles que efetivamente produzem a riqueza, houve momentos em que a classe trabalhadora venceu. O momento mais significativo dessa vitória no século XX ocorreu naquele outubro de 1917.   

     A luta de classes no século XX teve como uma das suas principais facetas políticas o embate entre uma pequena porção de países imperialistas e colonizadores e a grande maioria de países colonizados e explorados.    

    A Alemanha nazista foi uma drástica demonstração de expansão imperial que procurou subordinar os interesses dos povos aos ganhos econômicos dos seus imensos monopólios: uma terrível demonstração de globalização pelas armas para saquear e explorar as nações e seus trabalhadores. Seu objetivo era o de exterminar metade da população russa e de escravizar a outra metade. A ideologia nazista determinava a inferioridade dos soviéticos perante os alemães, conforme explica o historiador Rodrigo Ianhez.   

    A resposta soviética, que resistiu pagando o preço de quase 30 milhões de cidadãos da União Soviética falecidos durante a guerra, foi uma memorável resistência a tentativa de escravização pelo nazismo. Pela magnitude do heroísmo e persistência do povo soviético, o historiador Domenico Losurdo caracterizou esse episódio como a maior luta anticolonial do século XX.  Na mesma Guerra Mundial, a persistência chinesa diante à tentativa de colonização japonesa tem o mesmo significado, uma vez que as tropas do Exército Popular de Libertação (nucleado pelo PC Chinês) tiveram papel mais destacado do que as tropas oficiais na derrota japonesa.  Esses dois episódios marcam a primeira contribuição do recém-nascido socialismo para o mundo. Sem essa resistência, seria impossível a derrota do nazismo. Sem essa inspiração soviético-chinesa de ligação da libertação social à libertação nacional o colonialismo não teria sofrido derrotas significativas na África e Ásia. Pela primeira vez em grandes proporções povos enfrentam colonizadores e vencem. Esse por si só já seria um grande feito daquele outubro de 1917, mas não foi o único. Podemos citar pelo menos mais um, que foi um desdobramento importante dessa façanha.  

     Assustados pela simpatia que o socialismo despertou nas classes trabalhadoras no ocidente, os burgueses europeus não tiveram outro remédio a não ser criarem o Estado do Bem-estar Social que vigorou principalmente na Europa Ocidental, região limite com a União Soviética. Para não perder de vez o poder, a burguesia europeia, ameaçada pela crescente organização e luta sindical em seus países, “entregou os anéis para não perder os dedos”, constituindo a chamada fase de ouro para os direitos trabalhistas e sociais na região e servindo de inspiração para trabalhadores do mundo inteiro. A saúde, a educação, os direitos a um trabalho decente a que desfrutaram as populações da Europa Ocidental principalmente, foram o resultado de uma luta de classes abastecida pela gloriosa Revolução Russa de Outubro e seus desdobramentos na China, Vietnã e Cuba, notadamente.  

      Tal é a relação entre a gloriosa revolução de outubro e o Estado de Bem-Estar Social: não por acaso a ruína soviética coincide com a ruína do Bem-estar e a contraofensiva neoliberal. O que se vive no mundo hoje são os impactos da ausência de um contraponto importante à supremacia do capitalismo. O mundo da hegemonia do capital tem concentrado riqueza e aumentado a fortuna dos bilionários enquanto que quase metade da população mundial vive abaixo da linha da pobreza. Diante do imenso potencial destrutivo do capital no domínio do mundo, ressurge como necessidade e urgência histórica a vinda de outros outubros com semelhante potencial libertador do que foi o de 1917.           

     No século XXI, a luta anticapitalista tem uma especificidade e uma motivação que Lênin e os soviéticos apenas desconfiavam. Deter o capitalismo hoje equivale a salvar a humanidade de sua destruição. O capital perdeu, se é que algum dia teve, sua capacidade de produzir futuro, e mesmo presente, para a vida humana. A reprodução infinita do capital não é compatível com a manutenção da vida. O antigo lema proferido por Rosa Luxemburgo que opunha o socialismo a barbárie, foi dramaticamente atualizado. Se não triunfar o socialismo, será a barbárie, se tivermos sorte. São vários os analistas que afirmam categoricamente que a continuidade da existência humana está gravemente ameaçada.  

     Na dramática experiência da pandemia que ainda flagela o mundo todo, capitalismo e socialismo deram respostas extremamente diferentes para suas populações. Países socialistas – que somam 20% da população do mundo – representam apenas 0,1% dos contagiados e 0,2% dos falecidos por Covid-19. Ou seja, o socialismo é uma forma de governo que preserva a vida, enquanto que o capitalismo parece se afirmar como governo da morte. A nação símbolo do capitalismo (EUA) é onde mais se morreu por COVID-19 (745 mil mortes até o fechamento desse texto).    

    A história recente da luta dos povos demonstra que precisa ser uma luta anticapitalista. Neste sentido, o anticapitalismo tem um conteúdo claramente anticolonial e antiimperial de afirmação da independência e autodeterminação dos povos. Aos países nos quais se situa o Brasil, a luta anticolonial deve enfrentar a anexação econômica a que estamos ainda submetidos. No caso brasileiro, a anexação econômica se acelerou sobretudo após o golpe de 2016, que resultou na eleição de um falso nacionalista que governa de joelhos para os Estados Unidos. Precisamos enfrentar o neocolonialismo econômico-tecnológico-judicial a que se refere Domenico Losurdo. A luta pela independência nacional passa pela conquista de um desenvolvimento econômico e tecnológico autônomo.

              O legado de outubro de 1917 é a lição de que a luta pela libertação das nações do jugo do imperialismo é condição para a esperança. Para que outras manhãs de sol e de luz brotem da luta consciente daqueles que produzem a riqueza humana contra os vampiros que dela se apropriam até o limite da extinção da vida, é preciso libertar as nações do jugo do imperialismo. Nessa batalha de vida ou morte, o socialismo de libertação nacional é a afirmação da vida.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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