Para entender a revolta popular no Quênia
A população saiu às ruas em protestos por todo o país, em especial Nairobi, onde manifestantes invadiram e incendiaram parcialmente o parlamento
O Quênia é um país da África Oriental de cerca de 52 milhões de habitantes. Conhecido pelos seus famosos parques de vida selvagem que atraem milhares de turistas de todo o mundo, o país é grande exportador de produtos agrícolas, entre eles chá, café , abacaxi, além de minérios, como ouro, trona e sal.
Nairobi é um grande centro comercial e porta de entrada para África Oriental e Central. Não por acaso o país foi integrado à Rota da Seda Chinesa, com investimentos de 3 bilhões dólares na construção da ferrovia que liga Nairobi ao Porto de Mombaça, substituindo aquelas centenas de caminhões mal cuidados nas difíceis estradas do país.
William Ruto, de 57 anos, assumiu a presidência em 2022,apresentando-se como anti-sistema, numa renhida disputa com Raila Odinga, apoiado pelo ex-presidente Kenyatta. Em seu programa Ruto comprometeu-se a implementar um novo modelo econômico de baixo para cima.Propunha severas mudanças econômicas para ajudar os mais pobres, além de respeitar a paridade de gênero na formação de governo.
A realidade foi que o presidente Ruto, herdeiro de uma dívida externa de 78 bilhões de dólares, que corresponde a 68% do Produto Interno Bruto, promoveu uma aproximação geopolítica com o Ocidente e após uma visita de Estado a Washington, recebeu a notícia de se tornar em parceiro não membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN.
Em casa, o novo queridinho de Joe Biden, parece ter esquecido dos quatro milhões de pessoas que passam fome e anunciou novos impostos e aumento dos já existentes na tristemente famosa Lei Financeira de 2024, da qual pretende arrecadar mais 2,7 bilhões de dólares anuais com intuito de fazer frente aos pagamentos dos juros da dívida externa.
Vale lembrar que em 2023, depois que os tribunais bloquearam algumas de suas propostas fiscais, o presidente ameaçou desconsiderar ordens judiciais. Isso atraiu críticas da Law Society of Kenya, cujo líder acusou Ruto de se ver acima da lei.
Diante disto, a população, principalmente os jovens, por meio das redes sociais, desde 18 de junho saiu às ruas em protestos por todo o país, em especial Nairobi, onde manifestantes invadiram e incendiaram parcialmente o parlamento. Em resposta, o governo iniciou uma forte repressão que já provocou até o momento 22 mortos, mais 200 presos, além de cerca de 50 pessoas sequestradas por homens armados em suas casas e locais de trabalho.De acordo com o Jornal Brasil De Fato, informações divulgadas por várias ONGs presentes no país, incluindo a Anistia Internacional.
Anteriormente, a ONG queniana Comissão de Direitos Humanos havia afirmado na rede social X que a polícia "atirou em quatro manifestantes, [...] matando um deles" em Nairóbi. Jornalistas da AFP presentes no local viram três corpos inertes no chão entre poças de sangue.
O texto da lei prevê a taxação de diversos artigos de necessidade básica para a população, como remédios e itens de alimentação, incluindo um imposto sobre valor agregado (IVA) de 16% sobre o pão e 2,5% sobre veículos automotores, além de aumentar alguns impostos existentes.
O movimento Occupy Parliament surgiu nas redes sociais após a apresentação, em 13 de junho, do projeto de orçamento. Após os protestos que tomaram as ruas da capital Nairobi, o governo recuou na última semana com a retirada de algumas medidas, mas o movimento exige a eliminação total do texto.
Segundo o periódico, manifestantes declararam "Ruto nunca cumpriu suas promessas [...] Estamos cansados. Que ele vá embora", declarou Stephanie Wangari, desempregada de 24 anos. Antes da terça-feira,24 de junho, outras duas pessoas haviam morrido em Nairobi durante os protestos e várias dezenas ficaram feridas.
Diante das dificuldades vividas pela população com o aumento do custo de vida, não há outro caminho que não a revolta!!!
Fonte:https://www.brasildefato.com.br/2024/06/25/repressao-a-manifestacoes-contra-aumento-de-impostos-no-quenia-deixa-ao-menos-5-mortos
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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